CRISTO NÃO DISSE QUE SERIA FÁCIL
Os desafios para implantar um serviço na Igreja Católica
À
minha esposa Cleide, a quem, com toda a legitimidade, os jovens chamam de mãe,
pois é uma grande mãe para todos nós, inclusive para mim. Sempre ao meu lado,
abraça os meus sonhos com tamanha entrega que os torna seus também. É o meu maior sustentáculo. Sem o seu apoio,
eu teria sucumbido cedo.
Aos nossos
familiares, que, nestes dez anos, muitas vezes, se viram privados do nosso convívio
para que pudéssemos empreender projeto tão importante para os jovens da nossa
paróquia.
SUMÁRIO
TEXTO PRINCIPAL
Prefácio
Apresentação
Introdução
Chegar
até aqui
Aqui
é o meu lugar
Os
jovens
Montando
o INOVAR
A
implementação
O
parto
A
um passo de chutar o pau da barraca
Abatidas
em pleno voo
A
pastoral familiar e o INOVAR
As
situações limites
Gaveta 1 – O pai assassinado
Gaveta 2 – Duas irmãs e um drama
Gaveta 3 – O pai que foi pro céu
O
combustível
Só
para os curiosos
Gaveta 1 – Oficial obedecendo a
minha esposa
Gaveta 2 – Salva por uma
dentista
Gaveta 3 – A neta e seu avô
Por
que ficar nesta Igreja?
Por
último
Post
scriptum
TEXTO PARALELO
Porque
trabalhar com os jovens é melhor
Ser
ou não ser padre, eis a questão
No
meio do caminho, o De Molay
A
questão do acolhimento
Anjos
e arcanjos
Missa
cheia, igreja vazia
A
Igreja de cada padre
Pastoral
da juventude ou juventude em pastoral?
Alta
taxa de mortalidade de grupos de jovens
A
questão do exemplo
Planejar
é preciso, o êxito não é preciso
A
soberba nossa de cada dia
O
fator persistência
Plano
“B”, planejar ou improvisar
A
missa de encerramento
Pequenina,
mirradinha e grande pessoa
Encontro
ou retiro
Para
quantos jovens
Cadê
a Casa Betânia que estava aqui?
A
cidade na palma da mão
Cobrar
ou não, taxa de inscrição
O
fator dinossauro
Segurando
os jovens no encontro
Avaliar
pra quê?
“Em”
ou “no” Cristo libertador
A
necessidade de atender namorados
Qual
idade batizar
Por
que saber doutrina da Igreja
Os
sacrifícios de cada sacramento
PREFÁCIO
Um maná para alimentar gerações
Carlos Dignez Aguilera
O desafio de prefaciar “Cristo não disse que seria fácil” me
honra, como jornalista e escritor, e me ilumina o espírito, como homem.
Honra, por dois motivos: primeiro, por se tratar, o autor,
Jonas Viana de Oliveira, de um personagem que admiro e por quem nutro um
respeito absoluto; segundo, pelo perfil da obra, que retrata, com coragem e
sabedoria, a luta para a implantação de um projeto vitorioso, o INOVAR, numa
empreitada desafiadora e extremamente importante para o universo que abrange,
além de incursões agudas por questões sensíveis no âmbito da Igreja Católica.
Ilumina o meu espírito, também, por dois motivos: primeiro,
por ter como um dos seus eixos principais uma verdadeira cruzada em defesa da
juventude, mais objetivamente quanto a profissão da sua fé e a sua participação
na vida da Igreja, mas, com um olhar perspicaz e generoso quanto a sua
preparação para o enfrentamento do viver; segundo, por propor, de forma serena,
responsável e corajosa, uma discussão importante sobre a postura das instâncias
diretivas da instituição e de como isso se reflete na conexão com a comunidade.
O livro trata de, principalmente, dois temas, que se
entrelaçam, tendo o jovem como elo, mas que têm personalidades vigorosas: a
mecânica do sofrido processo de implantação de um projeto, de relevância
social, e o papel da juventude no universo da Igreja católica. Ambos os temas
com variantes que conduzem o leitor por ambientes instigantes, como, por
exemplo, a questão postural no exercício do poder, com destaque para a
hierarquia da Igreja e para as reações comportamentais do ser humano diante das
vicissitudes que a vida impõe.
“Cristo não disse que seria fácil” trata-se de uma obra
literária mais do que necessária; imprescindível, inclusive como registro
técnico e histórico do INOVAR, um fato sócio religioso de suma importância para
a sua comunidade, tanto que rompeu as fronteiras locais e avançou na sua
abrangência.
A narrativa, por escolha do próprio autor, considerando o
jovem como o seu público alvo, é simples e objetiva, sem, no entanto,
comprometer o conteúdo. O texto caudaloso, fácil de ler e de compreender,
transmite a sua proposta de forma cumpridora, demonstrando, inclusive, um rico
repertório linguístico.
A abordagem, inteligente, prima pela decência e pela
generosidade, na medida em que, por exemplo, respeita e protege
individualidades, mesmo ao relatar os seus eventuais tropeços, enquanto destaca
e enaltece as atitudes positivas, por vezes próximas de heroicas, de alguns
agentes do processo de implantação do INOVAR.
Leve, porém sem abrir mão da profundidade dos mergulhos
incisivos, quando o tema pede, trata-se de uma obra corajosa, posto que não
falseia diante de assuntos delicados e, por vezes, incendiários. É uma
referência legítima e essencial para a continuidade do INOVAR, além de se
configurar em poderoso agente fomentador de reflexão, para os jovens,
principalmente, mas também para todos aqueles que falharam diante da proposta
do projeto, devendo, esses, tomar a provocação do autor à guisa de estímulo
para repensar as suas posturas e as suas atitudes, jamais o contrário.
Jonas se esmera como narrador, transitando com maestria e
extrema liberdade entre o micro, que são as minúcias do processo de implantação
do INOVAR, e o macro, que é a discussão sobre a doutrina, por exemplo.
Ao mesmo tempo em que questiona aspectos estruturais
embaraçosos, o autor impõe uma defesa inquebrantável do seguimento do
cristianismo por meio da Igreja Católica. “Quem é a Igreja e quem a possui? As respostas
para essas duas perguntinhas é apenas uma palavra: eu. Isso mesmo, para a
pergunta quem é a Igreja? A resposta é: eu. Eu sou a Igreja e sem mim ela não
vive e não existirá. À segunda pergunta: quem possui a Igreja? a resposta é:
eu. A igreja me pertence, então, eu, além de ser a Igreja, também a possuo.
Diante disso, então, se a Igreja sou eu e a Igreja é minha, qual a finalidade
de eu pensar em sair desta Igreja? Estaria eu deixando a mim mesmo?” - provoca
Jonas.
Em dados momentos do texto, nos deparamos com dois Jonas; o
executivo, responsável pela coordenação da implantação do INOVAR, e o fiel
católico, respeitando e acatando decisões das instâncias diretivas da Igreja,
ainda que, eventualmente, cônscio de que, apenas por disciplina, se vergava
diante de algumas atitudes que sempre entendeu estarem na contramão do ideal. Vale registrar, aqui, a falta de consciência
ou de compreensão, por parte da autoridade paroquial, no tocante a necessidade
da presença de um padre durante os três dias da edição de um INOVAR. Ora, o
projeto é resultado de mobilização da comunidade, cuja proposta é pavimentar um
caminho para a aproximação do jovem com a Igreja, no entanto, não sensibilizou
aqueles que têm o poder de decisão, para a importância da presença de um
sacerdote no andamento do evento. Quando se discute o afastamento da juventude
da igreja, há que se tomar, sim, como exemplo, isso que acontece no INOVAR,
pois a comunidade está lá, o jovem está lá, mas a igreja, na representação mais
emblemática do exercício da fé, que é a presença do padre, não está. O jovem,
quando sensibilizado, vai, sim, ao encontro da igreja. Agora, para que isso
frutifique mais fortemente, é preciso que a igreja vá, plenamente, ao seu
encontro.
“Eu quero que (os
jovens) se façam ouvir, também, nas dioceses, quero que saiam, quero que a
Igreja saia pelas estradas, quero que nos defendamos de tudo o que é
mundanismo, imobilismo, nos defendamos do que é comodidade, do que é
clericalismo, de tudo aquilo que é viver fechados em nós mesmos”, disse o
Papa Francisco, no Encontro com os Jovens Argentinos, na Catedral de São
Sebastião, em julho de 2013.
Na Santa Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude, no
Rio de Janeiro, o Santo Padre voltou a ressaltar a importância do jovem: “A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo,
da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do
Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas
dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens?
Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido por vocês!”
As manifestações do Sumo Pontífice acenam fortemente para a
premência da Igreja por iniciativas com o perfil e os objetivos do INOVAR. Há
que se perguntar, então, porque os esforços de abnegados, como Jonas e a sua
equipe de jovens, encontram tanta resistência de determinados setores.
Cristalino está que o inconformismo do autor, diante de tal quadro, é bastante
razoável.
A obra, além de retratar a imprescindível luta de todos os
que se envolveram na implantação do INOVAR, deixa mensagens sólidas e saudáveis
para os jovens, ensinamentos que podem ser cruciais no encaminhamento das suas
vidas.
Jonas demonstra, aqui, uma perfeita compreensão do complexo
perfil da Igreja, por exemplo quando a define como santa e pecadora. Não
existem duas igrejas; a igreja é una e é santa, porque foi criada por Jesus Cristo.
Em tal unicidade, no entanto, há algumas faces, uma delas, a pecadora. “Homens pecadores, mulheres pecadoras, sacerdotes
pecadores, bispos pecadores, cardeais pecadores, Papa pecador? Todos. Algum de
vós está aqui sem os próprios pecados?” – questionou o Papa Francisco, em
audiência geral na praça de São Pedro, completando – “Como pode ser santa uma igreja assim? A igreja não é santa pelos nossos
merecimentos, mas porque Cristo a tornou santa com a sua morte, na cruz... a
igreja é santa porque provém de Deus... mas o Senhor quer ouvir-nos dizendo:
Perdoai-me.. ajudai-me a caminhar... transformai o meu coração... e o Senhor
pode transformar os corações e nos ajudar... a santidade não consiste no fazer
coisas extraordinárias, mas no deixar Deus agir”.
Lutem pela nossa igreja, não a abandonem, jamais e por razão
nenhuma. Ajudem-na na sua santidade, é o brado que o autor faz transbordar
desta obra e que, junto com a equipe do INOVAR, vem fazendo transbordar a cada
edição do encontro.
Depreende-se do livro que o jovem precisa ter a igreja
dentro de si. Assim, ele será invencível na sua luta por tornar a Igreja jovem.
E, nesse aspecto, creio, o INOVAR é uma benção. Uma frase de João Paulo II pode
ser decisiva para tal reflexão: “A Igreja
só será jovem, quando o jovem for Igreja”.
“Cristo não disse que
seria fácil”, mas pode, sim, se tornar fácil, na exata medida em que todos
recolham desta obra a mensagem e a compreensão cristalina que o autor nos
oferece sobre a fé e sobre o papel do jovem na vida da Igreja.
Assim, humildemente, vos apresento “Cristo não disse que seria fácil”, uma obra que o autor consegue o
milagre de tecê-la simples, mas, ao mesmo tempo, preserva a sua profundidade,
cujo conteúdo, creio firmemente, é um maná para alimentar gerações.
"Serão vocês,
jovens, que recolherão a tocha das mãos dos seus antepassados e viverão no
mundo no momento das mais gigantescas transformações”
Papa Paulo VI
Carlos DIgnez Aguilera é
jornalista, poeta e escritor.
APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que apresento este trabalho a vocês,
mesmo àqueles que não acompanharam os desafios destes dez anos. Procurei
escrever um livro que possa interessar a todos, inclusive aos que nunca tiveram
contato com o INOVAR. Busquei uma forma bem acessível, procurando utilizar a
linguagem de todas as idades, que é a linguagem do jovem. Sempre achei que se
conseguirmos atingir os jovens com as nossas mensagens, todos serão atingidos.
Por isso, decidi pela linguagem mais coloquial dessa meninada, que sempre nos
chama para o seu meio.
Há, aqui, dois textos, graficamente diferenciados e
entrelaçados, para melhor visualização, na medida em que os seus segmentos se
completam, no sentido de ampliar a perspectiva de compreensão do tema.
O primeiro texto é uma sequência relativamente lógica do tema,
retratando, de uma forma mais ou menos cronológica, alguns desafios que
enfrentamos nestes dez anos para vermos implementado o projeto que sonhávamos.
Esse texto, para efeito de sumarização, foi chamado de “texto principal”.
O segundo texto se desenvolveu de forma aleatória. Conforme
o livro foi ganhando corpo, se impôs a necessidade de discutir algumas ideias e
fatos que pudessem explicitar alguns dos conceitos apresentados no texto
principal ou de explicar porque se tomou uma determinada decisão, em detrimento
de outras. Esse foi chamado, no sumário, de “texto paralelo”.
Lendo somente o texto principal, o leitor estará em contato com
a proposta deste livro. Lendo a ambos, encontrará no texto paralelo um
importante substrato, principalmente com opiniões pessoais, que ampliará a
perspectiva do tema. O paralelo não é uma sequência e, portanto, são textos
soltos, que surgem sem que haja, necessariamente, conexão, uns com os outros.
Espero que todos tenham uma boa leitura e que, no capítulo
final, possamos nos encontrar mais atentos, mais alertas e, principalmente, com
um olhar mais amplo e sólido sobre o tema, afinal, Cristo não disse que seria
fácil.
INTRODUÇÃO
A decisão de escrever este livro se impôs a partir de uma
necessidade pessoal, minha, de tentar contribuir, mostrando às pessoas que a
nossa Igreja tem muitos defeitos, mas tendo, sempre, por principal diretriz,
que ela é a nossa Igreja e, portanto, temos o compromisso de lutar por ela.
Cansei de saber, e até de testemunhar, casos de pessoas que se diziam
católicas, mas que abandonaram a Igreja em razão de obstáculos enfrentados,
aqui, para o seguimento do cristianismo. Alguns passaram a frequentar outras
paróquias, outros migraram para propostas alternativas, se tornando “evangélicos”,
com todos os dissabores inerentes a quem abandona a sua religião ou a sua Igreja.
Então, vi a necessidade de mostrar que, independente da
posição das pessoas que causam esta vontade de abandonar o seguimento, ninguém,
mas ninguém mesmo, é importante o suficiente para nos fazer sair da Igreja
criada por Cristo e erguida pelos seus apóstolos e discípulos. Lembrando, sempre,
de duas coisas muito importantes: Primeiro, a Igreja somos nós, ou seja; cada
um e todos nós somos a própria Igreja e se a deixarmos estaremos abandonando a
nós mesmos. Segundo, a “igreja é santa e pecadora”. Vale dizer; é santa porque
foi fundada por Jesus Cristo e é pecadora porque é tocada pelos homens. Os
homens pecam e Deus o sabe. Se Ele nos quisesse perfeitos, não nos teria feito
humanos.
Talvez o contato com a verbalização de muitos leigos, que
atuam nas Igrejas Católicas de todo o mundo, tenha me impulsionado a decidir narrar
um pouco dos obstáculos que enfrentei para implantar, na minha paróquia, um
serviço que, atualmente, já rompeu a barreira paroquial e atinge não só toda a
nossa cidade, como também jovens de outros municípios e estados, que já nos
honram com a sua participação.
Claro que estou narrando, aqui, os casos que vivenciei na
minha paróquia, mas, com certeza, a narrativa deve refletir um quadro idêntico ao
de muitas, senão de todas, paróquias da nossa querida Igreja Católica
Apostólica Romana. O que me conforta, e ao mesmo tempo me inquieta, é que,
pelos contatos que tenho com pessoas que exercem a sua fé em outras
denominações cristãs e que revelam os problemas que enfrentam, percebo que não
é só a nossa Igreja que sofre com este fenômeno.
Narrei muitas situações e não foi possível descrevê-las sem
narrar os acontecimentos que as geraram. Logo, muitas pessoas vão se reconhecer
nos fatos narrados aqui. Apesar de não
citar nomes, em nenhum momento, as pessoas que viveram cada situação saberão
que é delas que estou falando. Não houve outro jeito. Como procurei ser o mais
fiel que pude aos fatos, é possível que alguns deles se mostrem mais
desfavoráveis para esse ou aquele personagem, mas, nada é pessoal. Jamais
narrei um fato de forma diferente do que aconteceu. Em alguns casos, foi
necessário atribuir um valor à atitude da pessoa envolvida, senão a narrativa
não se completaria. Peço desculpas a quem por ventura se sentir ofendido,
esperando que entendam que não é esse o objetivo.
É necessário, também, considerar que as pessoas envolvidas nos
fatos narrados eram muito jovens, à época das ocorrências. Naturalmente,
cresceram e amadureceram, inclusive alguns se tornaram profissionais
respeitados e aquelas ocorrências, às vezes desfavoráveis, foram importantes
para ajudá-los no seu processo de transformação. Hoje, a maioria deles, que me
ajudaram com os seus erros e acertos, se tornaram meus amigos inseparáveis.
Alguns frequentam a minha casa e existe um respeito mútuo entre nós, que espero
nunca se acabar. É preciso deixar claro que tudo foi um processo de um sonho,
que ainda está em construção, e que, durante qualquer processo, se cometem
erros e acertos. Os erros devem servir para corrigir trajetórias e os acertos
para lubrificar a máquina a fim de que não deixe de funcionar da maneira
correta.
Espero que esse livro atinja o seu objetivo, pois foi
escrito com o intuito de contribuir, mesmo de forma modesta, com a construção
do reino de Deus, mostrando que lutar pela nossa Igreja sempre vale a pena.
CHEGAR ATÉ AQUI
Na minha caminhada religiosa frequentei duas igrejas
cristãs. Primeiro, a Assembleia de Deus, que é a Igreja dos meus pais e que,
por óbvio, foi para onde me levaram durante a minha infância. Esse acompanhar
dos meus pais durou até os meus oito anos de idade, quando consegui minha
primeira ocupação fora da minha casa, num emprego formal, em que era necessário
estar presente, diariamente, e, claro, ao final do mês, recebia um salário.
Antes disso, desde a minha mais tenra infância, sempre ajudei os meus pais,
sobretudo na lavoura, mas considero como emprego informal, já que o chefe era o
meu próprio pai e, por mais que um menino de cinco, seis ou sete anos possa
pegar uma enxada e carpir uma plantação, é apenas um serviço, na medida em que
serve diretamente aos interesses da família, mas não chega a ser um emprego.
Não pelo ponto de vista da criança. Até porque, nem salário tinha.
Mas, aos oito anos, tive a tal oportunidade de conseguir um
emprego que proporcionava receber, mensalmente, uma quantia em dinheiro, que
nem me lembro o quanto era, mas que já servia para comprar alguma coisa para
mim ou para a minha família. Recordo que, ao receber o primeiro pagamento,
comprei um Conga branco. Quem é daquela época sabe o que é um Conga. Foi a
primeira vez que calcei alguma coisa diferente de chinelos ou de um ou outro
alpargata, ganhado de alguma pessoa bondosa. Alpargata hoje é cult, mas, à época, era o calçado mais
acessível que alguém poderia ter. Quando alguma alma bondosa nos doava algum
usado, era o suficiente até para a gente dormir com aquela lindeza nos pés.
Deixávamos o presente para as situações especiais, como ir aos cultos da
Assembleia de Deus.
Esse emprego, então, numa casa de família, me proporcionou
coisas por mim desconhecidas, como comer carne na maioria dos dias da semana.
Isso era o máximo. Imaginem eu, então, com a possibilidade de andar calçado com
alguma coisa diferente de chinelo e de alpargata velho e, ainda, podendo comer
carne na maioria dos dias.
Assim, foi nesta época que deixei de frequentar a Igreja dos
meus pais, seja pela falta de insistência deles, seja pela minha pouca vontade
de fazê-lo. A partir de então, segui a minha vida sem a preocupação de ter uma
religião. Aliás, não tinha religião mesmo.
Como a Igreja dos meus pais, doutrinariamente, não batiza
crianças com menos de doze anos, preferindo batizar as pessoas já adultas, não
fui batizado até o momento em que abandonei o seguimento da Igreja da minha
família. Como não batizado, eu era não cristão. Simples assim, já que é o
batismo que torna a pessoa cristã, seja qual for a denominação da Igreja que
frequenta.
Segui, portanto, sem religião e sem frequentar qualquer
Igreja, pois os meus pais não conseguiram continuar me levando para a sua e eu
não tinha interesse de frequentar a Igreja deles ou qualquer outra. Assim,
segui por aí, até que aconteceu um fato que marcou e mudou a minha vida e os meus
conceitos sobre religião, para sempre.
A cidade onde morava tinha, na época, como padroeira Nossa
Senhora da Conceição. O dia desta Santa, oito de dezembro, coincidia com a data
de fundação da cidade e foi declarado feriado pela municipalidade. Na véspera
deste feriado, a todo ano, acontecia na cidade um carnaval fora de época. Que
saudade me dá deste evento. Uma nota, à margem do tema, merece destaque: Foi
num desses carnavais fora de época que conheci aquela que seria a minha
primeira namorada, que se tornaria a minha esposa e que, há mais de quarenta
anos, vive comigo, sendo a mãe dos meus filhos, a avó dos meus netos e que deverá
ser a pessoa que estará chorando ao lado do meu caixão, ou que estarei eu chorando
ao lado do dela, quando Deus nos chamar. Bendito carnaval fora de época. Pois
foi, também num desses carnavais, que aconteceu o fato determinante para eu
deixar da minha vida de sem religião.
Por volta das três horas da madrugada, carnaval comendo
solto, surge uma notícia no salão, que logo se espalha como quando se coloca
fogo num rastilho de pólvora: estava no bar do clube, onde se realizava o
carnaval, um padre, recém-chegado à cidade, tomando cachaça. Isso mesmo!
Acabara de chegar um padre à cidade e ele estava, ali, no boteco do clube,
tomando pinga. Corria o ano setenta do século passado. Imaginem o rebuliço que
isso causou no salão. Não tardou muito e o padre estava cercado de jovens curiosos
por saber de onde aparecera aquele lunático, que se dizia sacerdote da Igreja
Católica. Apesar de o carnaval fora de época ser frequentado principalmente por
jovens, vários adultos também estavam presentes, pois era um evento que estava
se tornando tradicional na cidade. Entretanto, não se sabe o porquê, ao redor
daquele padre, naquele momento, estava um público majoritariamente jovem.
Parece que a novidade não foi considerada muito exótica pelos adultos, ou estes
aproveitaram que o salão esvaziou-se de jovens para dançarem mais à vontade,
pois, apenas os jovens se sentiram atraídos por aquele sacerdote. Desnecessário
narrar o frisson que aquela presença
nos causou. Ficamos todos muito impressionados com aquela pessoa, ali, nos
convidando a participar de alguma atividade da Igreja. Em outras palavras,
estava diante de nós um pescador de jovens.
Esse acontecimento se deu em sete de dezembro de setenta, uma
segunda-feira. Consta que na missa matinal do domingo seguinte, dia treze, havia
um número maior de jovens do que o habitual, vários deles oriundos daquele
encontro do padre com o pessoal no clube, onde se realizava o carnaval fora de
época que precedia os festejos da padroeira da cidade. Bom que se diga que o
baile não era promovido pela Igreja. Era uma promoção do próprio clube do
município.
Apesar de eu estar presente àquele encontro com o padre no
clube, não fui um dos que foram à missa no domingo seguinte. Entretanto, aquele
encontro não saiu mais da minha cabeça. Até hoje, ainda sou movido por aquela
figura exótica, ali, plantada no meio de um contingente enorme de jovens, em
pleno baile de carnaval, nos lançando desafios enormes no campo religioso.
Detalhe: nem português correto ele falava. Era um padre de um instituto de
missões estrangeiras, recém-chegado da Itália, com as dificuldades naturais de
um estrangeiro quando chega a um país desconhecido. Nem isso o fez se comunicar
menos conosco.
Seguiu-se o curso, o ano seguinte chegou e fui envolvido por
diversos amigos que também estavam no clube naquele dia e que iniciaram de
imediato a sua participação nas coisas da Igreja. Envolvi-me de tal modo neste
emaranhado que no natal de setenta e um eu já era batizado na Igreja Católica
Apostólica Romana, na missa do galo, cuja celebração da liturgia foi feita pelo
vigário da cidade e o meu batizado feito por aquele padre que nos encontrou no
carnaval.
O batizado foi, como não poderia deixar de ser, apenas a
porta de entrada. Tive o privilégio de ser conduzido, nos meus primeiros passos
na minha Igreja, por uma pessoa que de tão íntegra, parecia uma vestal; de tão
justa, parecia um tribunal celestial; de tão crente, parecia a própria fé. Esse
padre, o mesmo que estava lá, naquele carnaval, até hoje me dá um apoio
imprescindível para meu seguimento do cristianismo. Por sinal, foi o mesmo que
presenciou o início do meu namoro com a minha esposa e o mesmo que veio
celebrar a missa quando eu e ela completamos quarenta anos de casados, em
janeiro de dois mil e dezesseis.
Talvez pela pescaria que presenciei naquela ocasião, lá no
clube, eu tenha trabalhado, até hoje, na minha Igreja, preferencialmente com
jovens, apesar de, aqui e ali, também ter atuado com adultos. Mas, trabalhar
com os jovens sempre me deu mais satisfação.
POR QUE
TRABALHAR COM
JOVENS É
MELHOR
Trabalhar com os jovens é muito melhor do que
trabalhar com os adultos, por um motivo simples: a sinceridade. O jovem é mais
sincero do que o adulto para se trabalhar na Igreja. Quando o jovem não
concorda com determinada coisa, ele chega e fala, “na lata”, e, mesmo que
abandone a caminhada, você sempre saberá porque o jovem a abandonou.
Diferentemente, o adulto, quando não gosta de alguma coisa, abandona a caminhada,
quase sempre sem que a gente saiba a motivação. Portanto, o jovem é mais
transparente, por sua espontaneidade.
Aquela pescaria me levou a trabalhar também como “pescador
de jovens” e, dentro desse escopo, aceitei o convite daquele padre do baile, para
ser chefe de escoteiros de um grupo que ele estava iniciando na cidade,
vinculado à nossa Igreja.
Sabemos que, apesar de o escotismo não possuir uma religião
oficial, prega uma certa espiritualidade, que é atingida mais facilmente quando
se está vinculado a uma crença ou a uma religião. Por isso, a direção do
escotismo até incentiva a formação de grupos vinculados às Igrejas. Assim, foi
que se abriu a porta de entrada para eu trabalhar com os jovens, no âmbito da
Igreja Católica, por meio do escotismo.
O tempo correu. No ano seguinte ao meu batizado, participei
pela primeira vez de um encontro de jovens realizado por aquele mesmo padre do
baile. Esse encontro foi um divisor de águas na minha vida. Mexeu definitivamente
com a minha percepção da religião. Diria mesmo que foi mais do que um encontro,
foi uma trombada que tive com Jesus Cristo. Dali para a frente, nunca mais pude
imaginar a minha vida sem a presença de Cristo, o nosso amigão, como o
chamávamos. Nas horas de angústia é ao grande amigo que a gente recorre e tudo
se resolve.
SER OU NÃO
SER PADRE,
EIS A
QUESTÃO.
Mais ou menos na mesma época em que dei a “trombada”
com Cristo, que mudou a minha vida, iniciei o relacionamento com a minha primeira
namorada, que se tornou a primeira noiva, que se tornou a primeira esposa e fui
tocando a vida. Ah, é bom falar que ela se tornou a primeira companheira, a
primeira cúmplice, a primeira avó dos meus netos e, confio e tenho fé, será a única
namorada, a única esposa, a única companheira, a única cúmplice e a única avó
dos meus netos. Mas, quando o namoro começou, estava tão absolutamente convencido
de que minha vida jamais seria apartada de Cristo, que considerei efetivamente
a possibilidade de me dedicar ao sacerdócio. Isso mesmo, cheguei a conversar seriamente
com a minha namorada sobre a possibilidade de eu vir a ser padre. Não sei o que
me levou a desistir da ideia, mas desisti, e, sinceramente, acho que foi a
melhor decisão que tomei na vida. Não sei se teria vivido com a mesma
intensidade o sacerdócio como vivo o matrimônio. Hoje, acho que a minha vocação
era mesmo para o sacramento do matrimônio e não para o sacramento da ordem.
O início do namoro foi assistido por aquele
padre que apareceu no baile. Aliás, ele era diametralmente contrário àquele relacionamento.
Eu, um jovem com dezessete anos, ela, uma criança que ainda não completara
quatorze. “Vocês são muito novos, vão se machucar”, dizia aquele santo padre.
Apesar de ele ser contrário, não havia força no mundo que nos afastasse dele.
Ao contrário, durante toda a vida, até hoje, cada dia que passa, vemos o quanto
a nossa vida é melhor por termos nos aproximado daquele homem. O tempo provou
que ele estava errado. Não nos machucamos e faz quase cinquenta anos que esse
namoro dá certo.
Mudei de cidade, casei e vieram os filhos. Quando os filhos
nasceram, tomei uma decisão e convenci a minha esposa a aceitar o que, com
certeza, não decidiria hoje, depois de entender bem mais sobre as coisas da
minha religião: Entendi, à época, que deveria deixar meus filhos sem serem
batizados, pois se fizesse o contrário, estaria impondo-lhes uma religião desde
o início de suas vidas. Assim, com tal argumento, foi que convenci a minha
esposa a aceitar o meu pensamento. Para mim, isso era a liberdade levada às
últimas consequências, já que seriam os meus filhos que iriam decidir a qual
religião seguiriam.
Antes que o meu primeiro filho completasse dois anos de
idade, nos afastamos um pouco das coisas da nossa Igreja. A desculpa foi a
dificuldade para participar das atividades pastorais, por estarmos, à época, vivendo
numa cidade muito grande. Trabalhando a semana inteira, os finais de semana
deveriam ser aproveitados para outras coisas. Era assim que eu me escudava para
não participar, durante algum tempo, das coisas da nossa Igreja.
Nasceu o segundo filho. Mantive o mesmo posicionamento:
ficou sem o batismo. Mas, eles cresceram e, um belo dia, os dois decidiram que
queriam ser batizados. Escolheram, cada um deles, os próprios padrinhos e o
batizado aconteceu quando o mais velho tinha treze anos e o mais novo quase
onze.
Os filhos foram crescendo e nunca os deixei faltar à escola,
tampouco os fazia faltar à aula por causa de compromissos que pudéssemos
assumir. Só assumíamos aquilo que não envolvesse sacrificar as aulas dos
filhos. Um belo dia, meu filho mais velho me propôs participar de um encontro
de jovens, mas, para isso, teria que faltar a uma aula, no sábado, já que o encontro
começava na sexta-feira, à tarde, e só terminaria no domingo, à noite. Meu filho
não entendeu direito porque eu concordei, de pronto, que ele fizesse o
encontro, embora faltasse à aula do sábado. Somente quando terminou, depois que
ele sentiu a mesma coisa que eu havia sentido, vinte anos antes, eu lhe contei
porque o permiti.
Esse encontro serviu como porta de entrada para os meus dois
filhos começarem a participar das coisas da minha Igreja, já que o mais novo
seguiu o mesmo caminho do mais velho. Logo, os dois estavam envolvidos com o grupo
de jovens da Igreja Católica e passaram a fazer parte da equipe que conduzia
aquele movimento. Uma das atividades desses jovens era um encontro que se
realizava uma vez por ano. Era uma equipe de mais ou menos quinze jovens, responsáveis
por conduzir o movimento e realizar o encontro anual. Meus filhos envolvidos,
sobretudo o mais novo, acabaram me levando, junto com a minha esposa, de volta
a participar das coisas da minha Igreja, de novo com os jovens, graças a Deus.
A participação dos adultos só era solicitada durante os
encontros anuais, já que as outras atividades os jovens as conduziam com a
competência que sempre demonstraram. Entretanto, durante o encontro, os jovens
necessitavam de gente para cozinhar, para dirigir ou para exercer algumas
atividades próprias de adultos. Desta forma, nós, os pais de vários daqueles
jovens que participavam da equipe de dirigentes, sempre nos colocávamos à
disposição para servirmos da forma que eles quisessem. Lembro-me de que, algumas
vezes, algum jovem chegava para mim e dizia: “tio Jonas, um palestrante vai
faltar, será que você pode dar uma palestra aos jovens mais tarde”. Lá ia eu me
preparar para dar uma palestra sobre o assunto programado, às vezes sem ter
muito tempo para tal preparação, mas passava na capela, me entregava para o Chefe
e pedia para Ele transmitir a mensagem que aqueles jovens estivessem
precisando. Sempre dava certo, pois como sempre digo: o patrão é muito bom.
Noutras vezes, vinha algum jovem pedindo: “tio Jonas, você pode ir buscar um
botijão de gás”. Lá ia eu atrás de um botijão de gás para atender os meninos.
Ou seja, estávamos ali para resolver qualquer problema. E éramos acionados com
muita frequência. A convivência minha com os jovens, neste período, só reforçou
a ideia de que eu era vocacionado para trabalhar com eles.
NO MEIO DO CAMINHO; O DeMolay.
Sempre
recebi convites para me integrar à maçonaria, mas sempre declinei deles. Nunca
aceitei os convites por conveniências pessoais, jamais por ser contra a
maçonaria, embora nossa Igreja Católica seja oficialmente contrária a essa
sociedade, que alguns chamam de ordem. Portanto, a minha recusa em aceitar os
convites para me tornar maçom, tem mais a ver com a disponibilidade de
convivência familiar do que com qualquer posicionamento contrário.
Certa
feita, meu filho mais velho chegou com a novidade de que alguém o teria
convidado para frequentar a Ordem DeMolay. Quem o convidou, por sinal, foi uma
pessoa com a qual eu trabalhava. O filho mais velho entrou para a Ordem e levou
o filho mais novo também.
Não
sei se todos sabem o que são os DeMolays, mas, numa explicação bem simplista,
pode-se dizer que se trata de um grupo de jovens formado dentro da maçonaria, acompanhado
pelos maçons, que procura transmitir a seus participantes alguns valores muito
caros à humanidade. Esses valores são resumidos nas sete virtudes cardeais que são
pedidas para os DeMolays seguirem: Amor filial; Reverência pelas coisas
sagradas; Cortesia; Companheirismo; Fidelidade; Pureza e Patriotismo.
A
participação dos meus filhos naquele grupo de jovens da Igreja Católica e na Ordem
DeMolay foi determinante na formação deles. Hoje, os vejo praticarem atos tão
edificantes que seria impossível apenas a família os ter transmitido, por mais
que nos esforçássemos.
Seguiu o barco. Mudei de estado e cheguei aqui, há mais ou
menos vinte anos, onde continuei a participar das coisas da minha Igreja.
Começamos a participar da Pastoral Familiar, sobretudo a minha esposa, com mais
intensidade, já que decidi fazer um segundo curso superior, nesta mesma época.
Terminado o curso, me alinhei com mais afinco à minha esposa e, com todas as
forças, me lancei a participar das atividades pastorais, especialmente
incentivado por outro padre italiano que dava dignidade para a nossa
participação nas funções leigas da Igreja. Até que, em dois mil e oito, surgiu
o INOVAR.
AQUI É O MEU LUGAR
Em pleno inverno amazônico, cheguei por estas bandas
precisando conquistar a tudo e a todos. Sem ter uma residência para morar, fui parar,
com a minha esposa, em um hotel, onde residimos, durante um mês, e iniciamos as
nossas conquistas em solo nortista. Tudo muito estranho, tudo novo, tudo
diferente. Mas uma coisa percebia no ar: as pessoas daqui eram muito
acolhedoras. Deve ser pelo fato de serem, em sua maioria, forasteiros como eu o
era. Creio que isso levava todos a entender o que as pessoas recém-chegadas
tinham necessidade de encontrar. Com isso, minha chegada aqui foi menos ruim do
que imaginava.
A QUESTÃO DO
ACOLHIMENTO
Durante o primeiro mês em que moramos no hotel,
frequentamos uma Igreja próxima e fomos muito bem recebidos na primeira vez em que
participamos de uma celebração, ali. Aliás, quando eu e minha esposa fomos à
missa, pela primeira vez, naquela Igreja, lembro-me, ainda, que a celebração
era presidida por um Diácono. Ao final da missa fomos chamados lá na frente e
todos cantaram uma canção para nós, como boas vindas. Isso me impressionou
muito. Tanto que, quando, já tendo deixado o hotel, tivemos que começar a
participar da paróquia da nossa região, ficamos bastante tristes por não
participar mais daquela primeira paróquia.
Hoje, quando sou escalado para ser animador de
uma missa, relembrando o quanto aquele gesto me deixou à vontade, convido as
pessoas que estão nos visitando pela primeira vez para ficarem em pé e faço uma
saudação especial pedindo uma salva de palmas para eles. Neste momento, a minha
vontade é abraçar cada um daqueles que nos visitam pela primeira vez, mas como
não é possível, fico só no pedido de palmas. Algumas pessoas comentam,
jocosamente, que é a hora do mico, mas somente quem está chegando, pela
primeira vez, em um lugar estranho, sabe o quanto uma acolhida dessas faz bem.
Passado aquele mês, adquirimos uma residência que, sem
muitos recursos para reformar, demos uma arrumadinha básica e nos instalamos.
Havíamos trazidos apenas as roupas, um micro-ondas, alguns pratos e alguns
talheres. Durante um bom tempo ficamos dormindo em um colchão jogado no chão e,
nos dois anos seguintes, fomos montando a casa com o mínimo necessário para uma
família morar. No início do ano seguinte, nosso filho mais novo veio morar
conosco e também dormiu no colchão por algum tempo. Mas, felizmente, tudo se
ajeitou. O filho mais velho se formou lá no sul e veio morar com a gente,
também, mas, quando isso aconteceu, já tínhamos até quarto montado para os
dois.
ANJOS E ARCANJOS
Falei que adquirimos uma
residência, mas na verdade não foi bem assim. Um casal que já admirávamos,
desde quando a gente namorava, reapareceu como um par de anjos em nossas vidas
e resolveu a questão de moradia no novo estado. Trata-se de um casal de primos
da minha esposa que sempre serviram como ideal a ser seguido.
Ocorre que a vida nos
separou, nos mandando, cada casal, para pontos cardeais opostos do país. Mas,
quando o destino decidiu nos juntar novamente, no mesmo ponto cardeal, aquele
casal possuía um apartamento na mesma cidade em que iríamos residir e este imóvel
acabara de ser devolvido pela empresa que o alugava, entregando-o em condição deplorável,
depois de um contrato cumprido de forma tumultuada e instável. Como o imóvel
ficava na capital e o casal de anjos morava no interior, era difícil o
acompanhamento das condições do imóvel.
Neste cenário, chegamos
por aqui necessitando de um lugar para morar. Aquele casal, imediatamente, nos
disponibilizou o apartamento e nós ficamos de pensar. Não aceitamos, de pronto,
porque na nossa cabeça parecia que estávamos explorando aquelas pessoas que
tanto admirávamos.
Nos primeiros dias, aqui, no
novo Estado, estávamos sempre em contato com aquele casal, já que era uma das
únicas referências que tínhamos por essas bandas. Durante essa convivência eles
foram minando a nossa resistência e, depois de alguns dias, decidimos aceitar
entrar no apartamento deles, pois, além de tudo, era um apartamento que, embora
necessitasse de um trato, tinha melhor estrutura do que a maioria dos que encontramos
na cidade.
Aceitamos, então, morar no
apartamento daquele casal de anjos. Para nos convencer, diziam que se a gente
não aceitasse eles não saberiam o que fazer com o imóvel, pois era financiado e
a prestação estava vencendo, as próximas iriam vencer e, sem ocupá-lo, o
prejuízo seria muito grande. Lógico que eles falavam aquilo muito mais para nos
convencer a aceitar do que por outro motivo.
Claro que não tínhamos
dinheiro para comprar aquele apartamento, pois seria necessário dar como
entrada o valor que eles já haviam pago. Não se pode perder de vista que viemos
para recomeçar, sem nenhum recurso. Mas aquele casal, como disse, era composto
de anjos. Quando o marido nos entregou a chave, nos disse: “entra lá, continue
pagando as prestações e depois a gente vê o que faz”. Foi assim que adquirimos
a nossa residência na nova terra.
Com o passar do tempo,
quando a situação deu uma refrescada, pagamos algum valor pelo ágio daquele
apartamento, mas, ainda assim, foi um valor muito camarada.
Logo que mudamos para o novo endereço começamos a frequentar
a paróquia da nossa região. Todos os domingos ia à missa e seguia minha vida de
católico “praticante”. Nosso pároco, à época, detestava esta expressão, pois,
dizia ele; não existe católico "não praticante”. A pessoa só é católica
quando pratica a religião, se não pratica não é católica, logo, ou se pratica e
é católico ou não se pratica e não é católico. Mas para mim, uso esta expressão
como significado daquelas pessoas que vão às missas aos domingos e,
eventualmente, participam de uma ou de outra festa da paróquia. Mas, a nossa
Igreja não vive somente disso. O que faz a nossa Igreja seguir em frente são as
pessoas que tomam em suas mãos as atividades pastorais. Estes são, para mim, os
católicos engajados. Aqueles que fazem a nossa Igreja pulsar forte. Aliás,
nossa Igreja chegou até aqui por causa das pastorais, dos movimentos e dos serviços.
Essa é a Igreja do dia-a-dia, o resto é festa, que é importante, também, mas que,
sem ela, a Igreja sobrevive.
MISSA CHEIA, IGREJA VAZIA.
Nesses
dois mil anos de cristianismo, o mundo conheceu vários períodos em que as
festas na Igreja foram bem escassas, mas esses períodos foram muito profícuos
para o cristianismo, sobretudo para o catolicismo. Isso aconteceu sempre porque
os cristãos podiam até gostar de festas, entretanto gostavam mais das
atividades pastorais. Por isso, é muito triste quando a gente vê a igreja cheia
nas missas e vazias nas pastorais.
Entretanto, neste início, sem conhecer ninguém, frequentava
a paróquia sem me envolver com as coisas pastorais. Um belo dia o pároco olhou
aquele casal que estava ali, todos os domingos, e fez o convite para que começássemos
a participar com mais afinco nas atividades paroquiais. Assim, apareceu mais um
padre italiano em minha vida, o qual tive o privilégio de conhecer e me orgulho
de tê-lo tido como pároco. Este também, como aquele lá da minha adolescência,
marcou profundamente a minha vida religiosa. Esse padre faleceu em oito de
outubro de dois mil e dezesseis, na Itália, e me fez órfão de novo.
Depois do convite do padre para participar das coisas da
paróquia, minha esposa lançou-se de cabeça nestas atividades e eu fiquei só
apoiando a sua participação e a acompanhando em algumas ações. Lembro-me de que,
quando ela foi convidada para ser Ministra Extraordinária da Eucaristia, fiz
toda a preparação junto com ela, na condição de ouvinte. Entretanto, não foi possível
a minha participação mais intensa, pois, à época, eu fazia um curso superior de
Direito. Terminado o curso de Direito, voltei todas as minhas forças para
participar das questões pastorais da minha Igreja, iniciando por fazer parte da
Pastoral Familiar, onde, até hoje, estou envolvido até o pescoço.
A IGREJA DE
CADA PADRE
Foi na Pastoral Familiar que tive a
oportunidade de conhecer mais de perto todos os párocos que passaram por aqui
nas últimas duas décadas. E sobre esse
conhecimento, gostaria de deixar registrada a observação que fiz durante esses
anos que tenho participado das coisas da minha Igreja.
O fato de eu conhecer um pouco mais de perto os
párocos que passaram pela minha paróquia, nos últimos anos, me fez chegar à
conclusão de que se a nossa Igreja Católica não tivesse uma doutrina que deitou
raízes nesses últimos vinte séculos, com certeza, já teria sucumbido aos maus
tratos que lhes impõem vários de seus membros, sobretudo muitos daqueles
encarregados de fazê-la viva e atuante. Chego a essa conclusão porque cada
pároco que assume a administração de uma paróquia aplica o seu entendimento do
que é a Igreja Católica, fazendo uma Igreja diferente em cada paróquia. Com
isso a Igreja que deveria ser una, passa a ser a igreja de determinado padre.
Não por acaso, vários fiéis deixam as suas paróquias quando são trocados os
párocos.
É ruim isso? Nem sempre. Mas, é frustrante
perceber que alguns párocos se esquecem das funções espirituais da Igreja e se
preocupam apenas com as questões seculares. A alegação dos párocos que agem
desta forma é que é necessário administrar bem o patrimônio da igreja. Ninguém
discorda disso. Mas, administrador de bens se encontra aos borbotões em
qualquer paróquia, já pastor, daqueles que cuidam efetivamente de suas ovelhas,
é raro. Aliás, vivemos reclamando da falta de padres, já que novas vocações
quase que desapareceram. Então, se os párocos se preocupassem com as almas e
deixassem a administração dos bens para os leigos, estar-se-ia seguindo um
caminho melhor para o bem da nossa Igreja, pois o tempo que os padres gastam
administrando as suas paróquias, seria dedicado a tratar das almas. E os
párocos deixariam de se preocupar com o patrimônio da igreja? Claro que não.
Até porque são eles os responsáveis por cuidar dos bens materiais da igreja.
Mas isso é possível fazer delegando a pessoas escolhidas para isso e exercendo uma
fiscalização amiúde. É desolador ver padres fazendo capacitação para
administrar bens e não fazendo capacitação para atender as pessoas.
Mesmo na questão espiritual, cada pároco dá à
sua paróquia a cara que entende ser a da Igreja Católica. São posicionamentos
importantes que os párocos tomam em relação a vários assuntos relacionados à
prática da nossa Religião que, ao final, fazem toda a diferença. São esses
posicionamentos, por exemplo, que fazem a gente ver que uma missa é diferente
da outra, pois, embora o rito seja o mesmo, algumas missas têm elementos que
outras não têm. Em algumas celebrações não se permite cantar o sacramental
sinal da cruz, por não ser litúrgico. Noutras, é permitido, entretanto com
algumas restrições. Já presenciamos, por exemplo, párocos que não permitiam que
o canto do sinal da cruz contivesse a repetição, outros que proibiam o canto
quando a fórmula era “em nome do pai e do filho e do espírito santo”, pois esta
fórmula denotaria três pessoas diferentes e na santíssima trindade, embora
trindade seja uma, o conectivo “e” faz toda a diferença, enquanto a fórmula “em
nome do pai, do filho, do espírito santo”, não se estaria deixando subentendido
três pessoas. Isso é posicionamento que pode ter raízes históricas ou
teológicas ou mesmo falta de um conhecimento mais profundo do pároco. Mas,
outras diferenças podem ser percebidas entre um e outro responsável pela
paróquia.
A Pastoral Familiar da nossa paróquia sempre
disponibilizou aos fiéis o que se convencionou chamar de Casamento Comunitário,
que nada mais é do que oferecer a possibilidade para que as pessoas que vivem
maritalmente, sem receber o sacramento do matrimônio, regularizem a sua
situação. Esses casamentos acontecem uma ou duas vezes ao ano, dependendo da
demanda. Um dos párocos que passaram por aqui, nunca fez questão de que os
casais apresentassem um par de alianças para receber o sacramento do matrimônio.
Alegava ele, até jocosamente, que muitos casais tinham alianças nos dedos e
chifres nas cabeças. Era a sua maneira de justificar a não necessidade de um
par de alianças para se receber um sacramento. Numa das trocas de párocos, o
entrante decretou: “sem aliança não se faz casamento”. Alegava ele: como se
pode benzer as alianças, se elas não estão presentes? De novo, deficiência na
formação do padre, pois ao invés de benzer a aliança, o pároco parecia querer
benzer a joia, ou, por outro lado, ao invés de benzer a aliança representada
pela joia, parecia preferir benzer a joia que representa a aliança. A aliança existe ou não, independente de uma
joia que a represente. São dois posicionamentos diferentes para padres da mesma
Igreja que, às vezes, faz com que os fiéis fiquem em dúvida sobre o que está
certo. Pelas minhas caminhadas, por aí, noutro dia, me deparei com a narrativa
de um padre que exigia que os pais se casassem para que o filho pudesse ser
batizado. É bom que se diga que os pais da criança podiam se casar, não havia
nenhum impedimento. Mas os pais não queriam se casar. Queriam apenas batizar o
filho e o padre se recusou a batizar o filho dos pais não casados. Pode-se
dizer que o padre cometia neste momento um “delito” canônico, pois estava
forçando a realização de um casamento nulo, já que uma das características para
que o casamento não seja nulo é a declaração livre de vontade dos nubentes e, a
imposição do casamento, como condição para se batizar o filho, não pode
exatamente ser definido como uma declaração de livre vontade.
Citei alguns exemplos, mas poderia citar tantos
outros. Com certeza, cada um dos fiéis poderá narrar tantas diferenças entre
uma paróquia e outra, que, juntando tudo, será possível perceber que, embora a
Igreja seja a mesma, existem padres que tentam fazê-la diferente, a cada paróquia,
de acordo com o olhar particular do seu pároco.
Quando se observa uma diocese diferente da
outra, há que se entender a existência de uma razão histórica para isso. Disse
Jesus, em Mateus 16:18: “você é Pedro, e sobre essa pedra construirei a minha Igreja,
e o poder de morte nunca poderá vencê-la”. Fica claro, então, que Cristo sempre
teve a intenção de fundar uma Igreja sua. Conhecedores da intenção do Mestre,
os discípulos saíram pelo mundo criando a Igreja de Cristo. O problema é que
ninguém tinha um manual de implantação, que indicasse como deveria ser a Igreja
que Cristo queria. Diga-se, também, que esses que saíram para fundar a Igreja
de Cristo, nem sempre faziam parte dos doze apóstolos. Tudo que os discípulos
tinham, era a informação de como Jesus viveu a sua vida terrena. Alguns, os
apóstolos, tiveram o privilégio de conviver com o Mestre e, por certo, em algum
momento, podem ter conversado sobre os planos do fundador da Igreja.
Entretanto, vários daqueles que saíram pelo mundo fundando a Igreja de Cristo,
em diversos lugares, sequer tiveram um contato mais amiúde com o Mestre. Cada
um desses, então, saiu pelo mundo e fundou, na condição de bispo, a Igreja de
Cristo. Pedro ficou na região central da Palestina, com aquela missão que o
Mestre lhe deu: ser a pedra angular da construção. Não por outro motivo, o
temos como o primeiro Papa.
Então, cada um saiu pelo mundo afora fundando
uma comunidade que seguia a Cristo, que deu origem à nossa Igreja. Na verdade, estavam
esses discípulos criando uma Igreja particular em cada um desses lugares. A
base era o seguimento àquilo que Jesus havia pregado durante a sua vida, mas a
maneira como isso seria feito, cada um desses bispos desenvolveu a sua. Assim,
é que cada uma das dioceses poderia ser considerada uma Igreja particular e,
ainda hoje, a estrutura, no âmbito do Direito Canônico, indica que as dioceses,
ou as circunscrições, que é o termo que abarca dioceses, arquidioceses, abadias,
ordinariados e demais prelazias, são como uma Igreja Particular, delimitada por
um território ou por ritos específicos.
Portanto, seria natural que em cada uma dessas
prelazias existisse uma Igreja Particular, mas o que se percebe é que em cada
paróquia pode existir uma Igreja Particular, transformando a nossa Igreja
Católica em um emaranhado de “doutrinas” que, nem sempre, representa realmente
aquilo que está escrito nos documentos da igreja, que foram sendo construído ao
longo do tempo, à custa de muito estudo e sofrimento.
OS JOVENS
Conforme a minha participação nas coisas da minha paróquia ia
correndo, percebi que havia dois grupos de jovens por lá. Esses grupos, via-se claramente,
não tinham uma integração. Um era dissidente do outro. Um deles era dirigido
pelas pessoas ligadas à Pastoral da Juventude e outro tocava os seus caminhos
sozinhos. Meio de longe, eu acompanhava as venturas e desventuras daqueles
jovens. Quantas guerras tinham que vencer para estarem, ali, presentes. A PJ
nem sempre ajudava muito. Mesmo o grupo que tinha o apoio integral da PJ parecia
não se desenvolver direito.
PASTORAL DA JUVENTUDE
OU
JUVENTUDE EM
PASTORAL?
Sempre achei a Pastoral da Juventude uma
organização muito estranha. Em todas as paróquias em que ela é implantada
funciona como um freio para que os jovens possam se expressar nas mais diversas
esferas de suas vidas.
Não acho, em absoluto, que os jovens possam
ficar jogados em seus guetos ou em suas tribos, dentro de uma paróquia, sem
assistência, sem algum organismo que possa orientá-los a seguir corretamente os
ensinamentos da Igreja Católica. Mas o que se vê, na maioria das vezes, é a
criação da PJ concorrendo com os grupos de jovens já existentes na paróquia. Ou
seja, a PJ torna-se “o” grupo de jovens da paróquia e, a partir daí, todos os
demais grupos que possam já existir ou vir a ser formados estariam em desacordo
com os documentos da PJ.
Quando um adulto decide participar das
atividades da Igreja, são-lhe oferecidas diversas opções: Pastoral do Batismo,
Pastoral da Família, Pastoral do Idoso, Pastoral da Saúde, Pastoral do Dízimo,
Pastoral da Criança, Pastoral da Terra, Pastoral Vocacional, Pastoral
Carcerária, dentre tantas outras pastorais, além dos serviços. E ao jovem, qual
a opção que lhe é oferecida? Além da Pastoral da Juventude, eventualmente a
Pastoral da Comunicação é entregue aos jovens e, às vezes, lhes é oferecida a
oportunidade de pegar uma carona na Pastoral da Catequese.
Portanto, deixar o jovem que quer participar da
igreja, confinado na Pastoral da Juventude, pode ser uma maneira muito especial
de dispensá-lo dos serviços. Daí, o motivo do questionamento acima. Devemos ter
uma Pastoral da Juventude, nos moldes que temos hoje, ou precisamos ter uma
preocupação com a juventude em pastoral.
Faz toda a diferença este posicionamento com
relação aos jovens. Uma coisa é você ter um organismo que engessa a
participação dos jovens, dentro de regras rígidas, já que “a PJ não permite
isso”, “a PJ não permite aquilo”, como é comum se ouvir das pessoas que a
conduzem, especialmente os adultos que acompanham os jovens nesta Pastoral.
Outra coisa muito diferente é você fomentar a formação dos mais variados grupos
de jovens, com objetivos diferentes, com interesses diferentes e, ao final,
tê-los todos praticando aquilo que mais gostam de fazer, não deixando de ser cristãos
e, o mais importante, cristãos jovens,
Não precisa pesquisar muito para saber que os
jovens são divididos em tribos: uns curtem rock, outros curtem funk, outros
curtem tatuagem, outros curtem tatuagem e rock, outros tatuagem e funk; uns
curtem teatro, outros cinema; uns curtem futebol, outros vôlei; uns curtem
skate, outros patins; uns curtem barulho, outros sossego; uns gostam de ler,
outros de jogar vídeo games. Ou seja, é tribo para todo o gosto. O que existe
de errado em evangelizar jovens num grupo que curte skate, por exemplo? Será
que os jovens que curtem tatuagem e rock não poderiam praticar também alguma
ação social na comunidade?
Então, se invertêssemos a lógica da coisa e, ao
invés de focar na Pastoral da Juventude, fosse focada a juventude em pastoral,
seria mais fácil ter os jovens participando das coisas de nossa Igreja.
Essa juventude ficou um pouco perdida quando uma determinada
freira que os acompanhava teve que abandonar os jovens por questões internas de
sua congregação. De longe, eu percebia aquilo e ficava meio triste, mas sempre
prometia para mim mesmo que um dia iria tentar me aproximar deles para tentar
fazer alguma coisa. Nesta época, tinham deixado uma freira à frente dos jovens.
Numa ocasião em que tentei uma aproximação, esta freira rechaçou a minha ideia,
informando que a PJ não permitia que certas coisas fossem praticadas. Recolhi o
trem de pouso e fiquei só à espreita. Mas me incomodava muito ver aquela
juventude um pouco perdida. Passado o tempo, aqueles grupos de jovens, PJ
inclusive, definharam e acabaram por encerrar as suas atividades. De repente, a
nossa paróquia ficou sem nenhum grupo de jovens funcionando.
ALTA TAXA DE
MORTALIDADE
DE GRUPOS DE
JOVENS
Esse fenômeno de grupos de jovens, nas igrejas,
que começam e logo terminam, é bastante comum. Muitos são os fatores que levam
a isso. Se perguntarmos aos seus antigos participantes qual foi o motivo do
grupo se acabar, com certeza cada um deles vai discorrer sobre assuntos
diversos.
Normalmente, esses grupos nascem com um fôlego
bastante grande, mas com o passar do tempo perdem o entusiasmo e morrem. Uma das
explicações plausíveis para essa taxa de mortalidade dos grupos de jovens é a
falta de objetivo. As reuniões, quando acontecem, se tornam um peso muito
grande para os jovens e a participação em algo que exige sacrifício só é viável
quando se tem objetivos claros. O espírito do jovem é desbravador, destemido. É
como lidar com um animal selvagem, em busca de aventuras. Uns têm essas
características mais acentuadas do que outros, mas, no fundo, todos, em alguma
porção, são assim. Então, querer fazer um grupo de jovens perseverar na
participação, sem lhes dar motivos para isso, é querer prender um animal
selvagem, indômito. Deve, portanto, aquele que tem a responsabilidade de
conduzir grupos assim, sempre se preocupar em dar um objetivo às atividades dos
jovens.
Outras explicações existem, também, e não podem
ser desprezadas. A mais forte que se pode observar, ao longo do tempo, é a
questão do envelhecimento dos jovens. Não que eles deixem de ser jovens, assim,
de repente. Aliás, algumas pessoas se recusam a ficarem velhas. Envelhecem, mas
nunca ficam velhas. O problema, aqui, não é a idade, mas sim as atividades e
responsabilidades que chegam com o passar dos anos. Quando o jovem é ainda
adolescente, apesar de depender dos pais, na maioria das vezes, até para se
deslocar, suas ocupações se resumem a estudar, quase sempre empurrados. Nesta
fase da vida, quando eles decidem participar de alguma atividade na paróquia,
são impulsionados pelos relacionamentos que vão encontrar nos grupos de jovens.
Às vezes ocorrem até alguns namoros e isso serve como motivação para participar
do grupo. Mas, nem sempre é o namoro que impulsiona a sua participação. Aliás,
quase sempre são os amigos que os levam a frequentar as atividades dos grupos,
exatamente aqueles amigos das tribos de que cada um participa. Algum amigo
participa, acha legal, leva outro, que leva outro e, assim, de repente, a tribo
toda está participando daquele grupo. Isso funciona também, é claro, para
grupos que não são de Igreja.
Entretanto, os anos passam e esses jovens vão
ganhando responsabilidades, os namoros passam a ser sérios, vem a ideia de casamento
e por aí vai. Alguns adiam a ideia de aprofundar os relacionamentos, optando
por estudar, acabam aprovados num vestibular e entram para a faculdade, às
vezes em outras cidades. Nesse momento, o foco dos jovens passa a ser outro e,
não muito raro, falta-lhes tempo para manterem a mesma dedicação de antes. Com
isso, os grupos vão se esvaziando, naturalmente. Se não houver uma determinação
para trazer mais jovens para os grupos, é óbvio que, ao perder elementos, sem
reposição, chega então, a um definhamento que desemboca no fim das atividades deles.
Quando o elemento que sai é uma liderança, as coisas se complicam ainda mais. O
correto seria, então, além de ter meios para trazer mais jovens para o grupo,
fazer, paralelamente, uma preparação constante de novas lideranças, capacitando
as pessoas que se destacam, para ficarem à disposição do grupo para eventual
substituição dos seus condutores.
Foi dito, antes, que os jovens são indômitos e
não adianta querer prendê-los em uma atividade sem atração nenhuma, por falta
de objetivos claros. Isto, às vezes, é alcançado por alguns dos líderes
responsáveis pelos grupos. Mas, não muito raro, surge um problema no
relacionamento dos padres com os jovens. Nem sempre os jovens veem suas atividades
apoiadas e incentivadas pelos padres, sobretudo pelos párocos. É lógico que a
tendência é o jovem buscar alternativas, nem sempre as melhores. Ao contrário,
em alguns casos, acabam se enveredando por caminhos completamente na contramão daquilo
a que se propõe a participação em algum grupo de jovens da paróquia,
infelizmente, às vezes, com resultados desastrosos.
Por isso dever-se-ia repensar o jeito como a
nossa querida Igreja Católica trata a questão dos jovens.
Chegou um momento que não tinha mais sentido deixar os
jovens na paróquia sem uma referência que pudesse catalisar as suas forças. Era
preciso criar algum horizonte para que eles atravessassem esta fase tão difícil
de suas vidas, com o apoio de uma religiosidade firme, dentro dos ensinamentos oferecidos
pela nossa Igreja Católica.
Com isso na cabeça, passei ao segundo passo da realização de
qualquer sonho: o planejamento. Algumas premissas precisavam ser consideradas
para que o trabalho tivesse êxito, tomando todos os cuidados para não se inventar
nada que fosse parecido com um voo de galinha.
As premissas básicas adotadas para se começar um trabalho
com os jovens foram as seguintes: a) sempre ter certeza do que se quer fazer
para mostrar a eles que existe um norte para suas ações; b) o exemplo sempre
deve prevalecer sobre qualquer outro meio que se tenha à disposição; c) apoiar
incondicionalmente qualquer atividade dos jovens que estiver dentro do escopo
escolhido para o trabalho; d) defender os jovens em qualquer instância da nossa
Igreja, inclusive fora da paróquia.
Essas premissas foram definidas antes de começar os
trabalhos de rearticulação do movimento jovem em nossa comunidade. Era
necessário definir essas premissas para se investir num trabalho duradouro e
que fosse referência na paróquia. Somente tornando-se referência é que se
obteria o respeito dos demais setores da nossa Igreja.
A QUESTÃO DO
EXEMPLO
O Novo Testamento é composto por vinte e sete
livros, entre epístolas, evangelhos e uma revelação. Os evangelhos, a gente
considera que retratam, na maioria das vezes, as palavras proferidas por Jesus
em sua missão apostólica. Nenhum dos livros desse Testamento foi escrito por
Jesus Cristo. Maomé, o grande profeta da religião muçulmana, deixou para o Islã
o Alcorão, escrito de próprio punho como a revelação feita por Deus. Mas, nós
os cristãos, não temos qualquer escrito que possamos atribuir a sua autoria ao
próprio Jesus. Pelo menos, ainda não. Isso indica que Jesus era analfabeto? Não
é razoável supor isso. Então, vem, inevitavelmente, o questionamento: porque
Jesus não deixou nada escrito? A resposta passa pela questão do exemplo. Jesus
preferiu viver aquilo que pregava, dando o exemplo de como Deus gostaria que
vivêssemos a nossa religião. Se não fossem os evangelistas e os outros autores
dos demais textos do Novo Testamento, não se saberia muito sobre Jesus.
Uma frase atribuída a Albert Schweitzer diz que
“o exemplo não é uma das maneiras de ensinar: é a única”. Para quem trabalha
com jovens, esta frase é lapidar. Somente com o exemplo é que se consegue
comunicar aos jovens o que deve ser feito. Outra maneira não há que torne possível
passar a mensagem correta à juventude.
Definidas, então, as premissas, partiu-se para planejar uma
ação a fim de dar início à restauração do movimento jovem na nossa paróquia.
Para essa etapa pensou-se em fazer uma ponte entre o velho e o novo. Isso seria
possível propondo uma mudança de paradigmas, aproveitando o acervo de
experiência acumulada pelas pessoas durante os anos passados. Isso foi
resolvido com a convocação de uma reunião com todas as pessoas, especialmente
os jovens que participaram, de alguma forma, de movimentos juvenis,
recentemente, em nossa paróquia.
Fizemos o levantamento dos jovens que precisavam ser
convidados para participar da reunião. Na verdade, um encontro que durou toda a
tarde de um domingo qualquer do ano de dois mil e oito. Os convites foram
feitos a cada um dos jovens, por meio de um contato direto, quando foi
explicado detalhadamente o objetivo do encontro. Foram relacionados quarenta e
oito jovens e a apenas um deles não foi feito o contato pessoalmente, já que ele
não foi encontrado. Compareceram trinta e cinco jovens, sendo trinta e três que
haviam sido convidados e dois que foram levados pelos namorados. Esses dois
jovens que foram levados pelos namorados, na verdade um rapaz, levado pela
namorada, e uma moça, levada pelo namorado, causaram algum transtorno, pois o
encontro havia sido preparado para as pessoas que foram convidadas. Assim,
faltou o material que estava personalizado para cada um dos participantes, como
crachás e pastas. Além do fato de estas duas pessoas que compareceram sem terem
sido convidadas não terem participado do movimento juvenil da nossa paróquia,
pois pertenciam a outras regiões paroquiais.
PLANEJAR É
PRECISO,
O ÊXITO NÃO
É PRECISO
Emprestando e adaptando esse título de um poema
de Fernando Pessoa, quero discorrer um pouco sobre planejamento nos serviços
pastorais.
Os dois jovens que compareceram àquele primeiro
encontro, sem serem convidados, nos ensinaram duas lições.
A primeira lição: Jamais se proponha a alguma
coisa com os jovens sem ter a certeza de que eles entenderam perfeitamente o
que se espera deles. Se for preciso faça manual, croqui, mapa ou qualquer outra
coisa que seja capaz de esclarecer qualquer dúvida existente.
A segunda lição que esse fato nos ensinou e que
é de grande serventia, hoje, em dia, é a seguinte: planeje o “plano B”. Foi daí
que alcunhei a frase “só improvisa quem não planeja”. Então, quando a gente vê
uma atividade qualquer, cheia de improvisações, a tendência nossa é elogiar a
capacidade de a pessoa se desvencilhar de problemas surgidos de última hora. Mas,
não é bem assim que as coisas deveriam ser encaradas, pois, por detrás de uma
improvisação geralmente se esconde alguma falta de planejamento.
Alguém pode falar, por exemplo, “que culpa tem
o sujeito se veio a chuva?” Culpa nenhuma, sem dúvida. É um fenômeno da
natureza que ninguém tem controle sobre ele. Mas, as chuvas acontecem quando
menos se espera e alguém preparar todas suas atividades ao ar-livre, sem se
preocupar com o risco da chuva, é porque gosta de viver perigosamente. Então,
às vezes fica-se o ano inteiro preparando uma atividade qualquer e deixa em
aberto o risco de uma mudança de tempo vir a decidir se sua atividade vai ter
êxito ou não. Mas como fazer para evitar isso? Simples: não faça ao ar-livre ou
reserve um espaço para transferir imediatamente a sua atividade, caso
necessário. Isso demanda mais recursos ou mais espaço, sem dúvida, mas não permite
que fatores que não controlamos venham a ser determinantes na realização do
evento.
Normalmente, os eventos paroquias são feitos de
atividades as mais variadas, como brincadeiras, gincanas, palestras, trabalho
em grupo etc. Vamos pegar um desses itens para exemplificar um fator sobre o
qual não temos controle, mas que um “plano B” pode ser perfeitamente planejado:
as palestras. De repente, uma pessoa que foi convidada para ministrar a
palestra fica doente, de última hora, ou fica sem transporte ou sofre a ação de
outro fator qualquer que a impeça de comparecer ao local do evento. O que fazer
para suprir uma ausência dessas? Para tal eventualidade, o planejador deve
colocar o cérebro para funcionar e deixar alternativas na agulha para serem
disparadas, se necessário. Então, você não tem domínio sobre o fator que pode
levar um palestrante a faltar, mas tem domínio sobre o que fazer caso isso venha
a acontecer.
Logo, planejar é preciso, já o êxito do seu
evento não é preciso. Isso quer dizer que existe precisão no planejamento, pois
ele pode ser feito com todas as variáveis conhecidas. Entretanto, o êxito do seu
evento não é preciso, pois é um resultado com um grau de imprecisão muito
grande. Esse grau de imprecisão é determinado pelo desconhecido. Agora, a
precisão do planejamento repousa sobre as variáveis conhecidas pelo organizador
do evento, tanto aquelas que ele tem o poder de controlar, como aquelas que ele
não tem o poder de controlar. Nem sempre o organizador do evento tem o poder de
controlar a causa do fator degenerante do evento, mas tem como determinar o
fator regenerante do evento.
Esse primeiro encontro foi um pouco tenso, pois reunimos,
ali, jovens que participaram de grupos antagônicos e que não “se bicavam”
muito. Percebia-se, até, certas rusgas pessoais entre alguns. As discussões em
grupo foram tensas, mas profícuas. Foi preciso uma coordenação firme para
canalizar toda aquela tensão para alguma perspectiva capaz de restaurar a
caminhada dos jovens na nossa paróquia. Era necessário considerar o passado?
Claro que sim. Mas, qual o olhar que deveria ser lançado sobre esse passado?
Neste ponto, às vezes, a reunião ficava tensa, pois o olhar que muitos queriam deitar
sobre o passado era no sentido de tentar identificar os culpados pelos
problemas que geraram as crises responsáveis pela dissolução dos grupos.
Acontece que esses problemas eram do passado e deveriam ficar lá. Era preciso
identificar e tratar os problemas, não necessariamente quem conduziu o processo
até eles. Entretanto, deveriam ser visitados para criar as perspectivas do
futuro. Ao final do encontro tudo acabou bem e, dali, saíram duas peças
fundamentais para a retomada da caminhada dos jovens na nossa paróquia. Saiu um
documento elencando os problemas e as ações necessárias para enfrentá-los. Saiu,
também, um grupo de jovens determinados a encarar esse desafio. De todos os
presentes, apenas nove jovens decidiram por enfrentar o desafio. Confesso que a
minha expectativa era maior com relação a isso. Mas, nove já era mais do que
um. Marcamos, então, uma nova reunião para quinze dias depois e, dos nove
jovens que se dispuseram, apenas oito compareceram. A caminhada começara.
A SOBERBA
NOSSA DE CADA DIA
Quando a gente faz um trabalho na Igreja, às
vezes os obstáculos aparecem de onde menos se espera. Disse, antes, que foram
selecionados quarenta e oito jovens para serem convidados para o primeiro
encontro. O critério para fazer esta seleção era o de que o jovem deveria ter
participado de qualquer movimento juvenil da Paróquia. Os grupos de jovens que
existiam, apesar de não estarem funcionando, ainda não haviam sido dissolvidos
formalmente. Aliás, acho que até hoje não houve a dissolução formal daqueles
grupos. Um dos coordenadores de um desses grupos não foi convidado para o
primeiro encontro por dois motivos que achamos razoáveis à época: Ele já era
casado, em tal ocasião, e o seu casamento estava muito conturbado. Como a gente
acompanhava a situação, meio de perto, sabíamos que o problema no casamento era
causado por ele. Isso, na nossa opinião, poderia mandar uma mensagem errada
para os jovens. Como não havíamos selecionado nenhum casado para participar
daquele encontro, decidimos, também por esse motivo, não chamar esta pessoa,
ainda mais com o casamento nas condições em que estava. Outra questão
envolvendo o mesmo personagem foi a informação, bastante consistente, de que
essa pessoa fora a motivação para que os dois grupos anteriores tivessem
encerrado as suas atividades. Nosso receio era de o encontro não terminar,
tamanha era a animosidade entre alguns elementos. Estes podem não ter sido bons
motivos para não convidá-lo, mas respeitavam os critérios. Quando essa pessoa
soube que houvera uma reunião dos jovens, sem ela ser convidada a participar,
disse textualmente “ah, é? Convocaram uma reunião sem a minha presença? Então o
... não vai participar e vou mostrar quem é que tem força”. Os três pontinhos
era o nome do grupo em questão. Quem disse esta pérola com certeza imaginava
ser “dono” do grupo a que se referia, e grupo que tem “dono” não chega mesmo
muito longe.
Disse, anteriormente, também, que não foi
possível convidar um dos jovens pessoalmente. Todos os demais foram convidados
e no convite faziam-se todas as recomendações necessárias, além de deixar claro
o objetivo do encontro. Uma das recomendações expressas que se fazia no convite
era com relação ao horário. O encontro estava marcado para iniciar às três da
tarde e ficou acertado com cada um dos convidados que exatamente às três da
tarde seria fechada a porta e, depois disso, ninguém mais poderia entrar.
Aquele jovem que não foi convidado pessoalmente
é filho de uma pessoa que participava ativamente das coisas da paróquia,
inclusive na administração dos negócios paroquiais. Como não foi possível
convidá-lo pessoalmente, fizemos o convite a ele por meio de sua mãe, com as mesmas
recomendações feitas a todos os outros.
A questão do horário de início foi considerada
tão séria que o pedido feito a todos era que se não fosse possível chegar até
as três da tarde, seria melhor o jovem faltar ao encontro.
Chegado o momento de começar o encontro, três
da tarde de um domingo qualquer do primeiro semestre de dois mil e oito, as
portas foram fechadas e ninguém mais entrou. Ocorre que, exatamente aquele
jovem que fora convidado por meio da sua mãe, chegou com uns vinte minutos de
atraso e alguém da organização foi conversar com ele informando-lhe que não
seria permitida a sua entrada, pois o encontro já havia começado. O jovem
reclamou bastante e foi embora.
Na semana seguinte recebemos uma chamada da mãe
do jovem que chegou atrasado, nos cobrando explicação sobre porque não
permitimos a entrada do seu filho no encontro. Disse que aquilo era um absurdo,
por proibir o seu filho de ter acesso a um ambiente da paróquia que deveria ser
franqueado a todos. Falou mais uma infinidade de coisas, mas, em nenhum momento,
se lembrou de que a regra era não chegar atrasado, como o seu filho chegara.
Como desdobramento, o pároco nos chamou, a mim e a minha esposa, para falar
sobre o assunto, cobrando, ele também, uma explicação.
Esses dois casos nos mostraram que de onde a
gente menos espera reações contrárias é que elas aparecem. Mas não nos
intimidamos, ao contrário, esses episódios nos mostraram que se fazia
necessária uma atitude imediata para mudar muitas coisas erradas que estavam
acontecendo.
Esse começo de caminhada foi centrado sobre um item do
documento que indicava ser necessário o planejamento de um evento que
aglutinasse todos os jovens e, a partir daí, iniciar um trabalho para trazê-los
de volta para a Igreja. O evento escolhido para dar o pontapé inicial nos
trabalhos foi um encontro de jovens, aos moldes de tantos que existem por esse
país afora, mas com a cara da nossa região ou, ainda, com a cara da nossa
paróquia.
Decidimos por duas frentes de ação nesta fase dos trabalhos.
A primeira, consistia em arregimentar mais jovens para a missão, que ficou a
cargo daqueles oito jovens do grupo resultante do encontro inicial. A segunda
referia-se à montagem do encontro, do que fiquei encarregado.
Para a primeira frente, o método escolhido foi o de fazer
reuniões com os jovens em encontros realizados em todas as comunidades que
compõem a nossa paróquia. Os encontros aconteciam, normalmente, nos domingos, à
tarde. Essas reuniões foram realizadas de forma bastante precária, com parco
planejamento. Aqueles oito jovens não conseguiam conduzir os trabalhos com a eficiência
que se esperava deles. A improvisação corria à solta e os resultados eram pífios.
Em algumas comunidades, não se arregimentou ninguém. Ao fim desse trabalho,
conseguiu-se apenas mais cinco jovens para engrossar as fileiras daqueles que
iriam enfrentar a empreitada.
Seria necessário um time de mais ou menos cinquenta jovens
para realizar o primeiro encontro da maneira como fora idealizado. Entretanto,
tínhamos montado um time com apenas treze jovens. De certa forma, foi uma
pequena derrota para as nossas pretensões.
Fazendo, depois, uma análise dos motivos que levaram a este
fracasso inicial, percebi que havia cometido um erro bastante comum quando se
delega funções às pessoas: enxergar a espuma, ao invés de enxergar o chope. A
função de coordenar essa frente de ação teria que ser confiada a um jovem, pois
a ideia sempre foi que o movimento que se estava criando devesse ser conduzido
pelos jovens. Ao delegar a coordenação, então, escolhi alguém que tinha uma
aceitação bem razoável pelos oito jovens que iniciaram os trabalhos. Com o
passar do tempo, percebi que era apenas espuma. Aquilo que parecia ser carisma,
era apenas uma maneira alegre e irresponsável de tocar a vida. Essa pessoa não
conseguia conquistar ninguém para as suas fileiras. Em outra época, mais para a
frente, tive outros dissabores com este jovem escolhido, o que só confirmou
esta primeira avaliação que faço daquele primeiro fracasso.
No meio desta caminhada, aqueles jovens que participavam do
projeto foram chamados para se reunir com o objetivo de “batizar” o encontro,
ou seja, dar-lhe um nome. Eles fizeram uma reunião e decidiram não só o nome,
mas apresentaram uma solução de comunicação completa. Trouxeram o nome, a
logomarca e um slogan. Assim o encontro foi batizado de INOVAR, sua logomarca é
a palavra INOVAR escrita em vermelho, sendo que o “i” é representado por uma
vela estilizada cuja chama é amarela. O slogan,
escrito em azul é “uma nova chama se acende”. As letras da logomarca são
minúsculas e as do slogan são maiúsculas, todas grafadas com tipos limpos, sem serifas
ou enfeites. Essa solução gráfica foi dada, soube depois, pelo jovem que havia
ficado responsável pela equipe de arregimentação.
O FATOR PERSISTÊNCIA
Ficaram definidas duas
coisas sobre a idade, uma para fazer parte da equipe que iria montar e executar
o INOVAR e outra para participar do encontro como “encontrista”. A equipe
deveria ser composta por jovens com o mínimo de 16 anos e o encontro seria
disponibilizado para jovens com idade entre 14 e 24 anos.
Por este critério de
idade, apenas jovens com mais de 16 anos poderiam fazer parte da equipe que
estava montando o encontro.
Um jovem não havia
participado daquela reunião inicial, exatamente por ser menor de dezesseis
anos, pois somente em agosto completaria esta idade, mas esse jovem decidiu que
queria participar da equipe, embora não tivesse completado a idade determinada.
Sua irmã participava, o namorado da sua irmã também participava e ele não via
motivo para não participar. Como a sua irmã e o namorado dela estavam no
comando dos preparativos, eles tentaram demovê-lo da ideia de participar da
equipe, mas não conseguiram. Pediram, então, a minha interferência, tentei
também, mas não consegui convencê-lo. Aquele jovem estava irredutível no seu
propósito de fazer parte daquela equipe.
Diante desse quadro,
respeitando o interesse escancarado do garoto, não vimos outra saída senão o de
permitir àquele menino participar da equipe que estava sendo montada para
implantar o Projeto INOVAR.
Hoje, colocando em
perspectiva, é possível notar as maravilhas que Deus sempre faz por nós. Nunca
vi um exemplo tão acabado do ditado: “Deus escreve certo por linhas tortas”.
Desde o primeiro, já foram
mais de setecentos e quarenta jovens que fizeram o INOVAR, nenhum deles
entendeu tão bem o espírito desse encontro como aquele menino que insistiu
tanto para participar da equipe. Lógico que nem eu, nem ninguém sozinho poderia
ser responsável pelo êxito do INOVAR, mas aquele menino foi, por muito tempo,
meio que a “alma” do encontro. Enquanto ele esteve por aqui, esteve sempre à
frente da equipe de animação, e a animação sob a batuta dele tinha um toque
diferente, pois ele entendeu muito bem a função dessa equipe. Mesmo quando
esteve na coordenação geral do encontro não negligenciou a função animação. Ao
longo da montagem da equipe para o primeiro encontro foi agregada uma menina
que cantava numa das comunidades da nossa Paróquia, que viria a se tornar
namorada daquele menino teimoso. Daí para a frente, então, as coisas fluíram
como um rio que corre para o mar.
Aquele menino teimoso, nos
deixou, mudou-se para um estado do Sudeste e, já morando lá, voltou para
participar conosco do encontro, por uma ou duas vezes. Depois, decidiu por não
participar, alegando que não havia sido escalado para a equipe de animação. É
lógico que o motivo não é esse, pois como ele bem sabe, as pessoas trabalham no
INOVAR e pronto, seja na animação, na cozinha, na limpeza, na capela ou em
qualquer outra função.
Como responsável pela
implantação do projeto INOVAR na nossa paróquia, sou grato a Deus por ter
colocado aquele menino teimoso nas nossas vidas e, dos filhos que fui
amealhando ao longo desses anos, ele é aquele que tem um lugarzinho muito
especial em meu coração.
Aquele menino teimoso faz
muita falta aos encontros, mas o INOVAR não pode parar.
O projeto andou, já batizado, e, ao invés de executá-lo
predominantemente com os jovens, foi necessário envolver mais adultos do que se
imaginou inicialmente, já que o número de jovens arregimentado ficou aquém do
esperado. A ideia inicial era envolver adultos apenas em funções onde qualquer
falha pudesse comprometer o andamento do encontro ou colocasse em risco a saúde
dos participantes. Assim, inicialmente se pensou em utilizar adultos apenas no
comando da cozinha e na definição da infraestrutura necessária. Mas, devido ao
número reduzido de jovens arregimentados, os adultos foram escalados também
para trabalhar na limpeza, nos dormitórios, na capela, no refeitório, além de
ocuparem todas as funções na cozinha, e não apenas o comando.
Outra dificuldade foi para escalar os palestrantes. O
encontro foi planejado para funcionar sobre dois pilares básicos: palestras,
algumas com mais de trinta minutos, outras, a maioria, com no máximo vinte
minutos, e trabalhos em grupo. Das vinte e cinco palestras, apenas cinco delas
seriam ministradas por adultos. Todas as outras foram planejadas para serem
ministradas por jovens. Mas como fazer para conseguir o número de jovens o suficiente
para ministrar as palestras, se tínhamos apenas treze jovens dispostos a
trabalhar neste encontro?
A solução foi buscar jovens fora desse grupo que se propôs a
trabalhar no INOVAR. Pessoalmente, selecionei jovens que conhecia na paróquia e
atribui a eles os mais diversos temas que faziam parte do rol de palestras.
Conversei individualmente com cada um e, como nem todos aceitaram, ao final faltou
um jovem para ministrar uma das palestras. Esperei que as inscrições fossem
feitas, analisei a lista dos inscritos e convidei uma jovem que faria o
encontro para ministrar uma palestra no domingo, à tarde. Foi uma manobra que
deu certo. Felizmente nos encontros seguintes não tivemos mais problemas, pois,
a partir do segundo encontro sempre tivemos um número maior de jovens querendo
ministrar palestras do que o número de palestras programadas.
Como já foi dito, as palestras eram um dos pilares mais importantes
do encontro. Então, duas coisas, com relação a isso, requeriam cuidado extremo
para que não falhasse: a duração das exposições, que não poderia ser menor ou
maior do que o tempo estipulado, e a eventual falta de um palestrante. Com
relação ao tempo de duração, tanto ultrapassá-lo, quanto não atingi-lo, poderia
prejudicar o evento. De repente, o palestrante poderia usar menos tempo do que
aquele reservado para a palestra. Isso é tão problemático quanto ultrapassá-lo,
pois quando tem muita gente trabalhando em um evento desses, as coisas devem
funcionar como uma máquina, cujas engrenagens principais são exatamente o tempo
que dura cada uma das atividades. Se uma atividade termina antes do combinado,
a equipe pode não estar preparada para a próxima. Da mesma forma, se a
atividade ultrapassar o tempo, dali para a frente o atraso refletirá em todas
as outras.
Fazem parte, então, da estrutura do encontro, três funções
que cuidam para evitar que tanto o tempo das palestras quanto a falta de
palestrante prejudiquem o andamento do evento. Uma função foi criada para
evitar a ausência de palestrante e duas funções foram criadas para o tempo ser
utilizado em sua totalidade. Uma das funções é tratada no encontro como o plano
“B” das palestras.
PLANO “B”, PLANEJAR OU
IMPROVISAR.
Fazer um plano para nos socorrer em alguma emergência é uma forma de
não deixar o imponderável decidir sobre o êxito de seu evento. Isso já foi dito
antes. Agora chegou o momento de mostrar, na prática, como isso é possível.
Quando foi pensado o INOVAR, pelo seu ritmo, algumas atividades não
poderiam falhar, pois se essas falhassem todas as outras coisas seriam
afetadas. Um encontro com mais de duas dezenas de palestras para serem
ministradas em mais ou menos cinquenta e uma horas, não pode deixar margem de
risco para uma das palestras não acontecer. Criou-se, então, uma pessoa que
fica encarregada de fazer os palestrantes estarem presentes nas palestras. Essa
pessoa tem sob a sua responsabilidade, inclusive, determinar as substituições que
se fizerem necessárias durante o encontro. Para isso, obedece uma rotina
extenuante de contato com os palestrantes. Entretanto, o contato decisivo
acontece duas horas antes da palestra. Neste contato se consegue uma melhor
perspectiva quanto ao palestrante vir a comparecer ou não. Na maioria das vezes,
o escalado comparece, mas ocorrem casos em que se registra o contrário. A
pessoa encarregada vai analisar a situação: se precisar ir buscar, é essa
pessoa que determina quem vai fazer isso e combina com o palestrante onde deve
apanhá-lo. Caso o problema não seja transporte, o responsável irá imediatamente
providenciar outra pessoa para preparar a palestra a ser ministrada. Essa
pessoa deve ficar preparada e de sobreaviso. Se a pessoa escalada não
comparecer, de fato, a pessoa de sobreaviso entrará em ação e ministrará a
palestra. Um fator que facilita isso é o fato de as palestras serem curtas.
Vinte e uma delas não ultrapassam a vinte minutos cada e a mais longa é de
trinta e cinco minutos. Portanto, o plano “B”, para a falta do palestrante,
está perfeitamente estruturado.
Outra questão, ainda relacionada com as palestras, é a duração das
mesmas. Como se disse, a palestra não pode ultrapassar o tempo, tampouco deve
ser curta a ponto de não utilizar todo o tempo disponível. Nos dois casos o
encontro é prejudicado, pois existem, fora da sala, várias equipes trabalhando
com o mesmo cronograma. Se a palestra terminar antes, o ambiente externo pode não
estar pronto, o próximo palestrante não estará a postos para ser anunciado,
desestruturando toda a engrenagem. Palestras que ultrapassem o tempo prejudicam
as atividades seguintes.
Para não ocorrer atraso ou
antecipação de atividade, decidiu-se por duas medidas. Uma pessoa fica no fundo
da sala com os cartazes indicando, a cada cinco minutos, o tempo que falta para
a pessoa terminar a palestra. Isto fará o palestrante cumprir o seu tempo ou
encerrar, no ponto em que está, quando receber o aviso de “seu tempo acabou”. Por
outro lado, decidiu-se por preparar, a cada encontro, uma pessoa que fica
encarregada de aplicar dinâmicas. Pede-se a essa pessoa que deixe sempre “na
agulha” dinâmicas com tamanhos diversos. Assim, quando alguém não conseguir
explanar o assunto utilizando o tempo total, se o tempo que sobra é de até
cinco minutos, a turma da animação entra e faz alguma música. Entretanto, se a
sobra for maior do que cinco minutos a pessoa da dinâmica entra com alguma
atividade do tamanho do tempo restante.
Desta forma o Plano “B”
fica estruturado e, quando for necessário, ninguém perceberá que houve alguma
falha. Outras coisas merecem também planejamento para o Plano “B”. Já foi dito,
acima, sobre a questão da chuva, quando se prepara alguma atividade ao
ar-livre. Se você não previr uma alternativa, deixará as condições climáticas
decidirem sobre o êxito da sua atividade.
Resumindo, então, só
improvisa quem não planeja.
MONTANDO O INOVAR
Definidas as premissas básicas, por onde se pudesse
transitar, partimos para a realização do grande projeto: criar um encontro
capaz de atender às necessidades dos nossos jovens, com a cara da juventude da
nossa região. Enquanto, nos finais de semana, aquele grupo de jovens fazia
reuniões nas comunidades, tentando conseguir “mão-de-obra” para a empreitada,
iniciei os estudos para montar o nosso encontro. Estudei materiais de diversos
encontros existentes no Brasil, dentre eles o TLC, o EMAUS, o EJC, etc. Cada um
e todos eles tinham as suas características próprias e eram direcionados para o
jovem urbano, que precisa, em algum momento da vida, se desligar do mundo em
que vive e se dedicar a meditar sobre algumas coisas, o que, no seu dia-a-dia,
não aparecia oportunidade para fazê-lo. Com relação ao conteúdo, cada um possui
um foco diferente. Uns dão mais ênfase nos aspectos psicológicos, outros nos
aspectos familiares, outros no aspecto religioso. Basicamente, eram essas as
orientações dos encontros existentes, analisados à época.
Para montar o nosso encontro, foi deixado de lado o aspecto
psicológico e focado no aspecto familiar e religioso, sendo, a questão
religiosa, bem presente nos temas das palestras a serem ministradas, e a
questão familiar, mais destacada nos outros elementos do encontro.
As atividades deveriam ser muito dinâmicas, para atingir os jovens.
Então, a quantidade de palestras não era um problema, em si. Por outro lado, a
duração de cada palestra fez toda a diferença. Fazer com que um jovem fique uma hora ouvindo
alguém falar sobre um assunto que ele não pediu para ouvir, é querer colocá-lo
para dormir.
Visto isso, partiu-se então, para um número muito grande de
temas a serem explorados, com durações mínimas, mas que todos pudessem ter como
pano de fundo mostrar aos jovens que é possível ser uma pessoa religiosa sem
deixar de ser jovem. Permeando esses temas, muitas atividades executadas por
cada uma das equipes que, ao final, se tornava uma apresentação, um desenho ou
mesmo um texto escrito por um redator da equipe e que, independente do formato,
teria que ser apresentado a todos os participantes do encontro.
Essa formulação gerou uma dinâmica que fez com que os jovens
que participavam do encontro nem percebessem que estavam se expondo a tantos
temas importantes para as suas vidas e para os seus relacionamentos com a
religião e com a família.
Assim, foi desenvolvido um encontro que recebeu o nome de INOVAR
e, por motivos internos do serviço, não se pode dar muitos detalhes do conteúdo
e de seus elementos, mas que tem trazido muitos jovens de volta à Igreja.
É um encontro que se realiza, normalmente, num final de
semana, iniciando na sexta-feira, às seis da tarde, e terminando no domingo, às
nove da noite. São cinquenta e uma horas de encontro, onde os jovens
participantes acabam dormindo pouco, pois se deitam tarde e acordam muito cedo,
têm atividades exaustivas durante os dias todos, chegam ao final, no domingo, à
noite, extenuados, mas, se perguntarem a eles, responderão que gostariam de
ficar por mais uma semana. O encerramento é com uma missa, para a qual todos os
familiares são convidados a participar. Quando o INOVAR foi pensado, a missa
deveria ser realizada pelo mesmo padre que estaria acompanhando o encontro
desde a primeira hora. Com isso, se obteria uma perfeita integração entre os “encontristas”
e o celebrante, exatamente naquele momento em que seria a coroação do evento.
Mas, para a missa atender aos seus objetivos, primeiro,
seria necessário que houvesse um padre à disposição do encontro. Infelizmente,
sabemos que não se tem tantos padres, assim, preocupados com as questões da
juventude. Para se conseguir um padre que venha dar uma palavra aos jovens, mesmo
que apenas no início do encontro, já é uma dificuldade muito grande, imagine,
então, conseguir um para ficar no encontro durante os três dias. Depois, seria
necessário encontrar uma avis rara
que fosse capaz de se colocar sob o comando dos organizadores do encontro, o
que, convenhamos, seria quase impossível nos tempos atuais.
A MISSA DE ENCERRAMENTO
No
plano original, a missa final encerrava formalmente o encontro. Foram colocados
vários elementos do INOVAR dentro da missa para que os familiares pudessem, de
alguma forma, participar daquela experiência dos seus filhos. Então, foi
imaginada uma missa onde os protagonistas seriam os “encontristas” e os seus familiares.
A ideia era simples: Depois de quase três dias que os jovens ficaram distantes
das suas famílias, eles estariam ávidos por dar um abraço em seus pais, em seus
irmãos e nos demais familiares, com os quais eles têm o seu mais sólido relacionamento
e que, na maioria dos casos, estariam presentes na missa final. A missa, como
sabemos, é o momento que sintetiza toda a fé católica. É onde acontece a
comunhão com o Cristo vivo através da eucaristia. Seria sublime, então, que um
encontro entre os jovens que fizeram o INOVAR e seus familiares acontecesse exatamente
na celebração mais importante de todo o evento. No popular, dir-se-ia que a
missa “seria a cereja do bolo”.
Por
tal perspectiva, a missa final foi pensada para ser uma celebração dinâmica
que, embora demorada, em função de se ter dentro dela vários elementos do
encontro, mesmo assim, o dinamismo dos atos faria desta celebração um momento
inesquecível e, tanto familiares quanto jovens “encontristas” sairiam dali com
vontade de participar de outras missas.
Entretanto,
ao longo da realização dos encontros, foi-se percebendo que aquilo que foi
criado para coroar o evento e deixar aquele gostinho de “quero mais”, também
nos familiares, acabava funcionando como um anticlímax, exatamente na hora da
despedida. As missas se tornaram uma atividade totalmente desconectada do INOVAR,
muito longas, em alguns momentos, e desfocadas, naqueles momentos em que o
encontro requeria foco total. Descobriu-se, a duras penas, que as vicissitudes
humanas suplantam o bem-estar da coletividade e isso fazia com que a missa
fosse desnecessariamente longa, sem atingir o seu objetivo.
Diante
disso, o Colégio de Caciques decidiu por introduzir algumas alterações na
estrutura do evento e a mais importante foi retirar a missa final do programa do
encontro. Ou seja, a missa deixou de conter qualquer elemento do INOVAR e
passou a ser uma celebração de ação de graças pela realização do encontro. Se o
INOVAR for realizado em alguma paróquia onde o padre encarregado da missa final
entenda o encontro e tenha o desprendimento de se colocar a serviço dele,
talvez, ali, se possa tentar trazer novamente a missa para dentro do INOVAR.
Na
nossa paróquia, infelizmente, a experiência não foi exitosa e foi necessário
introduzir esta alteração, fazendo com que o encontro, na verdade, se encerrasse
na última atividade anterior à missa. A partir daí, se passa o bastão para o
padre e este determina o ritmo da missa, faz a homilia do tamanho que quiser e
pula a parte que quiser da missa. Ou seja, a celebração, pensada para ser
especial, passou a ser uma missa comum, se é que podemos chamar uma missa de
comum. Mas, o fato é que a missa que encerra o encontro é igual a tantas outras
que os presentes se acostumaram a participar em suas vidas.
Para acontecer essas cinquenta e uma horas, é necessário que
haja muita preparação. Dir-se-ia que o próximo INOVAR começa quando termina o
anterior. Isso mesmo. Leva-se um ano para preparar um INOVAR, pois envolve
muita gente na sua estruturação.
Hoje, tem-se por costume fazer o INOVAR no segundo semestre
do ano, normalmente no início de agosto. O início da preparação se dá formalmente
com um encontro de “inovaristas”, que acontece, normalmente, no mês de maio. É
neste encontro que se define as equipes de trabalho para o próximo INOVAR; quem
vai fazer as palestras, quem vai coordenar cada uma das equipes e quem vai
coordenar o encontro. A partir desse momento, a movimentação dos jovens é
constante, até a desmontagem do INOVAR.
A IMPLEMENTAÇÃO
Projeto concluído, chegou-se a um documento, onde o encontro
estava milimetricamente planejado, com um nível de precisão de três minutos.
Isso porque a menor porção de tempo que constava no cronograma eram algumas
atividades com essa duração. Era necessário esse nível de planejamento para que
todas as equipes e funções envolvidas no desenrolar do encontro tivessem em seu
poder um cronograma em que pudessem confiar. Assim, o pessoal da cozinha, por
exemplo, pode programar seus serviços para o horário que está naquele documento,
pois tinha a certeza de que, no momento programado, os jovens estariam a postos
para tomar as refeições ou o lanche. O detalhamento das atividades chegou ao
ponto de indicar ao pessoal da animação o canto que devia ser executado
naqueles momentos em que a música fazia parte da atividade.
O documento preparado, depois de todo o estudo feito,
descrevia toda a infraestrutura a ser utilizada durante o encontro. Assim, foi
possível ter a noção exata de todo o material necessário para ter um encontro
sem sobressaltos e, em tese, deixar todas as rotinas prontas para serem
executadas sem dificuldades pelas pessoas que sucedessem aquela equipe inicial.
Na prática, isto não funcionou muito bem, pois as coisas ficaram meio nas
costas de poucas pessoas, muitas delas sem saber direito onde se queria chegar,
outras querendo chegar em lugar diferente daquele que seria o desejado pelo
grupo.
Como se viu, aí, para cima, a falta de recursos humanos foi
uma dificuldade constante para a montagem do primeiro INOVAR, pois a lógica dita,
sempre, que o ideal é lançar mão da experiência, utilizando pessoas que já tenham
feito um encontro, anteriormente, portanto, prontas para preparar e realizar o
seguinte. Quando se está iniciando um encontro como esses, é normal que seja
convidada uma equipe do mesmo movimento de outra paróquia, para funcionar como
padrinhos na implantação. Entretanto, o INOVAR não existia em lugar nenhum. Foi
uma invenção nossa e, por isso, não existia em paróquia nenhuma quem tivesse a
experiência necessária, que pudesse vir até a nossa para nos ensinar a fazer o
encontro, para, dali em diante, a gente caminhar sozinhos. Então, o que nos
restou foi fazer da maneira que fizemos, ou seja, montar o INOVAR com pessoas
que nunca haviam realizado este tipo de evento. Aliás, este é um dos motivos
pelos quais as pessoas que estavam nos ajudando se revelaram um tanto quanto
perdidas, pois o projeto, e onde queríamos chegar, estava praticamente na minha
cabeça e na cabeça da minha esposa. Aliás, até minha esposa dizia que tudo
estava somente na minha cabeça. Isso fez com que o empenho do pessoal, que
começou comigo, se tornasse mais gratificante ainda, pois, mesmo sem uma plena
compreensão do que se tratava, eles abraçaram a ideia e enfrentaram o desafio
de montar o INOVAR que, diga-se de passagem, sem eles, não teria avançado
sequer um passo.
Mas, o nosso problema não era apenas a falta de recursos
humanos. Tinha, também, a falta de infraestrutura e, mais premente ainda, a falta
de recursos financeiros. A falta de recursos humanos poderia ser resolvida pelo
treinamento e pelo esforço hercúleo que cada membro da equipe faria para se
chegar a um bom resultado para todos. Quanto à infraestrutura, era uma questão
de adaptar-se às instalações que tínhamos. Até porque nunca será possível
encontrar uma instalação que se adeque perfeitamente às necessidades.
Entretanto, conseguir recursos financeiros era crucial para o sucesso do encontro.
Para resolver, então, a falta de recursos humanos, fizemos
aquelas reuniões, das quais falamos anteriormente, e conseguimos um número
muito pequeno de jovens. Mais precisamente: treze. Diante desse quadro, fomos
atrás de mais gente para trabalhar durante o evento. Algumas equipes deveriam
ser compostas mesmo por adultos e, para essas, fomos atrás dos adultos que
conhecíamos. Convidamos pessoas de outras pastorais que, junto com algumas
pessoas da Pastoral Familiar, conseguiram dar conta das funções que eram
dedicadas aos adultos. Resolvido os adultos, era necessário completar as
equipes compostas apenas por jovens. Nesse momento, foi muito importante o
conhecimento que as Freiras da Sagrada Família, uma congregação que atuou
durante mais de vinte anos em nossa região e estava na nossa paróquia desde a sua
fundação. Essas freiras realizavam vários trabalhos nas diversas comunidades da
nossa paróquia e foram determinantes na indicação dos jovens que podiam
completar as equipes. Foi assim que inserimos jovens de duas outras comunidades
da nossa paróquia, que foram essenciais para a realização do primeiro encontro.
Infelizmente, essas freiras não se encontram mais entre nós, o que foi uma
grande perda, mas, enquanto estiveram conosco, foram fundamentais no trabalho
com os jovens oriundos do INOVAR. Mais à frente, abordarei especificamente o
afastamento das freiras.
PEQUENINA, MIRRADINHA
E GRANDE PESSOA
A Capela do I INOVAR ficou
a cargo da esposa de um casal abençoado, composto por um cabeludo e uma moçoila
que mais parecia uma adolescente do que uma mãe de família. Essa moçoila, que
coordenava a Capela, trouxe para a equipe uma menina de mais ou menos uns treze
anos, vinda de uma comunidade da Paróquia. Eu não a conhecia, mas se era a
coordenadora que a estava trazendo, aceitei aquela criança participando da
equipe, apesar de existir a regra de não poder trabalhar no encontro ninguém
menor de dezesseis anos. Mas aquela criança continuou participando da Capela.
Nesta fase da preparação,
eu fazia questão de acompanhar bem de perto todas as equipes, já que, como
diziam todos, à época, “tudo estava na minha cabeça”. Realmente, como tinha
sido eu quem preparou todo o material, tinha em mente como deveria ser e se comportar
cada uma das equipes.
Numa das reuniões de
preparação da Capela, comentei com a coordenadora daquela equipe que estava com
dificuldade para encontrar uma pessoa que ministrasse a palestra sobre a
família.
Esta palestra é programada
para acontecer no domingo, pela manhã, num momento muito importante, quando
todos os jovens, reclusos, a um longo tempo, na estrutura do evento, já estariam
com muita saudade de todos que deixaram lá fora. Além disso, ela precedia uma
atividade em que havia um link entre
o “encontrista” e a sua família, que ficou lá fora torcendo por ele e,
praticamente, fazendo o encontro com ele. Então, a palestra sobre a família
deveria ser marcante para que o “encontrista” fizesse a conexão entre a sua
família e tudo o que estaria acontecendo com ele, ali. Tudo isso em vinte
minutos de conversa.
Quando, então, falei,
naquela reunião, sobre a dificuldade para conseguir um jovem para dar essa
palestra, a coordenadora da equipe apontou para aquela menina de treze anos e
praticamente escalou a criança.
Assustado, não contive o
espanto e a única coisa sensata para descartar tal descalabro foi invocar a
pouca idade. “Mas ela é muito nova”, disse, de supetão. Primeira decepção
minha: “Ela tem dezoito anos” me disse a coordenadora da equipe. Na verdade,
soube um pouco mais tarde, ela estava fazendo dezoito anos um mês antes do I INOVAR.
Surpreendido, então, não tive outro jeito senão o de concordar com a indicação.
Meio incrédulo perguntei: “Mas ela vai dar conta do recado?”. “Claro”,
responderam todos que estavam presentes na reunião.
Lógico que iria aceitar a
sugestão. Não poderia ser diferente, mesmo que aquela criança tivesse os treze
anos que imaginei, pois, a coordenadora da Capela e seu marido, com certeza, haveriam
de saber do que estavam falando.
Para resumir a ópera, essa
criança de treze anos, dezoito anos, trinta anos, hoje a idade não importa
mais, fez a palestra sobre a família no primeiro INOVAR e nos quatro seguintes.
Só parou mesmo de ministrar tal palestra quando nos deixou, ao mudar para outro
Estado.
À gente não resta mais
nada além de sentir saudade daquela pequenina, mirradinha e grande pessoa que,
hoje já não é tão pequenina, nem tão mirradinha, mas continua sendo uma grande
pessoa.
Com relação à infraestrutura, depois de se ter bem mapeado
tudo o que seria necessário para realizar o encontro, a próxima etapa, então,
seria definir o espaço físico capaz de comportar o evento. Da forma como o INOVAR
foi planejado, assim como o ECC e outros encontros do gênero, existia uma
grande dificuldade que seria encontrar um espaço, já montado, que atendesse,
minimamente, as suas características e a sua dinâmica. São encontros recheados
de segredos, equipes escondidas, surpresas etc. Para tudo isso, se requer
locais apropriados para as equipes trabalharem, pois, nos bastidores, trabalha
um batalhão de pessoas que só se apresentam ao final do encontro. Essas pessoas
não podem aparecer e, portanto, o local onde elas trabalham precisa ser isolado
de onde transitam os “encontristas”, ou precisa ser protegido, de alguma forma,
para manter essas pessoas escondidas.
De partida, fomos visitar todos os locais que poderiam ser
utilizados para realizar o encontro. Essas visitas tinham como objetivo levantar
as instalações, a localização, a infraestrutura e, o mais importante, o custo.
A nossa paróquia possuía, à época, um local para retiros que,
até hoje, mantém as mesmas características, chamado de Casa Betânia, que foi
construído com a ajuda dos paroquianos e com uma intervenção muito forte do pároco
que comandava a paróquia na época. A Casa Betânia foi pensada para atender as
necessidades das diversas pastorais, que eram muito ativas naquela época,
quando se viam retiros com uma frequência bastante grande. Lembro, inclusive,
que a Casa Betânia era disputadíssima e as datas, quando se fazia o calendário
anual, eram requeridas, não muito raro, por mais de uma pastoral ou de um serviço.
Saudade dessa época. Mas, a Casa Betânia foi pensada para retiros e não para
encontros.
ENCONTRO OU RETIRO
Quanto
se discute esses eventos que as paróquias realizam, de vez em quando, é muito
comum se fazer confusão entre o termo encontro e retiro. São coisas diferentes.
Para dar nome ao evento pode-se usar qualquer um dos termos, mas, para
qualificar o evento, deve-se usar o termo que identifique corretamente a
proposta.
Retiro
é o nome que se dá aos eventos cujos participantes são exclusivamente pessoas
que já estão na caminhada religiosa e, normalmente, acontecem para aprofundar
sobre determinado tema que já faz parte do seu cotidiano. Assim, é muito comum
se dizer Retiro dos Catequistas, Retiro da Pastoral Familiar etc. No retiro, os
assuntos são poucos, a postura é mais contemplativa e as abordagens são feitas
de forma a deixar coisas para o “retirista” refletir em casa.
O
encontro, por sua vez, possui outra dinâmica. Ele é voltado para pessoas que
nem sempre fazem parte da caminhada religiosa e, quando fazem, normalmente o
encontro abordará um aspecto que não faz parte do dia-a-dia das atividades
pastorais. Por exemplo, o Encontro de Casais com Cristo – ECC. Para esse
encontro, normalmente, são chamados casais que não têm uma caminhada religiosa
assídua. Mas, nada impede que pessoas que caminham assiduamente na Igreja possam,
também, fazê-lo. Entretanto, o efeito para o casal sem a caminhada será mais
intenso do que para o casal que já possui a caminhada. Isso se dá porque o
casal que está “afastado” tem muito mais coisas para repensar do que o casal
que está “engajado” e, por ter mais coisas a serem repensadas, o impacto do ECC
será maior no casal “afastado”.
Os
encontros, então, surgem exatamente para isso: dar uma chacoalhada na pessoa
que está participando, levando-a a pensar e repensar coisas que foram sendo
abandonadas ao longo da sua vida. Por isso mesmo, a dinâmica do encontro deve
ser diferente da dinâmica do retiro. Nesse, o ritmo pode e deve ser
introspectivo e passivo, enquanto, no encontro, o ritmo deve ser extrovertido e
ativo. Os temas devem ser, dentro do universo proposto, conclusivos, sem a
pretensão de deixar qualquer meditação para o “encontrista” fazer depois do
evento.
Por
isso, sempre que alguém tiver alguma dúvida sobre a natureza do INOVAR, pode
afirmar, com certeza, que se trata de um encontro.
A partir de tais premissas, a Casa Betânia, então,
precisaria ser adaptada para que se realizasse ali um encontro. Em função
disso, fomos tentar buscar alternativas para a realização do I INOVAR.
Em todas as
instalações visitadas as construções eram, ainda, muito menos apropriadas para
o encontro, o que vale dizer que as adaptações seriam maiores. Numas, a cozinha
era muito distante do auditório, noutras, a Capela ficava em local de difícil
acesso à noite, ou não tinham local para a realização da missa de encerramento.
Assim, foi que decidimos por voltar para a nossa Casa Betânia que, embora
necessitasse de algumas adaptações, se, porventura, fossem mais definitivas, não
as perderíamos, fazendo-as e deixando-as lá, pois a casa estava em nossa
paróquia e poderíamos usar mais vezes. Ainda tinha um fator dos mais
importantes para esta fase da montagem: o custo do aluguel. Na Casa Betânia o
aluguel seria zero, enquanto as outras opções sempre nos impunham o ônus
inicial do aluguel.
A Casa Betânia é um complexo contendo uma quadra poliesportiva,
duas piscinas, sendo uma infantil e uma adulta, uma casa para uma família de
zeladores, três quartos pequenos, onde cabem duas camas de solteiro, um ambiente
coberto que é chamado, genericamente, de refeitório, que, contiguamente, possui
uma pequena cozinha e, finalmente, foram construídas dez salas distribuídas em
dois pisos de um prédio que fica ao lado da casa dos zeladores. Essas dez salas
foram pensadas para que, durante os retiros, fossem feitos, ali, os estudos das
equipes e os trabalhos em grupo. Como se nota, não foi construído nenhum
auditório no complexo que compõe a Casa Betânia. Alguém que veio, antes de nós,
sentiu falta do auditório e foi autorizado a utilizar duas salas contíguas, no
térreo da construção que possuía as dez salas, para que, ali, depois de
desmanchada uma parede, se fizesse um ambiente mais amplo, ao qual
convencionamos chamar de auditório. Formalmente, são duas salas desmanchadas,
com duas colunas de concreto no meio, o que dificulta até a disposição das
cadeiras, de forma organizada, para os participantes. Mas, foi o que mais
próximo conseguimos chegar de um auditório.
Aquilo a que chamamos de refeitório, na verdade é um galpão
medindo em torno de quarenta por vinte metros. Só não é um galpão, na concepção
clássica que os conhecemos, porque nas laterais não existem paredes, o que
ajuda, em alguns casos, e atrapalha, em outros. Ao invés das paredes laterais
que um galpão convencional possui, aquele ambiente foi cercado, em três dos seus
quatro lados, por uma mureta, medindo, mais ou menos, cinquenta centímetros de
altura, e, acima dela, foram colocadas grades de metal, chegando a uma altura
de, aproximadamente, um metro de meio. No quarto lado foi construída uma
churrasqueira, uma pequena cozinha com dispensa, dois banheiros e um depósito.
Assim era, a grosso modo, o nosso refeitório, a cozinha, a copa, o local para
algumas atividades, o lugar para recreação e para uma série de outras coisas
que acabaram sendo realizadas ali. Durante as refeições, foi esse local que utilizamos.
Já para as outras atividades, quando foi necessário um local grande e aberto,
utilizamos a quadra poliesportiva. Mas, a quadra só podia ser usada durante o
dia, pois não possuía iluminação. Ainda, a quadra de esporte não era coberta e,
nestas condições, além de não poder ser utilizada à noite, também não podia ser
utilizada quando chovia. Logo, todas as atividades programadas para utilizar a
quadra poliesportiva, durante o dia, tinham, como plano B, o uso do refeitório.
Por isso, aquele ambiente foi, e continua sendo, muito mais do que um
refeitório. O chamamos de refeitório apenas para referência.
Mas, enfim, era o que tínhamos e tivemos que nos adaptar à
Casa Betânia. Assim, partimos para a definição de como seria utilizado esse
espaço. Com relação aos dormitórios, era
necessário um número o suficiente para acomodar todos os “encontristas” e a
equipe de trabalho. Como comentado, antes, tínhamos apenas oito salas que ficam
disponíveis para serem utilizadas como dormitórios. Seriam essas oito salas,
então, que teriam que comportar todos os “encontristas” e, se possível, também,
acomodar a equipe de trabalho. O critério definido, desde o início, foi
utilizar sete das oito salas para acomodar os “encontristas” e destinar uma
delas para a equipe de trabalho.
Entretanto, não era somente a distribuição das pessoas que gerava
preocupação em relação aos dormitórios. Até o quinto INOVAR, a gente se
encarregava de fornecer colchões para todos que participavam do encontro.
Lógico que não os possuíamos todos. Quando montamos o primeiro, apenas vinte
colchões estavam à nossa disposição na Casa Betânia. Isso nos indicou que seria
necessário conseguirmos mais de cem colchões para acomodar todos os jovens
esperados. Várias opções foram buscadas, mas só conseguimos atender a nossa
demanda com a ajuda do sindicato dos professores do nosso Estado, que nos
emprestou mais de oitenta colchões. Depois que conseguimos esse empréstimo, foi
necessário buscá-los no clube do sindicato, onde os colchões estavam
depositados. Aluguei um caminhão e fui com o motorista buscar aquilo que seria
a solução para a moçada dormir. Alguns, nem conseguimos trazer, devido ao
estado de decomposição em que se encontravam, outros, trouxemos em condições de
uso bastante comprometidas, mas era necessário, porque não teríamos outra
solução. A partir do segundo encontro, esta via de solução não foi mais possível,
em razão das péssimas condições dos colchões.
Descartada a opção de emprestar do sindicato, para o segundo
INOVAR, decidimos por pedir emprestados às famílias paroquianas os colchões
necessários para realizar o encontro. Com isso, por um lado, conseguimos espumas
de melhor qualidade, por outro lado, foi necessário desenvolver uma logística mais
trabalhosa para recolher os colchões nas casas, antes do encontro, e
devolvê-los, depois. Logística, na ocasião, significava eu pegar um carro e ir às
casas buscar e, depois, devolver para as famílias, ao término do encontro.
PARA
QUANTOS JOVENS
Uma
das grandes questões que apareceram no momento de montar o encontro, girou em
torno do número de participantes. Numa primeira abordagem, o número de
participantes determinaria o tamanho de cada uma das atividades, já que, em
tese, um maior número de participantes implicaria num maior número de equipes,
além do que, as atividades onde cada equipe deveria apresentar o seu resultado
seriam maior ou menor, a depender da quantidade de equipes que fariam as
apresentações.
Para
se resolver com certa razoabilidade esse problema, ficou definido que o número
ideal de participantes deveria ser de oitenta jovens. Com isso, montava-se oito
equipes, com dez integrantes, cada uma, e sobre esse número poderíamos fazer o
planejamento necessário. Assim foi feito. O encontro, independentemente do
número de participantes, seria montado para se trabalhar com oito equipes. Sobre
essa definição, partiu-se, então, para calibrar as atividades dentro do tempo
que se tinha à disposição. Por exemplo, uma apresentação cujo tempo disponível
era de trinta minutos, foi dividida por oito equipes e, portanto, cabia, a cada
um dos grupos, uma fatia de mais ou menos três minutos e meio. Assim o foi para
todas as atividades. Claro que isso só é possível porque as equipes são organizadas,
contendo um redator, que é o responsável pela redação de qualquer trabalho da
equipe, e um apresentador, que se encarrega de apresentar o trabalho em nome daquele
grupo. Assim, independente da quantidade de pessoas que tinha em cada uma das
equipes, o tempo para a atividade seria o mesmo.
Desta
mesma forma, foi definida a ocupação dos dormitórios, já que tínhamos à
disposição somente oito salas que poderiam ser utilizadas para este fim. Uma
das salas foi reservada para o dormitório das mulheres que faziam parte da
equipe de trabalho.
Portanto,
sobraram sete salas que poderiam ser utilizadas pelos “encontristas” como
dormitórios. Todos os inscritos deveriam caber nesses sete dormitórios. Mas,
para definir a separação dos inscritos no tocante a ocupação dos dormitórios,
existia um complicador a mais: as equipes eram mistas, entretanto, os
dormitórios deveriam ser separados por sexo.
Então,
para ocupar os dormitórios era necessário que se computasse, primeiro, quantos
inscritos eram homens e quantos eram mulheres. Definidas as quantidades de cada
sexo, por meio de uma proporcionalidade, chegamos a quantos dormitórios deveriam
ser destinados para homens e quantos deveriam ser destinados para mulheres. Por
tal método, os jovens foram distribuídos nos dormitórios. Desta forma, então,
independentemente do número de inscritos, os dormitórios foram ocupados
racionalmente.
Às
vezes, um complicador que se apresenta é a existência, dentre os inscritos, de algum
jovem com necessidades especiais, sobretudo quando essas necessidades dizem
respeito à dificuldade de locomoção. Como são sete os dormitórios, é de bom
alvitre que sejam ocupados tendo como referência o sexo dos ocupantes, em
sequência. Assim, se o dormitório número um for ocupado por mulheres, deve-se
atribuir os demais, em sequência, até se acomodar todas as mulheres, para, só
depois, iniciar a definição dos dormitórios masculinos. Como os dormitórios são
distribuídos em dois pisos, deve-se tomar cuidado para que a pessoa com
dificuldade de locomoção não fique no piso superior. Isso pode trazer uma
complicação, pois, às vezes, essa situação pode impor uma quebra de sequência
da numeração, o que deve ser evitado, sempre.
Dois
efeitos colaterais são possíveis nessas fórmulas, tanto para as equipes, quanto
para os dormitórios. Pode-se formar equipes com um número muito grande de
participantes, ou montar dormitórios superlotados. Isso se houver muitas
inscrições e todos os inscritos comparecerem. Por outro lado, pode-se formar
equipes muito pequenas e dormitórios subutilizados, caso haja poucas inscrições
ou poucos inscritos comparecerem.
Assim, conseguimos nos adaptar à Casa Betânia e, no final
das contas, as rotinas do encontro acabaram sendo influenciadas pelo ambiente
que se tinha à disposição. A movimentação das equipes de “encontristas” e da
equipe de trabalho era feita com base no perfil estrutural da Betânia e todas
as outras atividades ficaram com a cara daquele ambiente. O quarto e o quinto INOVAR
tiveram que ser realizados em outro local. A realização do encontro em outro
local nos propiciou notar o quanto o evento estava adaptado à Casa Betânia.
CADÊ
A CASA BETÂNIA
QUE
ESTAVA AQUI?
A
gente sempre ouve falar que a Igreja Católica não presa pela democracia, já que
tudo que acontece em seu seio são decisões tomadas sem consultar a base e,
portanto, sem se preocupar com o que pensam os fiéis.
Essa
percepção faz todo o sentido quando se observa tudo o que diz respeito à
doutrina da nossa Igreja. Nesses vinte séculos de existência, a Igreja Católica
sempre obedeceu a uma linha doutrinária conservadora, sem se preocupar muito
com as modernidades ou com os modismos. Não fosse assim, não perduraria por
tantos séculos. Essa rigidez se deve ao fato de que a doutrina de qualquer
religião cristã, não importando a denominação, deve, obrigatoriamente, refletir
a maneira como aquela igreja interpreta os evangelhos. Os evangelhos, como se
sabe, são estanques e não mudam e não mudarão jamais. Logo, a interpretação que
se dá a eles também não deve sofrer variações importantes. Vale dizer, se o
vento soprar para um lado ou para o outro, a doutrina católica pouco mudará.
Entretanto,
nas questões administrativas da Igreja Católica o comportamento deve ser
diferente e o próprio Código de Direito Canônico indica que seja diferente. O
Código exige que todas as paróquias sejam dotadas de Conselhos, tanto para os
assuntos pastorais, quanto para as questões econômicas/ administrativas. Lógico
que esses conselhos funcionam melhor ou pior, dependendo do que o pároco pensa
sobre eles. Alguns párocos dão ouvidos a esses conselhos, outros os mantêm
apenas para cumprir formalidades.
A
Casa Betânia foi construída para atender às necessidades das pastorais e dos serviços
da nossa paróquia, com a participação ativa e decisiva de todos os fiéis. Quando
ficou pronta, foi uma grande satisfação para todos, que festejamos o fato de
podermos, a partir daquele momento, ter à nossa disposição um aparelho superimportante
para o atingimento das metas que cada setor da paróquia definia. Muita batalha
foi travada, também, pelo pároco da época, para que se atingisse esse
resultado. Muita verba foi conseguida no exterior, sobretudo na Itália, com o
objetivo de ver aquele projeto realizado. O que faltava, os fiéis arregaçavam
as mangas e conseguiam, por meio de promoções, de cotização e por outros meios.
A inauguração daquele espaço foi muito comemorada, com disputa de torneios de
esportes, banhos de piscinas, muito picolé e um almoço compartilhado. Depois de
inaugurada, o pároco partiu para arranjar os meios necessários para utilizar
aquele espaço, inventando as mais variadas formas para conseguir os itens da
infraestrutura. Lembro-me de que, para conseguir mesas e cadeiras, a fim de
equipar as salas, o pároco estipulou que cada pastoral ou serviço que fosse
utilizar a Casa Betânia deveria deixar no ambiente duas mesas e dez cadeiras de
plástico. Mesas e cadeiras deveriam ser de uma marca especial, pois era a mais
resistente. Assim foi feito. As mesas e as cadeiras brancas, de plástico, que
existem até hoje, foram conseguidas desta forma. Depois disso, não se
acrescentou nenhuma mesa por lá. Ao contrário, é muito comum vermos, na Matriz,
as cadeiras que deveriam estar, lá, na Casa Betânia.
Iniciava-se
o ano de dois mil e onze e veio uma notícia bomba. Não tínhamos mais à
disposição a Casa Betânia. Numa decisão totalmente equivocada e totalitária, o
único ambiente que tínhamos para fazer nossos encontros e retiros foi cedido
para funcionar o Seminário da Arquidiocese. De repente, ficamos desprovidos de
um local, aliás o único, onde era possível programar atividades pastorais, de
recreação, confraternização e os demais usos próprios das atividades da nossa
igreja.
Essa
decisão foi tomada sem ouvir as pessoas interessadas, pois ninguém sabia dos
detalhes sobre a cessão. Por quanto tempo? Em que condições? E tantas outras
perguntas que se fazia, à época. O fato é que, no susto, de repente, estávamos
sem um local tão festejado por todos. Esse episódio me mostrou uma face da
nossa Igreja que reputo a mais cruel: o mercantilismo, traduzido no desejo de,
em algumas cabeças, obter recursos materiais a qualquer custo.
O
nosso seminário arquidiocesano funcionava, desde mil novecentos e oitenta e
cinco, num prédio da cúria, que, em tempos remotos, abrigava um Grande Colégio da
cidade. Quando o colégio deixou de funcionar, ali, começou a funcionar o
Seminário Maior João XXIII, que formava os padres diocesanos da nossa
arquidiocese. Essa utilização, dada àquele prédio, fazia com que houvesse uma
subutilização do imóvel, visto que, sabemos, vocacionados para o sacerdócio tem
sido em número muito reduzido, bem menor do que o necessário.
A
determinado tempo, foi tomada a decisão de instalar naquele prédio uma
faculdade, que oferece alguns cursos de graduação e pós-graduação. Por um bom
período, essa faculdade funcionou harmonicamente com o seminário no mesmo imóvel.
Mas, talvez visando a um incremento no resultado financeiro do antigo colégio,
o seminário foi convidado a se retirar de lá, para que a faculdade pudesse
expandir as suas atividades. Entretanto, não existia um local onde o seminário
pudesse se instalar. Nesse cenário, então, foi que perdemos a nossa Casa
Betânia, naquele ano. Aparentemente, o retorno financeiro desta operação parece
estar compensando aquela decisão frontalmente contra os interesses das pastorais
da nossa paróquia.
Para
que o seminário se instalasse na Casa Betânia, a arquidiocese teve que fazer
algumas alterações. Construíram uma cozinha nova, com lavanderia, uma passarela
coberta e reconstruíram a parede da sala que havia sido desmanchada para formar
o auditório. Dois anos depois, quando a arquidiocese devolveu a Casa Betânia para
a gente, nossa paróquia teve que pagar uma grana alta para a Cúria. Segundo informação
corrente, à época, chegou a quase duzentos mil reais o valor que a arquidiocese
exigiu para devolver a Casa Betânia, que, segundo consta, teriam sido pagos.
Mas,
com a decisão autoritária tomada, não tinha outro jeito a não ser buscar novo
local para realizar o quarto INOVAR. Naquele momento, me senti como aquele
piloto que inicia a corrida, ultrapassa a todos os outros e, quando faz um pit stop para trocar os pneus, a equipe
faz uma lambança, perdendo tempo o suficiente para colocar o piloto lá atrás,
de novo. Então, o piloto tem que iniciar as ultrapassagens novamente. Fomos,
então, correr atrás de um novo local para realizar o encontro.
A
arquidiocese acabou nos disponibilizando seu centro de treinamento de
pastorais. Este local possui um auditório formal, com poltronas razoavelmente
confortáveis, uma cozinha bem montada, uma capela que comporta em torno de cem
pessoas. Os dormitórios, mais confortáveis do que os da Casa Betânia, eram
quatorze. Com isso colocava-se mais um complicador, já que para cada dormitório
é necessário que haja um adulto para tomar conta, o que dobrava o contingente
de pessoas para essa função. Mesmo o auditório, que a princípio se mostrava uma
vantagem, disponibilizava apenas um único banheiro para cada sexo.
Esta
configuração do centro de treinamento da arquidiocese dificultou muito a
realização do encontro. Sobretudo se considerarmos que era no meio do nada, a
treze quilômetros da cidade, o que envolvia uma logística de transporte ainda
maior do que o normal. Ou seja, mais custos.
Mas,
felizmente, depois de muita aporrinhação por parte das pessoas encarregadas de
zelar pelo centro de treinamento e, depois de realizar três encontros (dois INOVAR
e um RENOVAR), reavimos nossa Casa Betânia e pudemos deixar de utilizar as
instalações da arquidiocese, voltando para casa.
Mas o grande nó que apareceu para montar o INOVAR foi a
questão financeira. Os recursos necessários eram de tal monta que fugiam de
todos os padrões, até então, existentes. Recursos para um único evento, bem
entendido. Normalmente, para qualquer evento que se realiza na Igreja, os
recursos, por serem escassos, são rateados entre os participantes, por meio de
uma colaboração, de lanches compartilhados e de outras contribuições e
alternativas que os próprios participantes apresentam.
Entretanto, o INOVAR tinha uma dinâmica diferente neste
quesito, pois foi pensado para oferecer aos “encontristas” tudo o que de melhor
pudesse ser oferecido, sem, contudo, cobrar um centavo dos participantes.
Chegou-se ao requinte de não deixar os participantes gastarem nem mesmo com o
transporte para ir ao encontro ou voltar para a casa. Isso envolvia gasto com o
deslocamento, por exemplo, tanto para trazer os “encontristas”, como para
trazer os familiares para o encerramento e levá-los embora, depois da missa
final. Essa logística de transporte foi aplicada até a quinta edição do
encontro. Depois, foi impossível oferecer o transporte para todos, pois os
participantes já não eram mais somente da nossa paróquia. Como não seria
possível oferecer o serviço para uma boa parte dos inscritos, decidimos eliminar
por completo esta facilidade, a partir da sexta edição.
Mas os gastos com este evento seriam altos e fora dos
padrões que se estava acostumado a praticar nos retiros. Isso sem contar os custos
não contabilizados, por exemplo, do combustível que eu gastava percorrendo
quilômetros e quilômetros de ruas para visitar os inscritos.
A
CIDADE NA PALMA DA MÃO
Dentre
as coisas que foram colocadas como imperativo, estavam as visitas que deveriam
ser feitas às casas dos inscritos, com o objetivo de conversar com a família de
cada um deles para explicar as regras de comportamento do encontro e, também,
fazer a apresentação de pelo menos uma pessoa adulta que iria ficar com a
responsabilidade de conduzi-lo.
Isso
era necessário por que os paroquianos não estavam acostumados com atividades na
paróquia em que os participantes ficariam confinados, dormindo no local, e,
portanto, era normal que as famílias pudessem ficar preocupadas com o que iria
acontecer nos três dias em que seus filhos participariam do encontro.
Nossa
paróquia cobre uma extensão territorial que abrange sete bairros, alguns dos
maiores da cidade. Para se ter noção da imensidão desse território, contamos
com dez comunidades, com sua própria capela, onde são realizadas as celebrações
semanais. Como a ideia era abranger todas as comunidades, quando as inscrições
foram abertas fomos, eu e a minha esposa, visitar cada uma dessas comunidades
para divulgar a abertura das inscrições e os mecanismos para coletá-las.
Como
decidimos pelas visitas, era necessário encerrar as inscrições pelo menos dois
meses antes do encontro. Só assim seria possível visitar as residências de todos
os inscritos.
Coletadas
as inscrições, tabuladas e listadas, era época de partir para as visitas em
cada uma das residências dos jovens que se propunham a fazer o encontro, rotina
repetida até a sexta edição. Até o sexto INOVAR recebemos novecentas
inscrições. Claro que nem todos fizeram o encontro, mas tínhamos que visitá-los.
Considerando que existem algumas inscrições de irmãos e que, naturalmente, a
visita a um dos irmãos serviria para os demais, deve ter totalizado em torno de
oitocentas casas, que foram visitadas nessas seis edições do encontro.
Considerando ainda, que, em alguns casos, foi necessário voltar à casa, mais de
uma vez, tem-se que mais de mil visitas foram feitas nesses seis primeiros
encontros.
Nos
primeiros três encontros, minha esposa fazia as visitas junto comigo, mas nos
outros, fiz essas visitas sozinho. Lembro-me que na quarta, quinta e sexta
edições tive que fazer visitas até em cidade vizinha. Começaram a aparecer
bairros em todas as regiões da cidade, já que o encontro foi sendo propagado
para outras paróquias. Diante disso, a partir da sétima edição foram
abandonadas as visitas aos inscritos.
Em
função dessas visitas, conheci bairros e ruas que nunca imaginei existirem e
passei a ter a cidade na palma das mãos, principalmente os bairros da nossa
paróquia.
Hoje,
o INOVAR é realizado sem essas visitas e já ouvi alguns inovaristas antigos
sugerirem que as retomemos, já que isso fazia muita diferença.
Mas as visitas, apesar de darem muito trabalho e despesas,
não tinham o seu custo computado. Eu o suportava com recursos próprios. Entretanto,
os outros custos chegavam a algo em torno de oitenta reais por cada “encontrista”.
Como se esperava fazer o evento para oitenta jovens, o custo estimado para o
primeiro INOVAR era de aproximadamente seis mil e quatrocentos reais, algo em
torno de quinze salários mínimos. Com o passar do tempo, fomos diminuindo esse
custo. Hoje, não temos mais transportes, como dito acima, e este custo
representava algo próximo de vinte por cento das despesas. Outra coisa que
abolimos foi o fornecimento de colchões para os “inovaristas”. A partir da
sétima edição, cada jovem passou a trazer os próprios colchonetes. Antes, era a
gente que se encarregava de fornecê-los e, lógico, com o custo inerente.
Lembro-me de que, na quinta edição do encontro, estávamos com um déficit de cinquenta colchões e, certa
noite, passeando pelo shopping, notei,
numa loja de departamentos, uma oferta de colchão inflável para piscina.
Analisei aquelas boias e percebi que seria possível utilizá-las para os jovens
dormirem as duas noites do encontro. Então, gastei em torno de seiscentos reais
e comprei os cinquenta “colchões” que estavam faltando.
Como dizia, então, muitos custos foram sendo abolidos ao
longo do caminho. Isso se deve ao fato de o encontro já estar sedimentado entre
os jovens e a demanda por vaga, hoje, ser muito grande. Com isso, os jovens
fazem qualquer sacrifício para participar do INOVAR. Diferentemente do início,
quando ninguém conhecia o evento e era necessário, para trazer os jovens,
oferecer, a eles e às suas famílias, todos os meios e, desta forma, “convencê-los”
a participar do encontro.
COBRAR,
OU NÃO, TAXA DE INSCRIÇÃO.
Durante
a montagem do INOVAR discutiu-se muito sobre se deveríamos cobrar ou não uma
taxa de inscrição do jovem que estivesse disposto a participar do encontro.
Lógico que esta discussão teve lugar porque os custos se apresentavam muito
altos.
Sempre
fui contrário à cobrança de qualquer taxa de inscrição para que qualquer pessoa
participe dos eventos que a Igreja ofereça. Os motivos são os mais variados,
mas dois deles saltam aos olhos: A questão financeira, propriamente dita, e uma
questão que diz respeito a uma instituição, ou a alguém, que se oferece para
ajudar as pessoas e decide impor uma cobrança por isso.
Olhando
pelo prisma financeiro, simplesmente, seria um contrassenso querer cobrar de um
jovem para que participasse de um encontro na Igreja, sabendo que, para se captar
o suficiente, no nosso caso, para cobrir todas as despesas, a participação de
cada pessoa exigiria a cobrança de uma taxa em torno de oitenta reais. Esse
valor representava bem mais do que dez por cento de um salário mínimo
brasileiro e, como sabemos, existem muitas pessoas que ganham apenas um salário
mínimo. Portanto, cobrando oitenta reais para um jovem participar, poder-se-ia
estar cobrando mais de dez por cento da renda da sua família, o que seria proibitivo
e injusto.
Outra
questão, das mais importantes, também com relação a isso, é o fato de a
proposta ser de oferecer ao jovem uma opção para fazê-lo refletir sobre uma
série de coisas, com o objetivo de fazê-lo, em última análise, mudar de vida. Então,
vale dizer, estávamos nos propondo a ajudá-lo de alguma forma. Assim, ao cobrar
uma taxa de inscrição, estaríamos cobrando para poder ajudá-lo, o que,
convenhamos, não estaria correto.
Discutiu-se,
à época, uma taxa de inscrição simbólica, apenas para não dar nada de
mão-beijada, mas, mesmo assim, não impedir as pessoas de se inscreverem, caso
não dispusessem dos recursos. Lembro-me que foi estipulado um valor de sete
reais para quem pudesse pagar, que serviria apenas como caráter pedagógico.
Mas, mesmo assim, se deu pouca importância à cobrança dessa taxa. Houve cento e
sete inscrições, sendo que noventa e nove confirmaram presença e apenas onze
pagaram a taxa, sendo arrecadado apenas setenta e sete reais.
O custo para os primeiros encontros, sobretudo do primeiro,
então, foi muito alto. Mas, se quiséssemos fazer um evento com a qualidade
pretendida, teríamos que gastar todo aquele montante e, aí, residia um grande
problema: como conseguir esses recursos. No primeiro encontro, o que salvou a
lavoura foi um baile do dia dos pais promovido pela Pastoral Familiar, onde foi
conseguido quase sessenta por cento do necessário. O restante foi conseguido
através da renda do bar, neste baile, que aquele grupo inicial de jovens tocou.
A renda do bar somou recursos em torno de vinte por cento. Quanto ao restante;
uma parte foi reembolsada pela paróquia e assumimos o que faltou.
Para o segundo encontro, as fontes se diversificaram um
pouco. Tivemos a ideia de lançar a campanha “adote um inovarista”. Esta
campanha consiste em angariar pessoas, já no início do ano, para colaborar com
o valor relativo ao custo de um “inovarista”, que, à época, estava estipulada
em oitenta reais. A pessoa que fizesse esta adoção assumia o compromisso de
pagar o valor da contribuição até o dia da realização do encontro. O próprio
adotante escolhia a maneira como iria pagar, em parcelas ou em uma única vez,
definindo a data que iria pagar as parcelas ou que iria pagar o total. Duas
coisas eram importantes em cada adoção: o compromisso da adoção e a garantia de
que na data do encontro o valor estaria quitado. Com a adoção conseguiu-se
quase a totalidade dos recursos necessários. Para completar as necessidades,
duas fontes apareceram: vendas de chocolates e vendas de quadros. Aproveitamos
o baile dos pais da Pastoral Familiar para vender chocolates feitos pela minha
esposa e levamos alguns quadros que eu e minha esposa pintávamos, à época, para
vender aos presentes por meio de leilão. Ao final, com um aporte aqui e outro
ali, foram completados os recursos o suficiente para o encontro.
Como se nota, não existe uma fonte de recursos definida para
o INOVAR. Cada um dos encontros é um deus-nos-acuda para se conseguir todo o dinheiro
necessário. Espero que a equipe que está assumindo a operacionalização do INOVAR
tenha sucesso em conseguir uma fonte segura e definitiva para tocar o evento.
O PARTO
Depois de uma longa preparação e de uma espera ansiosa,
finalmente se anuncia o parto do filho tão aguardado. A primeira edição do
encontro começa e é chegada a hora de ver se todo o planejamento estava correto
e se as coisas iriam acontecer da maneira como todos esperávamos. O encontro
era novidade para todo mundo. Mesmo para mim, que tive a ideia e projetei cada
uma das atividades do evento, naquele formato, era a primeira vez que
participava. Lembro-me de que fiz muitos testes de prancheta para validar o
projeto e sempre havia alguma coisa a corrigir. Todos os erros encontrados nos
testes de prancheta foram corrigidos, mas há tantos produtos que são testados
exaustivamente nas pranchetas e, quando são lançados, apresentam muitos
problemas não percebidos na fase de testes, que temíamos o risco de vir a ser
assim, também, com o INOVAR. É certo que tínhamos um diferencial. Não estávamos
lançando um produto qualquer. O nosso produto foi gerado com uma parceria de
respeito, afinal de contas, estávamos fazendo tudo isso em nome de Deus,
especialmente com o objetivo de mostrar o seu filho Jesus aos jovens da nossa
paróquia. Com uma parceria assim, não tem como não dar certo. Mas chegou a impor
uma certa dose de medo.
Uma frase que sempre gostava, e gosto, de repetir para todos
que trabalham no INOVAR, atribuída a Santo Ignácio de Loyola, diz o seguinte: “Trabalhe
como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus”. Com
esta frase eu gosto de lembrar às pessoas que vão trabalhar no encontro que
devemos deixar para Deus apenas aquilo que seja humanamente impossível de
fazer, ao resto devemos dar toda a nossa dedicação para que as coisas sejam
perfeitas. Com este espírito é que estava presenciando o nascimento daquele
filho por tanto tempo acalentado.
O primeiro desafio era trazer as pessoas de suas comunidades
para a concentração que ocorria na matriz, de onde todos os “encontristas”
sairiam rumo ao local do encontro. Para isso, foi colocado um ônibus para
percorrer todas as comunidades, recolhendo os jovens que se inscreveram para o
encontro. A logística foi planejada para fazer um círculo no território
paroquial, de tal sorte que o ônibus não precisasse refazer qualquer caminho
que já tivera percorrido. Para isso, foi estipulado o horário correto em que se
passaria em cada comunidade, esperando que os jovens estivessem a postos para
serem apanhados. Definida a logística, a sua execução foi entregue ao jovem
mais velho da equipe de trabalho.
O FATOR DINOSSAURO
Em
todo time de futebol sempre tem um jogador que é chamado de “carregador de
piano”. Esse jogador é aquele que passa os noventa minutos do jogo sem que
ninguém perceba a sua presença, pois não faz gol, não faz nenhuma jogada de
efeito. Entretanto, ao analisar o jogo, percebe-se que ele foi fundamental para
a obtenção do resultado final.
No
time de trabalho do INOVAR, especialmente a do primeiro encontro, não foi
diferente. Uma pessoa se mostrou o carregador de pianos da equipe. Aquela pessoa
que, na maioria das vezes passa despercebida, mas que é sempre imprescindível
para a realização de qualquer evento. Essa pessoa, por ser a mais velha do
grupo de jovens que estava trabalhando no encontro, recebeu o apelido de
dinossauro, depois trocaram para o nome de um refrigerante regional.
A
função do dinossauro, durante o encontro, foi a de controlar o tempo de cada
uma das atividades, função que desempenhou com extrema competência. Mas, na
montagem do encontro, foi inestimável a sua colaboração. Esteve sempre à
disposição para qualquer trabalho que lhe fosse incumbido. No dia de iniciar o
encontro, foi a pessoa responsável por fazer o giro nas comunidades para
recolher os jovens que viriam para o evento. Esta função foi dada a ele porque,
além de tudo, conhecia muito sobre a nossa paróquia.
Nos primeiros encontros, recebíamos os inscritos todos na
matriz, onde eram conferidas as inscrições e era feito um último contato com os
familiares. Recebidos todos os inscritos, tínhamos sempre dois ônibus à
disposição para conduzi-los até o local do encontro. Essas duas horas foram
angustiantes para mim.
Minha esposa, sempre abraçando as minhas ideias, ficou
responsável por receber os inscritos na matriz, enquanto eu fiquei no local do
encontro orientando as equipes para os últimos aprontos. Então, nessas duas
horas, entre pegar os jovens nas comunidades e recebê-los na matriz, não tinha
noção do que estava acontecendo. Não sabia se a logística havia tido êxito e
não sabia se o número de inscritos que comparecia era o esperado. Foram cento e
seis inscrições e estava curioso para saber quantos decidiram ir ao encontro,
depois de visitar a casa de cada um e arrancar a promessa de que a maioria compareceria.
Todas as minhas dúvidas sobre essas duas horas só viriam a ser sanadas na hora
da chegada ao local do encontro, programada para as seis e meia da noite.
Enquanto acontecia a recepção dos jovens, eu, lá no local do
encontro, repassava as últimas recomendações, fazíamos uma última oração e
tentava fazer a conexão entre todos os setores do encontro. Por uma constelação
de fatores, entretanto, o primeiro INOVAR deu seus primeiros passos acéfalo.
Como sabem aqueles que já participaram do INOVAR, o encontro
foi desenvolvido para funcionar com dois coordenadores, um jovem e outro
adulto. A coordenação adulta coube a mim desempenhar até a nona edição do
encontro. Já a coordenação jovem foi entregue a uma pessoa que não estava
presente quando aquele encontro teve início. Como todos sabem, também, a ideia
original era de que o coordenador adulto seria a pessoa responsável pela
montagem do encontro e o coordenador jovem seria a pessoa responsável para conduzir
o encontro durante os três dias da sua realização. Mas, infelizmente, a pessoa
que foi encarregada de ser o coordenador jovem não estava presente na recepção
aos jovens, na chegada deles ao encontro e no início dos trabalhos. Acabou
chegando já quando as atividades estavam em pleno andamento.
Isso causou algum problema para o início dos trabalhos, pois,
durante o credenciamento dos jovens, tinha se programado que os crachás fossem
entregues aos participantes para que, desde logo, todos começassem a se tratar
pelos nomes. O crachá também deveria ter algumas informações importantes, como
a divisão das equipes e dos dormitórios. Mas, o coordenador não disponibilizou
os crachás com antecedência e não compareceu para o approach final. Resultado: a participação dos jovens foi iniciada
sem que eles estivessem identificados, sem saberem de qual equipe iriam
participar e em qual dormitório deveriam dormir. Este foi o grande problema que
aconteceu no primeiro dia do primeiro INOVAR. Se não estivéssemos trabalhando
para o melhor patrão do mundo, seria de se pensar em maus agouros. Mas,
estávamos trabalhando simplesmente para o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Assim, não tinha como dar errado, tampouco como se pensar em maus agouros.
Dos jovens que estavam trabalhando no encontro, apenas com o
coordenador é que houve problema, pois todos os outros foram uma grata
surpresa. Hoje, depois de passado tanto tempo, tenho uma explicação para isso.
O coordenador foi o único que não entendeu o tamanho da coisa que estava
começando. Todos os outros, embora não tivessem a dimensão exata de tudo,
sabiam que era muito grande. Mas o comportamento do coordenador me levou a várias
reflexões. Uma delas era o porquê de a gente se enganar tanto com as escolhas
que fazemos. Não se podia admitir que um encontro programado com tanta
antecedência pudesse ter o início que teve, com a coordenação pela metade.
De certa forma, caiu por terra um preceito que me era muito
caro: “só improvisa quem não planeja”. Aquela ausência foi a prova cabal de que
não houve o planejamento por parte do jovem coordenador. Explico: o jovem
coordenador não compareceu ao início do encontro, nem entregou os crachás,
porque estava envolvido com um trabalho de final de curso, o temido TCC. Isso,
por si só justifica a ausência de qualquer um. Afinal de contas, é um curso
inteiro que você está colocando em teste num trabalho de conclusão. A coroação
do êxito durante o curso acontece com isso. Entretanto, um TCC não é programado
da noite para o dia, ninguém se levanta de manhã, abre os e-mails e lê que
aquele dia é o gran finale para o seu
curso, quando você tem que desenvolver e apresentar um trabalho desse porte.
Esta é uma atividade conhecida com pelo menos seis meses de antecedência, para
ser possível fazer as pesquisas necessárias, escrever o trabalho e, finalmente,
apresentar, na data determinada. Muito provavelmente, a última definição é com
relação à data, mas que também não acontece de última hora. Ou seja, quem está
nesta jornada, sabe com antecedência o local, o dia e a hora em que haverá a
apresentação. Diante disso, aquilo dito acima é verdade, um trabalho de
conclusão de curso justifica qualquer ausência, porém, não há justificativa
para que uma pessoa responsável por um trabalho desses assuma os compromissos
que aquele jovem assumiu conosco. O mínimo que se esperava dele era que avaliasse
a situação, entendesse que não seria possível desempenhar a função que lhe
estava sendo confiada e declinasse do convite. Então, diante de dois
compromissos importantes, que são marcados com tanta antecedência, não é
admissível que a pessoa assuma a ambos, sabendo que um será fatalmente negligenciado.
Mas, enfim, foi o primeiro teste de estresse do INOVAR. Felizmente passamos bem
por ele.
Mas, retornando um pouco, quando os ônibus chegaram com os jovens,
pudemos constatar que dera certo a logística, a recepção funcionou sem
sobressaltos, a única nota destoante disso tudo foi a menor presença de jovens.
Das cento e seis inscrições recebidas, noventa e nove jovens confirmaram a
presença por ocasião das visitas, mas apenas sessenta e cinco jovens
compareceram. Uma frequência de mais de sessenta por cento, que se mostrou, ao
longo dos encontros, um número para lá de bom, pois tivemos alguns encontros em
que compareceram menos de cinquenta por cento dos inscritos. Mas, como se disse
anteriormente, o número ideal de jovens para o encontro, segundo todos os
planejamentos e testes feitos, girava em torno de oitenta. Como compareceram
sessenta e cinco, ficamos a apenas quinze jovens do número ideal e trabalhamos
muito bem com essa quantidade. Ao final do encontro, eram apenas sessenta e quatro
jovens, pois um deles, não conseguimos segurar até o final e desistiu no sábado,
à tarde, quando o levamos para a casa. Sempre frisamos, desde o início do
encontro que ninguém é obrigado a ficar até o final, que acontece no domingo à
noite.
SEGURANDO O JOVEM
NO ENCONTRO
Uma
das coisas que ficaram muito claras no planejamento, e não poderia ser
diferente, era que nenhum jovem iria para o encontro sem concordar em ir. Às vezes,
muitas vezes, aliás, o jovem não queria ir, mas concordava em ir para agradar a
mãe, o pai, os avós ou outra pessoa da família. Entre não querer e não
concordar, há uma diferença enorme. O jovem nem sempre queria ficar “preso”, da
sexta-feira, à tarde, até o domingo, à noite, sobretudo se considerando que o
jovem ficaria isolado do mundo exterior, sem telefone, sem TV e sem nada que o pudesse
conectar com aquilo que ficou fora do encontro. Por óbvio que o jovem não iria
querer isso. Entretanto, embora não querendo, alguns jovens concordam em fazer
esse “sacrifício” para agradar a algum parente.
O
contrário acontece com o jovem que não concorda em participar. Ele está lá
obrigado, já que não concordou em estar ali.
Então,
para quem não quer ir, mas concorda, o encontro passa a ser um grande programa
de índio. Já para aquele que foi sem concordar em ir, o encontro se torna
insuportável.
Entretanto,
durante todas as edições, apesar de todos nós procurarmos evitar que algum
jovem fosse ao encontro sem concordar, ainda assim, alguns “inovaristas” estavam
lá, mesmo não concordando. Isso dificulta em muito a nossa missão de fazer
esses “inovaristas” ficarem no encontro até o seu final. Em alguns casos, não
atingimos êxito neste intuito. No primeiro encontro, um dos “inovaristas” pediu
para ir embora e não teve jeito de convencê-lo a ficar. Neste caso, alguém da
coordenação põe o jovem em um dos carros disponíveis e o leva para a casa,
entregando-o aos familiares. Procede-se desta maneira para não correr o risco
de alguém sair de casa, com a família sabendo que o jovem irá participar de um
encontro na paróquia do bairro e, sem mais, nem menos, o jovem sair do encontro
e ficar por aí. Caso o “inovarista” saísse, não fosse entregue aos familiares e
acontecesse alguma coisa com ele, a responsabilidade seria dos organizadores do
encontro.
Quando
acontece de um “inovarista” desistir de participar, ficamos muito tristes e com
uma sensação de missão não cumprida. Por que isso? Como se disse, o INOVAR é um
encontro onde se procura fazer a família participar de diversas formas para que
o membro da família, que está lá dentro, sinta a presença e, ao mesmo tempo, a
falta de seus familiares. Com isso, a família fica de fora, na retaguarda,
desenvolvendo uma série de atividades para que, ao final, o encontro atinja o seu
objetivo, sobretudo para o seu filho ou sua filha que esteja lá dentro. Essas
atividades desenvolvidas pelos familiares, muitas vezes, começam muito antes de
o encontro se iniciar. Então, quando um “inovarista” decide deixar de
participar, nossa reação é das piores possíveis, pois, além de nos sentirmos
incompetentes para segurar um “inovarista” no encontro, ainda tem a decepção
que aquele jovem pode causar à sua família.
Felizmente,
isso aconteceu apenas em três encontros diferentes, com apenas três jovens.
Isso não quer dizer que outros “inovaristas” não tenham tentado ir embora. Ao
contrário, muitos tentaram. Quando isso acontece, a pessoa encarregada de
conversar com este “inovarista” sou eu. Felizmente, tenho conseguido segurar
muitos que pretendiam abandonar o encontro. Ao final, no domingo à noite, em
todos os casos, o “inovarista” que foi convencido a ficar, vem me agradecer por
isso.
Para
convencer aqueles jovens que pretendem sair, a não saírem, desenvolvi uma
técnica que tem funcionado muito bem. Como no sábado, à noite, existe uma
atividade que é o ápice do encontro e quem chegar até ali, com certeza, não
desiste mais, e como, por ser o sábado o dia mais cansativo do encontro,
normalmente é quando o jovem pensa na sua desistência. Considerando isso, eu
faço uma proposta ao “inovarista” desistente, com o seguinte teor “você fica
até a meia-noite de hoje. Caso você ainda queira ir embora, ao invés de ir para
o dormitório, vamos levá-lo para casa”. A atividade de sábado à noite acontece
e, não raro, procuro o “inovarista” que queria desistir, propondo levá-lo
embora, recebendo como resposta um retumbante não.
Assim,
tenho conseguido não perder mais nenhum “inovarista” e, no final do encontro,
todos ficam agradecidos, inclusive os familiares.
Passado o momento da recepção, com as informações que vieram
da turma que ficou recebendo os inscritos, vencidos os problemas gerados pela
ausência dos crachás, que o coordenador jovem não havia preparado, o encontro
teve o seu primeiro dia concluído com certa segurança. Todos os setores do
encontro funcionaram neste primeiro dia como uma orquestra bem afinada.
Uma das atividades da equipe de trabalho é uma reunião que
acontece depois de encerrados os trabalhos, no primeiro e segundo dias do
encontro. Essa reunião foi chamada de morcego, devido ao horário em que ela
acontece: normalmente começa a uma da madrugada e termina somente quando se encerram
os assuntos. Usamos a morcego para analisar os erros ocorridos durante o dia,
descobrir um meio de eles não se repetirem no dia seguinte e passar um pente
fino na preparação do restante do encontro.
A reunião morcego, do primeiro dia do primeiro INOVAR, foi
tensa, pois, desde sempre, esta reunião foi pensada para que fosse feita uma
avaliação realista, apontando as falhas que aconteceram, independente de quem
as tenha cometido ou causado. Sob esse prisma, é claro que a falha do
coordenador jovem foi o prato principal da avaliação. Tinha que ser assim,
principalmente para não passar uma mensagem errada para os demais. Se a falha
cometida pelo coordenador jovem fosse considerada alguma coisa irrelevante, acenaríamos
aos futuros coordenadores que seriam admitidas faltas, iguais ou maiores, e
isso poderia colocar em risco os próximos encontros. Também, naquele momento,
seria como admitir, aos olhos das demais pessoas da equipe de trabalho, que
poderiam considerar a possibilidade de não levar a sério as atividades daquele primeiro
encontro, o que, fatalmente, o colocaria em risco.
AVALIAR PARA QUÊ?
Qualquer
atividade que se faz na vida deve passar por uma avaliação após a sua
realização. Sobretudo, naquelas atividades seriadas, ou seja: aquelas que
acontecerão repetitivamente ou serão elos entre outras atividades posteriores.
Por isso, por exemplo, os técnicos de futebol fazem a avaliação com o seu grupo
depois da partida anterior e antes da próxima, os produtores de programas
midiáticos semanais também o fazem. Médicos o fazem depois de qualquer
procedimento mais elaborado. Ou seja, em todas as atividades humanas, a
avaliação de resultados é salutar para qualquer processo evolutivo.
Entretanto,
nas atividades religiosas não é usual colocar avaliações como parte integrante
do processo. Quando elas são colocadas, na maioria das vezes, ocorrem sob um
clima de “graças a Deus deu tudo certo” e bola para a frente. Quando alguém se
mete a fazer uma avaliação, de verdade, tocando em algumas falhas ocorridas, as
pessoas que cometeram as faltas apontadas logo tomam aquilo como pessoal e,
quase sempre, abandonam a caminhada, porque, na visão pobre dessas pessoas,
quem critica o faz porque está contra.
Pois
bem, “graças a Deus deu tudo certo” é a frase menos cristã que ouço depois de
uma atividade religiosa qualquer. Claro que tudo deu certo graças a Deus, mas
falar isso é assumir que não demos muita bola para nossas funções e deixamos
tudo pela vontade de Deus. Deixar tudo pela vontade de Deus significa que é
muito pouco o que estamos oferecendo para os eventos darem certos. Precisamos
relembrar Santo Ignácio de Loyola “Trabalhe como se tudo dependesse de ti e
confia como se tudo dependesse de Deus”.
Por
esse prisma, então, é necessário, sim, fazer uma avaliação realista ao final de
cada um dos eventos que realizamos no âmbito da Igreja.
Claro
que é muito difícil fazer isso. Certa feita estávamos, eu e a minha esposa, na
coordenação da Pastoral Familiar e, ao final de um Curso de Noivos, decidimos,
na avaliação, tecer comentários sobre todas as falhas por nós anotadas durante
aquele evento. Faltou lenço para tantas lágrimas e ouvidos para tantos muxoxos.
Não adiantaram nada todas as ressalvas feitas ou a inclusão até mesmo dos erros
que eu e a minha esposa tínhamos cometidos. As pessoas que haviam cometido as
falhas apontadas por nós, simplesmente acharam que não queríamos que elas
participassem mais daquele evento. Resultado: nos dois anos seguintes, enquanto
estávamos à frente da Pastoral, para todos os eventos, convocávamos uma
avaliação proforma, preocupados em não ferir suscetibilidades. Todos vinham com
aquele negócio de que “deu tudo certo, graças a Deus”, resultando que quem
participava da reunião de avaliação imaginava que estava diante de uma equipe
perfeita, que não cometera qualquer erro, ou seja; era o nirvana. Quando
deixamos a coordenação da Pastoral, deixamos de participar das reuniões de
avaliações, já que não era possível fazer uma avaliação realista do evento e, simplesmente
para falar das coisas que deram certo, não é necessária qualquer avaliação.
Afinal, fazer a coisa certa é obrigação de todos. Aliás, todos estão ali para
fazer as coisas certas. É necessário analisar os erros e avaliar as condições
em que eles ocorreram, não como “caça às bruxas”, mas para que os erros não se
repitam no futuro. Desta forma, daremos menos trabalho para Deus.
Aquele primeiro INOVAR, então, transcorreu bem e quase tudo o
que havíamos colocado na prancheta aconteceu. As duas ocorrências mais sérias
que houve neste encontro não chegaram a atrapalhar o resultado final. Aliás,
uma delas serviu para que fosse feita uma adaptação importante na rotina do
encontro.
A primeira ocorrência séria foi aquela dos crachás, que já
discutimos antes. A segunda ocorrência séria foi com relação às palestras.
Dentre as palestras havia uma com o tema “O corpo e o templo do Senhor”.
Palestra de apenas quinze minutos que era ministrada no sábado, à tarde. Por
outro lado, existia uma com o tema “Ser Jovem”, de vinte minutos, no final da
tarde de sábado.
A pessoa escalada para ministrar a palestra “Ser Jovem”, não
compareceu, mesmo com todos os cuidados que tomamos para não existir a falta de
palestrante, como já dissemos. Essa falta nos obrigou a um remanejamento para
atender a uma situação que não estava prevista no cronograma: um tempo livre
para os “inovaristas” irem para o dormitório, a fim de descansar e tomar um
banho. Esse tempo concedido a eles se mostrou mais producente, já que, na
programação, eles só voltariam ao dormitório ao final das atividades do dia e
isso os levaria a uma exaustão desnecessária.
Para acomodar, então, a necessidade de dedicar um tempo para
o dormitório, no sábado, ao final da tarde, foi feita a única alteração de
vulto naquilo que havíamos planejado e testado na prancheta. Decidimos por
abolir a palestra “O corpo e o templo do Senhor”, levamos a palestra “Ser
Jovem” para o início da tarde, encurtamos uma animação e um trabalho em grupo e,
assim, foi liberado o dormitório aos “inovaristas”, por quarenta minutos, para
usarem esse tempo da maneira que quisessem. Fora essa alteração, somente aconteceu
mais uma, que já discutimos antes. Aquela que foi feita para resolver o
problema da missa de encerramento, que, naquele formato e proposta, havia
perdido o sentido.
Então, com muito empenho dos jovens, com o apoio de alguns
adultos abnegados e com pouco apoio da estrutura da paróquia, o primeiro INOVAR
aconteceu, o segundo veio, vieram os outros e este ano realizou-se a décima
edição do encontro. Espero sinceramente que sejam as primeiras dez edições de
uma série infindável.
A UM PASSO DE CHUTAR O PAU DA BARRACA
Enfrentamos tantos problemas para realizar o primeiro INOVAR
que, eu e a minha esposa, tomamos a decisão de não realizar o segundo encontro.
Então, preparamos uma despedida dos jovens que aconteceria no “Dia de Lazer dos
Inovaristas”, uma tradição que se mantém desde o primeiro encontro. Depois de
nos despedirmos dos jovens, conversaríamos com o pároco e daríamos por
encerrada a nossa participação no projeto, que era a realização de um sonho
acalentado por muito tempo.
Foram tantos os problemas que enfrentamos que seria
cansativo ficar, aqui, narrando todos. Mas o descaso com que o evento foi
tratado, e ainda o é, fez com que essa marca de dez encontros se tornasse ainda
mais espetacular. Não fosse a rede de apoio criada pelos jovens, que viram no INOVAR
uma razão a mais para tocarem as suas vidas, teríamos sucumbido no meio da
batalha.
O INOVAR foi pensado, desde sempre, para que um padre se
fizesse presente durante todo o tempo do encontro. Um padre que dormisse no local,
que acompanhasse todas as atividades, que interagisse com a meninada e, sempre
que um deles sentisse a necessidade de um aconselhamento espiritual ou de uma
confissão, teria, ali, uma pessoa preparada para lhe atender. Esse padre,
então, seria o Diretor Espiritual do encontro e, bastante óbvio, parece, a
missa de encerramento seria “a” missa, coroando com uma celebração inesquecível
a todos os acontecimentos daqueles três dias.
Por essa ótica, o padre escalado para participar do INOVAR
estaria integrado com a equipe de trabalho, ajudando essa equipe nas questões
espirituais, espiritualizando o ambiente, ajudando a equipe da capela a manter
o clima de oração necessário para o bom desenrolar do encontro. Nem é preciso
dizer que precisaria de um desprendimento enorme para o exercício desta função,
pois o padre, no encontro, não teria nenhuma regalia, como acontece no seu
dia-a-dia. Ao contrário de ter um monte de gente trabalhando para que ele
desenvolva as suas atividades, ele estaria à disposição de um monte de gente para
que esses exercessem suas atividades.
Para a realização do primeiro encontro, foi solicitado,
então, ao pároco a cessão de um padre para ficar residente durante os três dias
do evento. Na ocasião, existiam dois padres que serviam a nossa comunidade. Então,
chegamos até a sugerir que fosse cedido o vigário paroquial, já que, na nossa
visão, este seria mais fácil de ser liberado, visto que, na hierarquia da
Igreja, o vigário paroquial é um cargo menos importante que o do pároco.
Portanto, foi feito o pleito para que fosse definido um padre para acompanhar o
encontro e que poderia ser o vigário paroquial.
Quem exercia o cargo de vigário paroquial, na ocasião, era alguém,
filho de uma família de origem italiana e alemã, muito simpático, com um
conhecimento bastante grande de doutrina católica, de liturgia e de muitas
outras coisas da nossa Igreja. Considerando a idade dele, estava acima da média
na questão da formação. A empatia que o vigário tinha com os jovens o
habilitava para exercer a função que necessitávamos, por isso o nosso pleito e
sugestão. Mas, sempre sabendo que a decisão deveria ser do pároco.
Fizemos o pleito e ficamos esperando a resposta. Enquanto
isso, fomos tocando os demais itens do planejamento. Era importante a definição
do padre residente, pois a alternativa a isso seria convidar uma freira para tentar
substitui-lo, o que também demanda tempo, visto ser uma atividade que consome a
pessoa durante três dias e isso requer um planejamento, também, por parte dos
religiosos. Mas, em qualquer caso, padre ou freira, seria necessário pensar nas
acomodações de um ou de outro.
Esperamos a resposta do pároco por algum tempo e, quando ela
veio, foi negativa. Não seria possível liberar um padre para ficar residente no
encontro. A decisão foi defendida com um argumento bastante forte, consistente
e lógico. O pároco nos colocou que ele, na condição de pároco, não poderia
ficar hibernado num encontro de jovens durante três dias e não poderia liberar
o vigário para não passar à juventude a ideia de que ser padre é apenas ficar
por aí tocando violão. Sim, esqueci de falar, o vigário que indicamos toca
violão muito bem. O medo, então, do pároco, era que isso pudesse passar aos
jovens a mensagem de que para ser padre bastaria saber tocar violão, ter
empatia e agradar aos jovens. Compreensível. Ou não?
Da maneira que nossa Igreja define a sua hierarquia, devemos
respeitar as decisões dos párocos e não há maneira de questioná-las. Assim,
fazer-se o quê? Acatar a decisão e partir para a organização do INOVAR sem a presença
de um padre residente. Convidamos uma freira para nos acompanhar e ficamos gratos
a ela por ter aceito de pronto. Essa freira nos acompanhou em alguns encontros
e, hoje, os encontros acontecem sem a presença de religiosos, o que não é muito
bom para os jovens que fazem o INOVAR. Mesmo com a presença da freira, ainda
assim, não tínhamos a opção de alguém para oferecer o sacramento da penitência,
que em alguns momentos faz tanta falta nesses tipos de encontro, até mesmo para
a equipe de trabalho. Muitas vezes bate uma vontade de se confessar durante o
trabalho com essa meninada, mas, graças à Deus, pelo menos a irmã estava
presente no primeiro INOVAR para nos apoiar.
Montando o primeiro encontro foi preciso utilizar algum
material da paróquia, pois o local disponível não possui a infraestrutura
necessária para a realização do INOVAR. Foi conversado com o pároco para que
pegássemos alguns equipamentos, sobretudo de som, que estavam à disposição no
salão paroquial. Concorde com isso, pedimos a um dos jovens para ir até a
matriz buscar tais equipamentos. Não sei se de propósito, ou por engano, quem
foi buscar os equipamentos pegou uma das caixas de som e um dos microfones que
era utilizado durante a missa. No meio da tarde de sábado alguém recebeu uma
ligação do pároco exigindo que fossem levados, imediatamente, a caixa de som e
o microfone para a paróquia. Acontece que tanto a caixa de som, quanto o
microfone, estavam sendo utilizados. Então, me passaram o problema. Quando
tentei contemporizar as coisas, pedindo ao pároco para ficar com os
equipamentos naquele final de semana, o pároco não concordou. Pedi, então, que
esperasse pelo menos terminar a atividade que estava acontecendo, para a gente
ver que solução daríamos para liberar os equipamentos. Inútil, o pároco não
concordou e disse que uma pessoa já havia saído da matriz para ir ao local do
encontro com o objetivo de pegar a caixa de som e o microfone, salientando que
era para a pessoa voltar, imediatamente, levando os equipamentos. Antes que
terminássemos a atividade que se realizava, chegou o mensageiro do padre e
fomos obrigados a terminar aquela atividade sem som, porque a caixa que estava
sendo utilizada na sala era exatamente aquela que deveria ser devolvida à
matriz. Microfone até tinha outro, mas caixa não. Mais uma vez, obedeça-se a
pessoa que manda, em detrimento de um grupo de jovens. Terminada a atividade,
tivemos que instalar uma caixa de som menos potente, que havíamos levado e
deixado de reserva, e, assim, tocamos o barco.
Uma das propostas, quando foi dado o início a esse trabalho,
era usar o INOVAR como um chamariz para os jovens e, a partir de então,
desenvolver um meio de fazê-los participar da caminhada, perenizando suas
atitudes em prol de uma vivência religiosa profícua. Para atingir esse segundo
objetivo, foi sugerido por nós que se criasse um grupo que serviria como
preparação para os jovens oriundos do INOVAR, a fim de que eles fomentassem a
criação de outros grupos. Os jovens aceitaram a sugestão e criaram um grupo que
recebeu o nome de NaCl, uma sigla que, ao mesmo tempo que representava aquilo
que eles queriam ser na terra, ainda representava aquilo em que eles
acreditavam. Como todos sabem, NaCl é o símbolo químico do Cloreto de Sódio,
que vem a ser o sal. Isso indicava, então, o que esses jovens se propunham a
ser no meio em que viviam. Mas, além do símbolo do sal, esta sigla também
representava o nome do grupo: “Nós acreditamos em Cristo libertador”.
“EM” OU “NO”
CRISTO LIBERTADOR?
Quando do debate
sobre o nome do grupo que se criava para abrigar os jovens oriundos do INOVAR,
foi travada uma discussão interessante sobre se o nome do grupo seria “Nós
acreditamos no Cristo libertador” ou se seria “Nós acreditamos em Cristo
libertador”. Ao final, ganhou a segunda opção, com uma justificativa
importante. Caso se usasse a fórmula “no”, estaríamos fazendo uma junção da
preposição “em”, mais o determinante “o”. Isso poderia denotar a interpretação
de que existe mais de um Cristo e a gente estaria adotando uma crença naquele
que é o libertador. Já pela fórmula “em”, usando apenas a preposição: denota
que existe apenas um Cristo, e que é libertador, no qual acreditamos.
Esse grupo se reunia aos domingos, às cinco e quinze da tarde.
Um horário meio estranho, mas era o que atendia a maioria das disponibilidades,
pois, no domingo, à tarde, todos já tinham almoçado com as suas famílias,
descansado e até, em muitos casos, já estavam morgando e, com um pouco de
coragem, era só se dirigir ao salão paroquial da Igreja e participar de uma
reunião agradável com os amigos. Por que às cinco e quinze e não as cinco
horas? Durante o horário de verão, temos, aqui, duas horas a menos no fuso
horário. Os jogos de futebol transmitidos pela televisão, na época, aconteciam
às duas da tarde, terminando entre quinze para as quatro e quatro horas. Quando
não era horário de verão as partidas aconteciam uma hora mais tarde, terminando
entre quinze paras as cinco e cinco horas. Assim, começando a reunião às cinco
e quinze, era possível atingir até as pessoas que gostavam de assistir futebol
pela televisão, no domingo, à tarde, independentemente de ser horário de verão
ou horário de inverno. O objetivo era facilitar para todos.
A nossa paróquia, por decisão das pessoas que a dirigiam,
alugou para a prefeitura todas as salas que as pastorais e serviços utilizavam
para fazer as suas reuniões. A prefeitura montou, lá, uma escola, que funciona
até hoje, e o espaço só é utilizado pela paróquia nos finais de semana, quando
não tem aulas. No sábado, à tarde, e no domingo, pela manhã, as salas da escola
são utilizadas pela catequese. O resto da semana não se tem acesso às salas e,
mesmo quando se tem o acesso, há o complicador de se tratar de um espaço
utilizado pelas crianças, com cadeiras para crianças, impossível de ser
utilizado pelas pastorais e serviços da paróquia. Com isso, sobrou apenas o
salão paroquial para todos os grupos que queiram fazer qualquer reunião, donde
se conclui que não é possível marcar duas reuniões simultâneas. Mas o CPA e o
pároco acham que compensa deixar esse espaço alugado.
Então, as reuniões do
NaCl deveriam acontecer no salão paroquial. Na maioria das vezes, aconteceu,
realmente, neste local. Mas, várias vezes, foram feitas as reuniões desse grupo
no pátio da Paróquia, porque, simplesmente, não tinha ninguém que pudesse abrir
o salão paroquial para os jovens se reunirem. Uma vez, me lembro, com
indignação até, que não conseguimos entrar nem no pátio da paróquia, pois o
portão frontal estava fechado e não havia ninguém para abri-lo.
Nossa intenção, minha e da minha esposa, era acompanhar esse
grupo até que pudessem caminhar com as próprias pernas e, isso, segundo
pensávamos, levaria um ano. Apesar do descaso com que se tratava esse grupo, o acompanhamos
e conseguimos que ele funcionasse por alguns meses, até que decidimos soltar as
mãos dos jovens e ficar por perto, vendo como seria a caminhada deles. Quando
tomamos esta decisão, percebemos um certo alívio de algumas pessoas e não
entendemos direito. Com o passar do tempo, ficou claro para a gente: Criou-se a
PJ, concorrendo com o NaCl. Resultou que tinha-se dois grupos de jovens na
paróquia, ambos sem assistência, ambos sendo tratados com descaso, e o NaCl foi
definhando até morrer. Sorte melhor não teve também a PJ.
De tanto remar contra a maré, decidimos que, no Dia de Lazer
dos inovaristas, iríamos nos despedir dos jovens, desistindo do sonho de criar
um movimento dirigido à juventude da nossa paróquia. Isso, depois de mostrar
que era possível fazer o trabalho a que nos propúnhamos.
Esse Dia de Lazer foi instituído, desde a primeira edição do
INOVAR, com a finalidade de proporcionar um dia de integração entre as pessoas
que fizeram o encontro e as pessoas que trabalharam para a sua realização. Como
o INOVAR acontece num local que possui piscinas e quadra de esporte e, durante
os três dias, os “encontristas” não usufruem dessa infraestrutura, pois,
durante o encontro, à exceção da piscina, é utilizada toda a instalação, além
de estarem assoberbados com as atividades, o Dia de Lazer, então, veio para proporcionar
a oportunidade de utilizarem tal estrutura para o seu laser, efetivamente.
Nesse dia, as únicas atividades que todos estão obrigados a participar são a da
oração inicial e a da oração final. O resto do período, embora sejam colocadas
várias atividades à disposição dos jovens, a participação não é obrigatória. É
muito comum estar rolando num canto uma gincana e uma turma ficar aproveitando
a piscina, ou jogando futebol, ou um carteado, ou tocando violão. Ou seja; é um
dia de liberdade total para os jovens. Inclusive, comidas e bebidas são levadas
pelos próprios jovens, sendo proibida apenas a entrada de bebida alcoólica.
Tínhamos traçado a estratégia de, ao final do dia, informar
aos jovens a nossa desistência, para que todas aquelas atividades não fossem
prejudicadas. Uma hora antes de terminar, reunimos o pessoal para a oração
final, após o que, faríamos o anúncio. Mas fomos surpreendidos com outra
atividade que os jovens haviam organizado para nós. Eles prepararam uma
homenagem, tão absolutamente emocionante, que nos levou, a mim e a minha
esposa, a chorar muito naquela meia hora de mensagens, que eles falaram, leram
e entregaram para nós, escritas em papéis, os mais variados possível. Alguns
escreveram em papel comum, outros fizeram verdadeiras obras de arte para
apresentar a mensagem escrita. Outros, ainda, fizeram em forma de poesia. Foi
uma torrente tão grande de palavras bonitas, mensagens lindas e demonstração de
afeto, definitivamente estonteantes, que, ao final, chorávamos copiosamente e
estávamos definitivamente na lona, derrotados e demovidos da nossa ideia de
abandonar aqueles seres maravilhosos, que mal estavam começando uma caminhada
religiosa e não mereciam ser abandonados, assim, de repente. Chegou o momento
de agradecermos por tudo aquilo que estávamos vivenciando e, não restava outra
coisa a fazer: Juramos fidelidade eterna àqueles meninos e meninas que estavam,
ali, com as mãos estendidas para que as segurássemos, a fim de lhes indicar um
caminho a seguir. Neste momento, fizemos um comentário rápido sobre a nossa
intenção de, até momentos antes, desistir de tudo e, no meio de soluços e
felicidades, fizemos as juras que esperavam que fizéssemos. Depois disso,
conduzimos uma oração final, encerramos o primeiro Dia de Lazer dos “inovaristas”
e fomos para casa, com a alma lavada e aliviados. Hoje, olhando em perspectiva,
percebemos que Deus é muito generoso conosco, pois não permitiu que desistíssemos
naquele momento, porque ainda tínhamos um importante trabalho para realizar com
os jovens da nossa paróquia. Graças à atitude daquela moçada, continuamos,
chegamos à edição número dez do INOVAR e já se vão mais de oitocentos jovens
que experimentaram a sensação de encontrar um sentido na vida. Somos muito
gratos àqueles jovens e, lógico, à Deus por ter nos proporcionado isso.
Nossa intenção de chutar o pau da barraca foi contida pelos
jovens, tocamos a vida à frente do grupo que acabava de se formar, mas,
infelizmente, o descaso com a juventude não cessou e continua a acontecer. As
coisas que dizem respeito às atividades dos jovens são consideradas coisas de menor
importância, sendo tratadas pelos responsáveis pela paróquia apenas quando
todos os outros assuntos já não precisam ser tratados.
No nono INOVAR, ainda tivemos um episódio envolvendo algumas
cadeiras que foram tiradas da Casa Betânia e levadas para a matriz e nunca mais
foram devolvidas. Essas cadeiras estavam fazendo falta para a montagem do
encontro e foi solicitada a autorização para retorná-las para o seu local de
origem. A pessoa a quem cabia decidir se podíamos trazer as cadeiras não
autorizou que as levássemos de volta. Para não causar danos prováveis ao
encontro, foi necessário alugar as cadeiras faltantes. Felizmente, não tivemos
nenhum custo, pois o casal que nos cedeu as cadeiras tem um filho e um sobrinho
“inovaristas” e se recusou a receber o aluguel.
Entretanto, o descaso com as coisas dos jovens na nossa
paróquia atingiu o ápice com um episódio ocorrido em dois mil e quatorze, que
abalou toda a paróquia, mas acabou prejudicando mais profundamente a juventude
espalhada por todas as comunidades. Esse episódio marcou profundamente a todos,
causou um grande desgaste a todas as pessoas envolvidas, relacionamentos
antigos foram abalados e, até hoje, o conjunto de todas as atividades paroquiais
ainda não superou os efeitos gerados. O pivô dessa crise tão terrível foi uma
congregação de freiras que atendia a nossa paróquia, desde sempre, e que se viu
obrigada a nos abandonar.
ABATIDAS EM PLENO VÔO
Desde quando ainda éramos uma comunidade de outra paróquia,
do bairro vizinho, tínhamos o privilégio de ser atendidos pelas freiras de uma
congregação oriunda da Itália. Trata-se das Irmãs da Sagrada Família de
Spoleto, instituto fundado pelo beato Pietro Bonilli, em 1888, que possui
ramificações em todos os continentes do mundo. Nossa paróquia, então, podia
contar com a presença dessas destemidas mulheres que, mesmo sem todas as
condições necessárias, foi de fundamental importância na estruturação das atividades
paroquiais, quando deixamos de ser uma comunidade e passamos a ser uma paróquia,
com administração própria. Aliás, neste momento da história da nossa paróquia,
tivemos a sorte de ser adotados pela Diocese de Spoleto. Tecnicamente não é
adoção que se chama a isso, mas para ficar um pouco melhor entendido, vamos
tratar como adoção. A Diocese de Spoleto, na Itália, que tinha por lá setenta e
quatro paróquias, considerou a nossa como se fosse a septuagésima quinta
paróquia daquela prelazia. Com isso, por muito tempo, a nossa paróquia era
dirigida por um pároco oriundo daquela Diocese. Foi nessa esteira que se
conseguiu fixar, por aqui, uma representação das Irmãs da Sagrada Família de
Spoleto.
Algumas mulheres que optaram pela missão de serem freiras,
saindo pelo mundo evangelizando as pessoas, atuaram, então, na nossa paróquia
por um longo tempo. Durante esse tempo todo, todas as áreas da nossa paróquia
eram atendidas por aquelas freiras. Com uma infraestrutura muito reduzida, suas
ações aconteciam nas comunidades de nossa paróquia, que chegou a um número de
dez, e o deslocamento das freiras se dava por meios que elas tinham disponíveis.
Na maioria das vezes, era a pé mesmo que elas se embrenhavam naquele barro todo
das ruas sem asfalto que compunham o território paroquial. Era a glória quando
uma delas conseguia uma bicicleta, que adquiriam com recursos ganhados de
alguém ou quando ganhavam a própria bicicleta, mesmo que usada. Nos últimos
anos, elas conseguiram adquirir um carro popular usado e já tinham um pouco
mais de conforto nos atendimentos às comunidades.
Muito antes de a gente trabalhar com os jovens em nossa
paróquia, quem cuidava da área eram as Irmãs da Sagrada Família de Spoleto. Muitos
jovens casais que, hoje, batizam seus filhos na nossa paróquia, seguem a nossa
religião graças a um trabalho forte que as freiras fizeram. Por motivos alheios
à vontade delas, deixaram de comandar diretamente os grupos de jovens da
Igreja, foi quando a juventude, organizada como estava, deixou de existir e os
jovens ficaram meio que jogados à própria sorte. Mas, quando iniciamos o
trabalho com a juventude, quem nos indicou aqueles jovens que poderíamos
convidar para dar o pontapé inicial, foram as freiras.
Mesmo que as freiras não estivessem mais diretamente envolvidas
com os jovens e mesmo que os jovens não estivessem mais organizados formalmente
em grupos, elas estavam presentes em todas as comunidades da paróquia e, ali,
davam assistência a todos, inclusive a eles. Quando, em alguma comunidade, os
jovens decidiam por um protagonismo maior, essas freiras é que eram procuradas
ou que compareciam para dar apoio e acompanhá-los. Isso fez com que algumas
comunidades montassem uma juventude ativa que, mesmo sem estar formalmente
organizadas, transversalmente estavam presentes em todas as atividades. Então,
era muito comum se ver nas comunidades, jovens tocando nas missas, ministrando
ensinamentos durante as aulas de catequese, fazendo visitas a famílias carentes
e uma série de outras atividades que eram propostas à comunidade.
Nestas condições, era muito confortável para a gente
comandar um serviço como o INOVAR, já que este serviço era apenas uma maneira
de fazer uma chamada aos jovens para que pudessem se ocupar das coisas da nossa
Igreja. Ocorre que o INOVAR, em si, é apenas um encontro, onde os jovens passam
algumas horas e saem de lá cheios de vontade de servir à religião. Mas,
falta-lhes alguém para segurar-lhes as mãos no dia-a-dia da caminhada, para
conduzi-los na missão de evangelizar, especialmente para outros jovens. Esse
papel era cumprido magistralmente pelas Irmãs da Sagrada Família de Spoleto.
Então, embora essas freiras nunca tivessem participado de um
INOVAR com a gente, existia, mais ou menos, um acordo tácito entre nós e elas em
que, a nós cabia formar a “mão-de-obra” e a elas cabia empregar aquela
“mão-de-obra” formada, no trabalho evangelizador. Essa parceria funcionou
perfeitamente durante todo o tempo, desde a ocorrência do primeiro encontro até
o momento em que as freiras foram embora para outras bandas.
Nem tinha começado direito o ano de dois mil e quatorze,
quando fomos surpreendidos por um imbróglio
cabeludo. As freiras da Sagrada Família de Spoleto estavam com um pé fora da
nossa paróquia. Voltando das férias de início de ano, me deparei com um
movimento interno que movia a maioria dos fiéis no sentido de evitar que aquelas
religiosas fossem embora e nos abandonassem. O movimento era mais intenso no
seio da juventude, já que seriam eles os maiores prejudicados, caso as irmãs se
despedissem de nós. Na ocasião, estava muito em moda o chamado “rolezinho”, que
consistia nos jovens combinarem um encontro num shopping e fazerem alguma manifestação. Aproveitando a onda do
rolezinho, a juventude da paróquia marcou um encontro deles na matriz, depois
da missa do segundo domingo do mês de março. Este encontro, que recebeu o nome
de rolezinho espiritual, tinha a finalidade de cobrar do pároco uma explicação
sobre a saída das freiras da nossa paróquia. Todos os jovens vestiam preto para
simbolizar que estavam de luto.
Foi um encontro tenso, que aconteceu dentro da Igreja, onde o
pároco se mostrou irredutível na decisão com relação às freiras. Aliás, a
posição não era pela saída das freiras, a decisão tomada pelo sacerdote, na
qual se mostrava irredutível, era que uma determinada freira não trabalharia
mais na paróquia. Quando questionado sobre os motivos, ele alegou questões de
foro íntimo e encerrou a discussão, dizendo que nada iria demovê-lo da decisão
de querer a saída daquela freira.
Como era uma questão de foro íntimo, não revelada, nem para
a superiora da congregação, por óbvio que a decisão das instâncias superiores
das freiras, foi a de não trabalhar mais por aqui. Dizia a superiora: “se uma
das nossas filhas não pode trabalhar, aqui, e não se apresentam motivos para
isso, é claro que as outras filhas também não poderão trabalhar”. Na época, a
superiora foi conversar com o Arcebispo, que aceitou a decisão do padre e não
fez caso nenhum se as freiras iriam ou não embora, mas, também, não revelou o
motivo pelo qual o padre estava expulsando uma das irmãs.
Depois do encontro do padre com os jovens, formamos um
pequeno grupo de adultos para conversar com o sacerdote e tentar demovê-lo da
intenção de expulsar a freira. A posição do pároco não mudou e saímos desta
reunião com a nítida impressão que não iríamos demovê-lo jamais e, mais ainda,
sem conseguir descobrir qual era a questão de foro íntimo alegada. Isso me
deixou realmente muito preocupado com a situação e não foi diferente com as
outras pessoas que participaram desta reunião.
Esse período foi muito conturbado para todos nós. Mas, eu e a
minha esposa, sentimos ainda mais as consequências deste episódio. Foram dias
tenebrosos, em que não se encontrava explicação para tudo o que estava
acontecendo. Estava difícil de processar tudo aquilo. Quando estava tentando processar essa história
toda, alguém procurou a mim e a minha esposa para relatar um caso, que, se
confirmado, tinha ingredientes suficientes para causar uma hecatombe, embora o
caso não envolvesse as irmãs que estavam sendo dispensadas. De tão assustadoras
que eram as coisas que nos foram narradas, vimos que seria difícil processar
sozinhos. Então, eu e minha esposa decidimos por envolver mais um casal na história.
Com isso, em tese, apenas seis pessoas tinham conhecimento daquilo que nos foi
narrado: eu, minha esposa, o casal da Pastoral Familiar, que envolvemos, e o
casal que nos narrou o ocorrido. Como o casal que nos narrou o caso, preferiu, por
enquanto, não aparecer na história, eu, a minha esposa e o casal da Pastoral tomamos
a decisão do que fazer. Decidimos que precisávamos falar com o Arcebispo, ainda
naquele dia, para pedir uma luz, a ele, de como agir diante da situação. Marcamos
às dezessete horas, em frente a cúria, para esperá-lo, já que o Dom estava em
uma cidade vizinha e a previsão de retorno era a partir desse horário. Ficamos
plantados na rua, em frente à casa do bispo, até as nove da noite, quando ele
chegou e nos recebeu. Então, o nosso movimento, que se iniciou com o objetivo
de reverter a decisão que estava fazendo com que perdêssemos as irmãs, ganhou
um ingrediente mais dramático, pois tínhamos, então, uma bomba nas mãos. Até
hoje, os fiéis não sabem as coisas que nos foram narradas, pois decidimos que
revelar aos fiéis somente iria fazer mal à nossa paróquia e, por consequência, à
nossa Igreja. Não sei se um dia todos ficarão sabendo. Pensamos direitinho e
decidimos que tudo deveria ficar lá no fundo. Até porque, em função de ser um
assunto que estava nos consumindo demais, decidimos por não remexer naquilo. Preferimos
tentar colocar uma pedra sobre o assunto. Se estou contando isso, aqui, é
porque me propus a narrar os desafios vividos nesses dez anos de caminhada para
implantar o INOVAR.
Paralelamente às nossas ações, em contatos com o Arcebispo,
que foram vários neste período, um grupo grande de fiéis de várias comunidades
articulou uma reunião para discutir a situação. Eu e a minha esposa fomos
convidados, assim como o segundo casal que envolvemos. Nesta reunião, discutiu-se
vários aspectos, sempre com a perspectiva de reverter a situação das irmãs. Ao
final, decidiu-se por marcar uma reunião do grupo todo com o Arcebispo. Nesta
ocasião, não sei por que, a maioria dos presentes me pediu para assumir o
comando informal do grupo e ser o porta-voz deles junto ao Arcebispo. Isso me
colocou numa saia justa, pois apenas duas pessoas naquela reunião sabiam que
estávamos em contato com o Dom, tratando de um assunto correlato, mas que
tratávamos em segredo. Como ninguém sabia, não era possível dizer a eles que
não aceitaria ser o porta-voz do grupo, pois, desta forma, teria que expor os
motivos e não podia revelar o que acontecia concomitantemente. Então, não
sobrou outra saída, para mim, senão a de aceitar ser o porta-voz daquele povo
durante a reunião com o Bispo. Esta reunião com o comandante da nossa
arquidiocese serviu basicamente para todos reclamarem da forma como o pároco
conduzia a paróquia e todos esperavam que, ao saber como a nossa paróquia era
conduzida, fosse possível reverter a decisão que estava culminando com a saída
das freiras. A reunião foi tensa, inclusive algumas pessoas presentes chegaram
a ser descorteses com o nosso bispo, chegando à raia da falta de respeito com
ele. A autoridade arquidiocesana, também, não foi muito receptiva aos
argumentos. Resultado: as freiras foram embora e não foi possível reverter o
quadro. Disse, anteriormente, que eu e a minha esposa sentimos mais as
consequências deste episódio porque, quem via de fora, tinha a nítida impressão
de que estávamos tomando medidas sozinhos, comandando uma multidão, sobretudo
de jovens, contra a situação colocada, sendo que, o que estávamos fazendo era
apenas catalisando um desejo dos jovens e atendendo a uma solicitação de um
grupo que me queria porta-voz deles, o que fora impossível recusar. Na verdade,
mesmo, estávamos numa cruzada para minimizar os danos que tudo aquilo iria
causar à nossa paróquia.
O fato importante é que foi um grande baque para todos. Como
acompanhávamos mais amiúde os jovens, percebemos o quanto este episódio foi prejudicial
à juventude. O pior era que, de imediato, não seria possível fazer nada para
melhorar aquela situação. A única coisa que me ocorreu, naquele momento, foi
fazer uma carta aberta aos jovens. Essa carta foi escrita no calor dos
acontecimentos, inclusive com alguns erros de português, e distribuída a todos
os jovens com que tinha contato, para todos os componentes da Pastoral Familiar
e ao pároco. Apesar de um pouco extensa, é bom que se reproduza, aqui, para
todos entenderem um pouco da nossa aflição com relação à perseverança dos
jovens. Disfarcei os nomes das pessoas citadas, pois não é intenção fulanizar
os problemas.
Caro
Jovem.
Em
função dos últimos acontecimentos em nossa paróquia, percebemos através das
redes sociais várias manifestações e, por isso, gostaríamos de colocar algumas
palavras a todos vocês, pedindo que todos leiam estas linhas como uma mensagem
que um pai e uma mãe mandam a seus filhos. Pedimos também que leiam o texto
todo, pois algumas frases escritas aqui, fora do contexto, podem dar a entender
alguma coisa que não estamos querendo dizer. Sabemos que é um texto longo, mas,
é preciso que o leiam inteiro.
Queridos,
Escolhas feitas por
pessoas que não têm noção da dimensão das coisas que as cerca, levaram pessoas
que não conhecem o pulsar das comunidades, a tomar a decisão de retirar, de
forma abrupta e traumática, um dos pilares da caminhada pastoral em nossa
paróquia. Sim. Estamos falando das Irmãs da Sagrada Família que acabaram por
nos deixar. A congregação dessas irmãs está nos deixando de forma definitiva.
Como muitos de vocês
estão dizendo nas redes sociais, “estou de luto”, também nós estamos de luto.
Mais que isso, estamos sangrando, pois estamos perdendo uma parte importante de
nosso corpo. Será muito difícil, daqui pra frente, saber que essas mulheres
iluminadas não estarão mais à nossa disposição para nos guiar nos nossos
descaminhos espirituais. Isso é como perder um membro do corpo, que sai e deixa
sangrando o local de onde o membro foi arrancado. Temos certeza que muitos de
vocês estão sentindo uma insegurança muito grande ao saber que não terão mais a
Irmã Xis a orientá-los e animá-los para a caminhada com Cristo.
Diante de tudo isso é necessária muita fé para continuar caminhando
no cristianismo, sobretudo no catolicismo. Entretanto, não podemos deixar de
ter em perspectiva que a nossa igreja, Igreja Católica Apostólica Romana, foi
criada por Jesus Cristo. Tendo isso em perspectiva precisamos fazer algumas
reflexões sobre tudo o que estamos passando.
1.
A
Igreja somos nós
As pessoas que fizeram a escolha e as que tomaram a decisão
que nos levou as irmãs, não representam, em absoluto, a nossa Igreja, já que a
Igreja somos nós e não só eles. Todos que fomos batizados, somos uma célula que
faz nossa Igreja seguir sua caminhada. Infelizmente algumas pessoas que cuidam
da administração da nossa Igreja não estão conectadas com a comunidade. Lá em
cima o Papa Francisco tem tocado nesse tema em várias ocasiões, cobrando uma
maior aproximação entre os clérigos e os fiéis, mas para essa oxigenação chegar
até aqui embaixo, vai demorar um pouco. Se começar agora, é possível que dure
uma geração toda para essas mudanças atingir a Igreja até os rincões mais
distantes, como o nosso pequeno torrão. Basta ver o que aconteceu com o
Concílio do Vaticano II, que deu uma batida forte no pó que existia na nossa
Igreja Católica e só agora, cinquenta anos depois, sentimos seus efeitos mais
de perto.
Assim, devemos ter a consciência que a Igreja que seguimos foi
fundada por Jesus Cristo, mas Ele mesmo a deixou nas mãos dos homens. Isso faz
com que, às vezes, nossas lideranças desvirtuem um pouco os planos traçados
pelo criador de nossa Igreja, não a conduzindo da maneira que Cristo pensou.
Esses desvios, então, lhe conferem a característica de ser, como todos sabemos,
“Santa e Pecadora”. Santa na sua criação e pecadora nas atitudes de algumas
lideranças.
Essa consciência deve nos levar a uma defesa firme da Igreja
que queremos e esta defesa deve desencadear um caminhar mais firme em direção à
salvação que Deus nos disponibiliza através de seu filho Jesus. Para isso é
necessário não deixar que escolhas e decisões tomadas por pessoas que
administram nossa Igreja, determinem se, como e quando eu vou seguir uma
religião, frequentar uma Igreja e pertencer a uma comunidade. Queremos dizer
com isso, que devemos ter uma religião, frequentar uma Igreja e pertencer a uma
comunidade pelos valores que tudo isso representa, não porque tem esse ou
aquele dirigente. Os dirigentes passam e nós ficamos. Mais que isso, nós
passamos e nossa Igreja fica. Aliás, é por isso que devemos lutar: para que
nossa Igreja seja eterna, como Cristo queria.
2.
Será
possível substituir as Irmãs que estão partindo?
Claro que não. Sempre que alguém da família parte, não
conseguimos substituir essa pessoa. Entretanto, com o tempo, a falta se
transforma numa saudade gostosa da pessoa que partiu, até que a família se
junte novamente, através de uma visita, um passeio, uma viagem, enfim.
Mas, no caso das irmãs, especialmente a Irmã Xix, o que precisamos
fazer é, não esquecer tudo o que elas fizeram nesses anos todos. Uma maneira de
homenageá-las de forma definitiva é manter vivo o desejo delas de ver a nossa
comunidade vibrante, atuando para o bem estar nosso e de todos, não deixando de
levar a mensagem de Cristo e vivendo seu evangelho com alegria e muita
simplicidade, assim como elas sempre fizeram.
Possivelmente a direção da nossa paróquia vai tentar
substituir as irmãs que se foram. Talvez determinando outra freira para tentar
substituir a Irmã Xis no trabalho que ela fazia com os jovens. Precisamos
lembrar que qualquer pessoa que for escalada para tentar substituir a Irmã Xix,
não tem nenhuma culpa das possíveis decisões erradas tomadas por outras
pessoas. O que é preciso fazer, se isso acontecer, é não recusar a ajuda de
quem quer que seja. Assim, até pode ser possível começar a construir uma nova
relação e que daqui a alguns anos podemos estar sangrando de novo pela despedida,
mas se não nos deixarmos envolver com as pessoas, não teremos por quem chorar
um dia.
Portanto, queridos, é preciso enxugar as lágrimas, guardar as
saudades e lembrar que temos uma Igreja para manter de pé e que está totalmente
dependente de cada um de nós, pois se engana quem imagina que a Igreja depende
de padres ou freiras. Essas pessoas passam, como já passaram tantas por essas
plagas, algumas a gente chora, outras a gente acha que fizeram um bem à
comunidade ao partir, mas o fato é que todos passam e a comunidade deve estar
sempre viva. Então, caros jovens, se não fizermos a nossa parte, um dia
poderemos ser cobrados por isso.
3.
E
o que podemos fazer?
Certa vez um grande Presidente Norte-Americano disse em seu
discurso de posse “Não perguntem o que o seu país pode fazer por você, mas
pergunte-se o que você pode fazer pelo seu país”. Gostaríamos de adaptar estas
palavras à situação atual: “Não perguntem o que a sua Igreja pode fazer por
você, pergunte o que você pode fazer pela sua Igreja”.
Olhem ao seu redor e observem a realidade em que você vive.
Quanto é preciso fazer para que todos tenham contato com o evangelho de Jesus
Cristo. Quanto que o mundo está precisando de bons exemplos, que só você é
capaz de dar. Não pensem que é necessário fazer grandes coisas para atingir o
objetivo que Cristo espera de nós. Comece por não abandonar as celebrações de
sua comunidade. Frequente a missa ou culto, de preferência uma vez por semana.
Se sentir necessidade de fazer mais coisas, sua comunidade deve ter um grupo de
jovens formado e em atividade. Caso não tenha, crie um grupo de jovens na sua
comunidade ou participe em outra, mas não deixe de procurar um grupo e
participar pra valer. Faça valer a vontade da Irmã Xix. Entre em contato com a
PJ, acompanhe suas atividades. Não deixe ninguém escrever sua história por
você, seja o protagonista dela.
Junto a tudo isso, fiquem ligados que estão sendo colocadas à
disposição muitas opções que envolvem jovens de todas as comunidades.
III ENFIR – 3º ENCONTRO DE NAMORADOS FIRMES
Se você está namorando firme com alguém, já estão abertas as
inscrições para o III ENFIR. Será realizado em 08 de Março. Entre em contato
com a pastoral familiar para fazer a inscrição.
III RENOVAR
Nos dias 03 e 04 de maio será realizado o III RENOVAR. Este
encontro é aberto a todos os que fizeram o INOVAR. Este ano terá várias
novidades. Nos próximos dias todos os inovaristas receberão informações. Não
deixe de participar.
VII INOVAR
Nos dias 01, 02 e 03 de agosto acontecerá o VII INOVAR. Já vai
conversando com os amigos da sua comunidade que ainda não fizeram o INOVAR para
quando as inscrições forem abertas eles se inscreverem.
Além disso, várias outras atividades da paróquia estão abertas
aos jovens. Não deixem de participar.
4.
Pra
finalizar
A Congregação da Sagrada Família de Nazaré está indo embora,
levando as Irmãs X, X, X e X. Mulheres que vão fazer muita falta para todos
nós. Mas vamos recolher os cacos e em nossas orações pedir duas coisas muito
importantes para toda a comunidade: vamos pedir para que Deus ilumine as
pessoas que tomaram a decisão de tirar as irmãs de nosso convívio, a fim de que
essas pessoas, no futuro, quando fizerem escolhas ou tomarem decisões, procure escutar
primeiro aqueles que serão atingidos pelas escolhas e decisões. Outra intenção
que deve ter nossas orações é que as irmãs sejam felizes para onde estão indo e
que consiga fazer lá um trabalho tão bonito como o que foi feito aqui. Além
disso, precisamos torcer para que os jovens de lá possam amar a Irmã Xix com a
mesma intensidade que todos nós amamos e entendam logo o privilégio que é conviver
com pessoa tão especial.
Lembrem-se a vida na nossa Igreja está em nossas mãos.
Um beijo em todos vocês.
JONAS E CLEIDE (PAI E MÃE)
Essa carta, para os jovens, fez o efeito esperado, porém,
para muitos adultos, fez efeito contrário ao que queríamos. Mas, era o melhor
que podíamos fazer naquele momento, por isso decidimos correr o risco de
enfrentar alguns dissabores para tentar não deixar os jovens desanimarem na sua
caminhada. Infelizmente, o trabalho que aquelas religiosas faziam nas
comunidades foi desarticulado e algumas iniciativas que surgiam, aqui e ali,
com o acompanhamento das freiras que foram embora, foram descontinuadas ou
ganharam outro ritmo.
A PASTORAL FAMILIAR E O INOVAR
A Pastoral Familiar é organizada em três setores: Pré-matrimônio,
Pós-matrimônio e Casos Especiais. Cada um deles trabalha com problemas
específicos e, por óbvio, com público diferente. Essa estrutura está definida
em um Documento da CNBB, chamado “Diretório da Pastoral Familiar”. Então,
quando uma paróquia implanta essa pastoral deve seguir aquela estrutura.
Entretanto, nem sempre acontece isso, seja por falta de pessoal o suficiente,
seja por falta de preparação dos componentes ou por outro motivo qualquer.
Na nossa paróquia, talvez, também, em muitas outras, a
escassez de membros na pastoral impede a formalização, organizadamente, desses
três setores e, até, de preparar pessoas para atender a essa estrutura. O que
fazemos, então, é tentar atuar junto à família, executando as atividades de
cada um dos setores, sem, contudo, tê-los formalmente separados. Dessa forma,
todos os membros da Pastoral Familiar agem em todas atividades desenvolvidas
pela pastoral, transitando por todos os setores. Pelo menos deveriam agir
assim.
O setor Pré Matrimonial, que cuida da preparação de pessoas
que formarão uma família, está dividido em dois subsetores: preparação imediata
e preparação remota, uma destinada às pessoas que já estão com o casamento
marcado, normalmente na modalidade “Curso de Noivos”, ou mesmo a preparação de
casais que já vivem juntos e vão celebrar o sacramento do matrimônio para
regularizar sua situação diante da Igreja, o que normalmente é chamado de
Casamento Comunitário.
Outra forma de capacitar as pessoas que vão formar uma
família, é a preparação remota. Esta modalidade é dirigida aos adolescentes e
jovens que, mesmo sem ter o casamento marcado, ou mesmo sem estar namorando,
devem receber uma formação de modo que tenham noção do que seja uma família com
valores religiosos sólidos e necessários para uma convivência harmoniosa e
profícua.
Foi nesse contexto, então, que surgiu o INOVAR, dando uma
ênfase toda especial à família, fazendo os jovens que o frequentam sentirem a importância
de se ter uma família bem estruturada, onde todos os membros busquem se
inspirar nos componentes da Sagrada Família de Nazaré.
A NECESSIDADE DE ATENDER NAMORADOS
Como o INOVAR é
um encontro que atende jovens de quatorze a vinte e cinco anos, é normal que
surjam, nesse ambiente, casais de namorados, seja em namoricos sem compromissos
ou relacionamentos mais sérios. Vários casais que nasceram nestas
circunstâncias, já se casaram e, hoje, formam as próprias famílias. Surgiu,
então, ao longo do percurso, a necessidade de criar-se alguma coisa para
atender, também, aos casais de namorados. Depois, então, de o INOVAR estar
consolidado, pensou-se na criação do ENFIR, sigla de Encontro de Namorados
Firmes, destinado àqueles casais de namorados que estão namorando firmes, assim
definidos aqueles casais que estão “se curtindo” e já ultrapassaram a fase do
“ficando”, mesmo que não tenham, ainda, a intenção de se casarem. Esse encontro
é bastante leve e acontece a cada dois ou três meses, numa tarde que, em datas
especiais, acaba com um jantar romântico para os namorados. A cada vez em que
os casais se encontram, é tratado de um tema importante para o relacionamento
deles e, com isso, faz-se um “curso de noivo”, extensivamente.
Logo, o INOVAR sempre foi tratado por nós como uma atividade
incluída na Pastoral Familiar, setor Pré Matrimonial, subsetor Preparação
Remota. Assim, se esperava que todos os membros da Pastoral se envolvessem de
forma efetiva no encontro, mas, infelizmente não foi o que aconteceu. A
Pastoral Familiar não se envolveu, como se esperava, para um evento de tamanha
importância. Para se ter uma ideia dessa falta de envolvimento, no primeiro
encontro, havia apenas uma pessoa encarregada de fazer a limpeza de todos os
ambientes utilizados durante o evento. Além de mim e da minha esposa, apenas
esta pessoa da Pastoral Familiar permaneceu todo o tempo no encontro. Todas as
outras pessoas da Pastoral Familiar, ou nem compareceram, ou ficaram por lá
apenas por pequenos períodos. Não fossem pessoas de outras pastorais, o
primeiro INOVAR não teria acontecido. Nas demais edições, também, não foi
diferente; a participação da Pastoral Familiar foi muito inexpressiva. Nas
primeiras edições, as atividades da cozinha foram entregues a uma equipe
formada por uma Ministra Extraordinária da Eucaristia, que nos proporcionou
ajuda inestimável. Mas o primeiro foi aquele em que mais sofremos a falta de
apoio da Pastoral, pois, como já foi dito, foi uma dificuldade muito grande
para montar a equipe de trabalho, já que os jovens necessários para isso não
existiam. A partir do segundo encontro, mudou um pouco a situação, pois os
jovens que fizeram o primeiro INOVAR estavam à disposição para trabalhar e,
assim, a presença de adultos se tornou necessária em apenas uma equipe. Em
todas as outras, os jovens deram conta do recado. Infelizmente, até hoje, a
situação não mudou muito. Nem todos os membros da Pastoral Familiar se envolvem
para valer no encontro.
Terminado o primeiro encontro, convocamos uma reunião da
Pastoral Familiar para fazer uma avaliação da participação dos membros no
evento. Nesta reunião, como sempre fazemos, tentamos desenvolver uma avaliação realista
e, claro, mencionamos o fato do pouco envolvimento dos membros da Pastoral.
Neste ponto, ouvi uma fala de um dos membros da Pastoral Familiar que me deixou
bastante desconcertado. Disse aquela pessoa: “Como você pode falar em falta de
envolvimento da Pastoral Familiar, se você sempre fez tudo em seu próprio nome
e não envolveu o nome da Pastoral em momento algum”. Esse comentário me deixou
triste, porque não era, em absoluto, a verdade, pois em momento nenhum deixei
de mencionar que aquele trabalho que iniciávamos era uma atividade da Pastoral
Familiar.
Na verdade, a pessoa que fez este comentário, o fez porque
não acompanhou o processo de montagem do primeiro INOVAR, pois se tivesse acompanhado,
teria percebido que, no início da montagem, sempre me comunicava com as pessoas
em nome coletivo, já que não se tinha acertado as pessoas que iriam dirigir o
encontro. Nesta fase, qualquer comunicação era feita em nome da Pastoral Familiar.
Quando ficou definido que o coordenador adulto seria eu, toda a comunicação era
feita em meu nome, como coordenador do encontro. Não poderia ser diferente, já
que seria necessário publicar essa condição para que as outras pessoas pudessem
saber com quem conversar sobre os assuntos relativos ao INOVAR. As pessoas
precisavam, por exemplo, saber quem estava lhes pedindo recursos para o
encontro, por isso me comunicava com as pessoas informando o meu nome, que era
uma forma de informá-las que estava responsável pelo evento. Isso fez aquela
pessoa pensar que estava desenvolvendo um evento deste tamanho em meu nome e
não em nome da Pastoral Familiar e, mais; não em nome da Paróquia. Que fique
registrado, porém, que, mesmo com o pouco envolvimento dos membros da Pastoral,
jamais deixei de mencionar que esse trabalho é feito em nome da Pastoral
Familiar. Nem poderia ser diferente, pois não pensamos em montar um serviço que
fosse dependente de uma pessoa. A ideia sempre foi criar um serviço que
permanecesse na paróquia, mesmo quando a gente, por algum motivo, o deixasse.
Tanto é assim que, agora, na realização da décima edição do INOVAR, entregamos
aos jovens a responsabilidade pelo encontro. Eu e a minha esposa ficamos por
perto, apenas com o propósito de assessorar os jovens e permanecer nessa
condição enquanto esta nossa assessoria for necessária. Quando os jovens
acharem que a nossa assessoria não é mais necessária, vamos pedir a eles uma
outra maneira de participar.
Com relação à Pastoral Familiar, continuaremos a participar
até que nos deixem. Ali, estamos tocando o ENFIR – Encontro de Namorados Firmes,
e sempre nos colocando à disposição para ajudar nas outras atividades que a
Pastoral desenvolve. Embora, nessas outras atividades de que participamos,
procuramos não assumir qualquer papel de comando, pois o trabalho com os jovens
já nos consome mais tempo do que temos disponível.
SITUAÇÕES LIMITES
Quando foi colocado no projeto do INOVAR a necessidade de
existir um padre residente no encontro, primeiro, pensava-se numa qualidade que
deveria ser inerente aos padres: a sua capacidade de ouvir e de aconselhar as
pessoas quando elas se sentem fracas ou sentem a sua fé abalada. Essa
característica do sacerdote é tão importante na condução de um grupo de fiéis,
que seria natural o mesmo comportamento durante um encontro em que vários
jovens estão, ali, de coração aberto, para repensar a sua trajetória e
predispostos a rever muitos posicionamentos havidos até esse ponto.
A visão que se tem da possibilidade de um sacerdote atender a
esta necessidade, tem raiz na própria história da nossa Igreja. Desde sempre,
era um padre que resolvia os maiores conflitos existentes entre os fiéis e, com
isso, os padres eram requeridos, também, para resolver os conflitos internos de
cada um, sobretudo pela sua condição de confessor, já que, em tese, ao oferecer
o sacramento da penitência, o padre toma contato com todos os problemas do
penitente.
Junte-se a isso a necessidade, que sempre aparece, de
disponibilizar a todos os presentes o sacramento da penitência. Essa
necessidade aparece, às vezes, muito mais na equipe de trabalho do que nos
jovens que estão fazendo o encontro. Ninguém tem noção da pressão que é coordenar
um encontro desses, comandar uma equipe de trabalho ou mesmo ministrar uma
palestra. Essa pressão, não raro, pode se transformar num sentimento de
incapacidade e de impotência, de tal forma, que só um reforço espiritual pode nos
tirar desta enrascada.
Apesar de a gente se preparar durante um ano inteiro para enfrentar
os obstáculos que um evento deste tamanho apresenta, ainda assim, aparecem momentos
para os quais não estamos preparados. São situações onde somos testados até os nossos
limites. Nessas horas, seria muito interessante ter um reforço de alguém que tenha
mais estofo espiritual. Lógico que, quando nos deparamos com essas situações,
recorremos à capela, onde se encontra o santíssimo e, assim, ganhamos uma força
extra para suportar.
Entretanto, seria bom ter alguém que pudesse “intermediar”
esse encontro que fazemos com o divino e, assim, tirar um pouco do peso que
carregamos e que, às vezes, nos deixa tão esgotados ao final da ocorrência. Já
se disse, por aí, que vários são os jovens que estão presentes no encontro sem querer
estar ali. Diz-se, também, que, mesmo os que não queriam ir ao encontro, não
foram obrigados, ou seja, concordaram em ir. Mas, o fato é que muitos estão no
encontro a contragosto e isso já é um fator desestabilizador dos participantes.
Para segurar esses jovens até o final do encontro é necessário um desdobramento
da equipe, bem maior daquele que seria requerido se todos estivessem ali por
vontade própria. Então, isso, normalmente, gera uma demanda muito grande de
atendimentos, que requer uma sensibilidade enorme para lidar com cada uma das
situações.
Às vezes, somos colocados diante de situações que, de
repente, a gente se pergunta como é que vamos enfrentá-las. Nestas ocasiões,
damos conta da situação apenas porque estamos ao lado do Todo Poderoso. São
situações limites que nos são apresentadas. Gostaria de narrar apenas três,
aqui, para que todos possam entender do que estou falando.
GAVETA 1 – O Pai Assassinado
Numa edição do encontro, recebemos uma garota que havia
acabado de perder o pai, que morrera assassinado de forma brutal e
inexplicável. De repente, estávamos, ali, participando de um encontro onde cada
um carrega os seus traumas, os seus fantasmas e as suas expectativas, entretanto,
dentre aqueles jovens, uma vivia um drama muito mais delicado. Aquela moça não
tinha ainda processado a morte estúpida do seu pai. É natural, nessas
condições, que a pessoa troque de mal com Deus, pois somente este teria o poder
de impedir aquela tragédia e “Deus não fez nada para evitar”, segundo a
cabecinha de uma menina de treze anos.
Quem tem a capacidade para explicar a uma jovem, de treze
anos, tão revoltada com aquele drama, que Deus não deixou o seu pai morrer para
puni-la? É preciso ter muito mais do que uma formação de livros de autoajuda, ou
uma coleção de frases prontas, que se lança mão a torto e a direito. É
necessário ter uma formação sólida nas coisas da religião para ter argumentos o
suficiente, a fim de demover uma jovem dessas da ideia de que, mesmo em
situações como esta, não devemos virar as costas para Deus. Ao contrário, é nessas
situações que devemos nos apegar mais ainda a Ele, senão não tem solução.
GAVETA 2 – Duas irmãs e um drama
Quando estávamos preparando um dos encontros, na época em
que ainda fazíamos as visitas na residência dos inscritos, fui a uma
determinada casa onde estavam inscritas, daquele endereço, duas jovens. Esta
visita para mim era bem produtiva, pois em um único endereço visitaria dois
jovens e, assim, a lista de visitas diminuiria mais do que quando havia apenas
um inscrito do local visitado. Isso significava trabalho a menos.
Não esperava, entretanto, encontrar uma família tão
dilacerada como encontrei. A menos de trinta dias daquela visita, o irmão das
duas moças havia sido assassinado de forma terrível. O rapaz saiu, num sábado
qualquer, para aproveitar a noite, assim como o fazia tantas vezes, mas não
voltou. Não se sabe por qual motivo, numa balada qualquer, o garoto foi
envenenado e faleceu. Ou seja, o garoto saiu para uma balada e voltou num
caixão.
Quando me deparei com a aquela situação, admirei a postura
da mãe das meninas, que fez questão que as suas filhas fossem participar do
encontro, deixando-as passar três dias fora de casa, mostrando um
desprendimento bastante razoável, pois seria aceitável que uma mãe, em situação
como esta, não deixasse seus filhos passarem sequer uma noite fora. Esta mãe não
só deixou como forçou um pouco a barra para que as duas filhas fossem fazer aquele
encontro.
Saí daquela visita com uma boa impressão daquela família,
mas certo de que poderia ter problemas com aquelas duas meninas, uma de
dezesseis e outra de dezoito anos. Percebi que elas estavam bastante
fragilizadas com o acontecimento e não podia ser diferente. Aquele INOVAR
transcorria, normalmente, quando, num determinado momento, uma das meninas, a
mais nova, chegou para mim e me pediu para ir embora, dizendo que não queria
mais ficar no encontro. Lembro-me que chamei aquela menina para um canto, sentamos
no chão, eu e ela, encostados numa parede, e ficamos, ali, conversando por
quase uma hora, enquanto o encontro foi se desenrolando normalmente. Percebi
que ela estava com um misto de sentimentos tão difíceis de processar que a
angústia era patente em suas falas. Sabia que ela estava sentindo, naquele
momento, muita falta do seu irmão, recém falecido, e da sua mãe, que havia
ficado lá fora, e isso a angustiava muito. Confesso que só consegui forças para
tratar daquela situação porque Deus é muito bondoso comigo e com os jovens. Se
não fosse a ajuda Dele, não teria conseguido fazer aquela menina ficar no
encontro até o final e ela teria ido embora, com aquelas confusões todas em sua
cabeça, o que poderia ter sido muito prejudicial para ela. Que falta fez um
padre naquele momento, para ela e para mim, pois, ao final da conversa que tive
com aquela menina, estava exaurido. Parecia que tinha lutado com um leão,
tamanho foi o stress do momento. Ao
final dessa conversa, passamos na capela, recebemos uma oração daquela equipe
maravilhosa e tocamos o barco. Mas foi difícil.
GAVETA 3 – O Pai que foi pro Céu
Quando se inicia o INOVAR, o que se espera é que ele
transcorra sem nenhuma intercorrência externa que possa influenciar de forma
definitiva o encontro. As ocorrências externas que podem ter influência no
desenrolar do evento, normalmente têm a ver com a saúde dos familiares de algum
participante, sobretudo se se tratar do falecimento de um parente de algum dos
participantes do encontro.
Numa edição do encontro, na sexta-feira, à noite, recebemos
a notícia de que o pai de um dos “inovaristas” tinha sofrido um acidente no
interior do Estado e estava na UTI de um hospital da capital. Em casos assim, a
gente sempre procura saber o que a família quer que a gente faça. Entramos em
contato com a família para que ela nos informasse como deveríamos agir. De
repente, eles poderiam querer enviar algum membro da família para dar a
notícia. Neste caso, a família nos informou que não desse a notícia ainda, e
que aguardássemos instruções. Assim procedemos. No sábado, pela manhã, tivemos
a notícia de que o pai daquele jovem havia falecido e a mãe do menino estava
vindo ao encontro para dar a notícia pessoalmente.
Quando a mãe chegou, fui até a sala onde o jovem estava e o
conduzi até onde seria o encontro entre os dois. Me afastei e fiquei por perto,
apenas para ser acionado se fosse preciso. Foi um encontro tenso, não ouvi o
que eles conversaram, mas, a certo tempo eles se abraçaram e choraram muito.
Depois do impacto da notícia e de muito choro, numa cena daquelas que daríamos
tudo para não assistir, os dois, mãe e filho, vieram em minha direção. Eu o
abracei chorei um pouco, também, pela situação e, no meio daquela torrente de
emoções, disse ao jovem para ele sair com a sua mãe e fazer o que tivesse que
ser feito, resolvesse o que tivesse que ser resolvido. Falei, assim, em frases
meio codificadas, porque não sabia se a mãe tinha comunicado a morte do pai, ou
se havia contemporizado alguma coisa. Em todo caso, falei daquela forma para que
o jovem fizesse o que fosse necessário e depois decidisse. Se optasse por
voltar ao encontro, o estaríamos esperando. Caso contrário, podia ficar à
vontade para não voltar. Normalmente, quem sai do encontro, por qualquer
motivo, não tem permissão para retornar. Desta forma, a gente evita que pessoas,
que não possam ficar todo o tempo, façam o encontro de forma truncada. Mas,
estávamos diante de uma situação especialíssima. Não tinha outra coisa a fazer
senão autorizar que aquele menino fosse enterrar o pai, dando-lhe a opção de
retornar ao encontro.
Quando o menino saiu, tinha certeza de que era isso que ele
deveria fazer, mas pensei, no meu íntimo, que ele não voltaria mais.
Entretanto, num gesto que, até hoje, reputo ter sido um grande milagre daquele
encontro, o menino voltou, no sábado mesmo, logo após ter acontecido o
sepultamento de seu pai.
Falando assim, fica parecendo que a gente está dando mais
importância ao encontro do que à dor que aquela família estava sentindo. Mas,
eu não enxergo desta forma, pois fico imaginando que o suporte que aquele
menino conseguiu no encontro, naquele momento tão crucial da sua vida, foi
determinante para que ele processasse bem a perda do pai, que ocorrera de forma
tão abrupta e prematura.
Aquele sábado em que o pai de um “inovarista” faleceu, em razão
de um acidente de moto, enquanto fazia uma trilha rural, foi marcante naquele
encontro. Sobretudo na cerimônia, ao final do dia, onde aos jovens é oferecida
uma oportunidade para que eles peçam perdão das coisas das quais se arrependem
e, via de regra, eles pedem perdão por coisas que fizeram aos seus pais. Isso
marcou profundamente a todos nós.
Essas três gavetas, dentre tantas outras situações limites
que enfrentamos, dão a noção do quanto seria importante ter uma pessoa mais
forte espiritualmente durante todo o transcorrer do encontro. Entretanto, isso
não é possível e temos que nos conformar com o que temos.
O COMBUSTÍVEL
Trabalhos, como esse que estamos desenvolvendo na paróquia,
trazem um conforto muito grande para a gente. Sobretudo, o conforto por estarmos
fazendo a nossa parte para que a prática religiosa seja mais efetiva, para que a
nossa Igreja seja melhor entendida pelas pessoas e, em última análise, para tornar
a sociedade melhor. Este sentimento é uma concepção que, humildemente, trazemos
em nosso íntimo. Não é preciso que outras pessoas venham nos falar, pois temos
consciência de que estamos cumprindo com este papel. Saber que estamos dando
uma contribuição para melhorar as perspectivas do viver para os filhos de
tantas famílias é como se estivéssemos fazendo isso para os nossos filhos. Na
verdade, me sinto como se fosse pai desses jovens todos que passaram pelo INOVAR,
nesses dez anos.
E o mais emocionante é que a recíproca parece que é
rigorosamente verdadeira, pois a demonstração de carinho que a gente recebe de
cada um deles é algo inenarrável. Aliás, até a maneira como esses jovens nos
tratam demonstra a intensidade desse relacionamento. Todos eles nos chamam de
“pai” e “mãe”, a mim e a minha esposa. Esse tratamento teve início desde o
primeiro encontro, quando eles perceberam que eu e a minha esposa nos tratávamos
por “pai” e “mãe”, daí eles começaram a me chamar de pai, assim como a minha
esposa, a chamá-la de mãe, como eu a tratava.
Pensava que esta era apenas uma maneira de eles nos
chamarem, até que, num determinado ano, por falta de outra data, fomos
obrigados a realizar o INOVAR no final de semana do dia dos pais. Relutamos
muito para usar esta data, mas não houve outro jeito e cometemos o desatino de
afastar os filhos dos pais exatamente no final de semana em que se comemora o
seu dia. Durante esse encontro, percebi que os jovens não me chamavam de pai
simplesmente porque a minha esposa me tratava assim. Percebi que, de certa
maneira, eles me consideravam mesmo como se fosse um segundo pai para eles. Pelo
fato de eles estarem longe dos seus pais, naquele dia, tive o prazer de receber
várias manifestações de afeto que só os pais têm o privilégio de receber dos
seus filhos e que, naquele momento, eles gostariam de dirigir aos seus pais. Muitas
manifestações foram expressas por meio de fortes abraços que recebia, outras
foram escritas e entregues como se me dessem um presente, que de fato o era. Vou
ter a ousadia de reproduzir, aqui, esclarecendo que trouxe as mensagens da
forma que foram escritas e, no calor da emoção, os jovens podem ter cometido um
ou outro erro de português, por isso vai um SIC para todos os escritos. Embora
não cite os nomes, quem as escreveu saberá e espero que não se importe.
“Jonas, não sou de muitas palavras, mas pedi a
ajuda do nosso Pai para escrever-lhe este recado. Agradeço a Deus por ele ter
colocado pessoas maravilhosas na minha vida, e uma dessas é o senhor, obrigada
por tudo o que o senhor faz pela minha vida e pela vida dos jovens. Às vezes
você fala firme com a gente, mas eu sei que não é por mal. Eu agradeço por esta
oportunidade, pelo senhor ter acreditado em mim e na minha capacidade.
Eu sei que Deus derramou e derramará muitas
bênçãos na sua vida, pois o senhor é uma pessoa abençoada e com certeza já é um
vencedor em Cristo, nosso Senhor.
Espero de coração que o senhor continue nesta
caminhada, seguindo com fé e amor e que qualquer obstáculo que aparecer, que
Deus lhe dê forças para supera-lo. Nesse dia tão especial que é o dia dos pais,
te desejo muita felicidade, muita paz, muito amor em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Amem. Feliz dia dos pais”.
“Pai. Obrigada por passar mais este final de semana comigo.
Confesso que não estava segura com a minha Central de Dinâmicas, quando você
falou para mim que iria ter reunião morcego ‘pense em uma menina que tremeu na
base’, pensei que fosse brigar comigo, mas agora sei que posso até pensar em
você como um cara estressado, mas agora sei que além de estressado você é amigo
quando mais preciso. Quando te conheci não pensei duas vezes e aceitei você e a
Cleide como meus pais. Fico sem palavras para expressar o que quero te falar,
mas saiba agora que te amo demais e obrigada mais uma vez por tudo. Beijos e um
abraço fraterno de sua filha”.
“Pai. Obrigada por fazer uma renovação íntima
dentro de todos nós que estamos trabalhando. Que Deus possa te abençoar cada
vez mais, para que você continue tendo esse espírito de pai amoroso, carinhoso
e tantos outros grandes sentimentos.
Não tenho nem palavras para falar do meu sentimento
por você, pois nem as mais belas palavras podem descrever o real sentimento.
Nossa mãe querida te cubra com o manto
sagrado. Te amo muito. Feliz dia dos pais”.
“Jonas. A partir de hoje você terá mais setenta e seis filhos que,
com toda a certeza, terão uma caminhada concreta ao lado de Cristo. Muito
obrigado por mais este ano, a realização de uma maravilhosa ideia maluca, que
nos proporcionou trabalhar para o outro, em função de um projeto maior: o
projeto do Pai.
Falando em Pai, hoje é o seu dia. Você que se tornou o nosso
grande pai. Um pai que está longe e ao mesmo tempo perto, um pai que aconselha
e que sempre poderemos contar. Por isso, pai Jonas, te desejamos um Feliz dia
dos Pais”.
“Mister Jonas (Pai). É com grande prazer que
escrevo esta singela carta, na qual só tenho a agradecer vosso trabalho
conosco. Este trabalho que você se dedica com tanta objetividade, carinho,
simplicidade e respeito.
Entendo que não é fácil realizar atividades
com os jovens, pois ‘nós’ (risos) somos muito inconstantes, porém sua paciência
e dedicação elevadas na presença de nosso Deus transforma você em algo maior
que Jonas, te transforma em “Pai”. O pai de dezenas de ´filhos’ acolhidos em
teus braços, desejando conhecer a mesma pessoa que te transforma em pai: nosso
Deus.
Agradeço também por ter tido a compreensão na
situação e no caso de cada um, cada jovem que com suas particularidades você
soube lidar e acolher ao mesmo tempo, sempre deixando-os a vontade e
confortáveis para realizarem sua jornada nos caminhos de Deus.
Peço a Deus que você e a ‘mãe’ continuem
trilhando os caminhos Dele e que consigam lapidar em cada jovem o melhor brilho
e beleza em cada um, assim como fica o diamante bruto após ser lapidado.
Parabéns pelo seu dia e pelo terceiro INOVAR!
Desejo muito sucesso, saúde e sabedoria! Obrigado! Fique com Deus!”.
“Que bom que Deus colocou você no meu caminho, pois você e o INOVAR,
mudaram, ou melhor, melhoram minha vida.
Agora mais do que nunca eu acredito que Deus lhe pôs na terra para
ser um pai pra todos, a sua dedicação, simplicidade e sinceridade me fez ver
que não precisamos de muita coisa pra ser feliz.
E nesse dia quero te desejar muita felicidade, paz, saúde e força
para que você continue nesta imensa obra que Deus te deu.
Saiba que você pode contar sempre comigo, em cada coisa que eu lhe
ajudar, pode ter certeza que vai ser muito pouco, perto do que você fez pra
mim.
Um grande abraço do seu amigo e filho. Feliz dia dos pais!!!
Felicidade...”
“Caro Jonas. Gostaria de lhe dizer algumas
palavras que resumem um pouco o que você representa para todos nós. Primeiro
quero que saiba que tenho uma profunda admiração pela sua pessoa. É alguém a
ser espelhado. Você é um cara de muitas conquistas e uma delas foi cativar
todos esses jovens com esse espírito de ‘paizão’. Quero nesse dia dos pais te
desejar toda a felicidade do mundo, que Deus possa te abençoar e te encorajar
ainda mais a continuar essa missão. Parabéns!”.
O terceiro INOVAR, então, aquele realizado no dia dos pais,
me mostrou, ainda mais acentuadamente, o tamanho da minha responsabilidade com
esses jovens. Se todos me consideravam, em alguma porção, como um pai, e tendo
sob a minha tutela um grupo muito grande, é certo que deveria me preocupar em
conduzi-los pela vida afora, ou, pela vida adentro. Aquele conceito sobre ser o
exemplo para os jovens, ganha, ainda, mais força nestas circunstâncias. A
partir disso, percebi que a simbiose entre eu e aqueles jovens estava completa.
Eu deveria me preocupar em conduzi-los, da melhor maneira possível, e eles me
davam, em troca, uma rede de proteção para que eu jamais desistisse de uma vida
reta e dedicada aos valores cristãos, já que, ao assumir a condição de condutor
desses jovens, nunca mais poderia pensar em agir de forma que pudesse dar-lhes
um mau exemplo.
O relacionamento nosso com esses jovens foi se tornando tão
profícuo que os seus familiares começaram a perceber que precisavam estar mais
presentes nas atividades deles e, com isso, vários pais de “inovaristas” foram
se aproximando da gente e, sempre que podem, nos ajudam de alguma forma, não
somente na condução dos jovens, mas, também, na realização dos encontros.
Muitos desses pais também já se manifestaram sobre a importância do INOVAR para
os seus filhos. Alguns se manifestam por escrito e tomo, também, a liberdade de
trazê-los aqui:
“Senhor ‘Jonas’, Boa Tarde. Eu admiro muito o
trabalho que o senhor faz com esses jovens. É muito importante para nós pais e
nossos filhos. Muito obrigada por passar para eles conhecimentos tão importantes,
fortalecendo a fé deles e a importância que tem uma família. Que Deus lhe dê
muita saúde e paz para continuar a evangelizar estes jovens. Parabéns!”.
“Jonas e Cleide. Que trabalho lindo vocês estão fazendo! Quantas
famílias estão sendo alvo de transformação com esse trabalho! Quantos jovens
estão se voltando pra Deus após participar desses encontros! Vocês são
‘instrumentos’ que Deus utiliza para tirar jovens e famílias da escuridão.
Vocês representam o meio de transformação para a busca de um mundo melhor,
resgatando o ser humano, evangelizando e vivenciando a fé por meio dessas
obras. Que Deus os ajude e lhes dê força para continuar, perseverar e não parar
nunca com a realização do INOVAR e do RENOVAR. Com um grande abraço ...”.
Além destas mensagens, temos um baú cheio, em casa, onde
guardamos uma infinidade delas, com muito cuidado, pois, como diz o título do
capítulo, servem como combustível para que continuemos a nossa caminhada, olhando
sempre com carinho para essa juventude que, às vezes, sinto tão perdida.
Quanto a condição que assumi de ser um “pai” para esses
jovens, confesso que é um grande prazer quando os encontro e sou chamado de
“pai”. Entretanto, nada me dá mais prazer do que encontrar um desses meus
“filhos” em alguma atividade da Igreja, seja tocando ou cantando em uma missa,
ou catequisando crianças, ou mesmo participando com seriedade de uma celebração
litúrgica, afinal de contas, no fundo, é para isso que estamos nesta caminhada.
Mas, é muito prazeroso vê-los, também, galgando outros degraus de suas vidas,
como formando uma família, por meio do matrimônio, ou conquistando um diploma
universitário. Noutro dia, tive o privilégio de ser convidado para participar
das comemorações de formatura de um curso de Direito, onde estavam recebendo o
grau de bacharel nada menos do que cinco “filhos” meus. Isso não tem preço.
Deus é realmente muito bondoso comigo.
SÓ PARA OS CURIOSOS
É claro que um evento como o INOVAR nos oferece muitas
curiosidades que, embora não sejam problemas ou grandes desafios, tampouco obstáculos,
quando ocorrem causam certa apreensão, mas, depois, observados de longe,
parecem mais cômicos do que trágicos. Foram tantos esses episódios que fica até
difícil selecionar alguns para narrar aqui. Em todo o caso, vou tentar contar alguns
fatos que, tirando o desconforto que eles causaram, são realmente hilários.
GAVETA 1 – Oficial obedecendo a Minha Esposa
Como dito anteriormente, existe, no local onde se realiza o
encontro, a casa destinada à moradia de um casal. Quase sempre, a esposa é a
zeladora do ambiente e o marido tem um emprego fora. Nos primeiros encontros
que foram realizados, não foi diferente: havia um casal, lá, cuja esposa era a responsável
por manter o local em ordem.
Numa determinada noite do encontro, me deparei com uma cena
estranha: minha esposa estava falando com certa firmeza, diria que estava,
mesmo, dando uma bronca num dos adultos que estava responsável por um dos
dormitórios masculinos. Vi aquela cena, mas não quis interferir, só observei de
longe e, quando a pessoa que levava a bronca se dirigiu ao dormitório pelo qual
era responsável, é que minha esposa veio me contar o que estava acontecendo.
O marido da zeladora reclamara com a minha esposa que, até
aquela hora, ninguém tinha fechado o portão de entrada do local do encontro.
Ocorre que o marido não veio conversar, já chegou brigando e gerou aquele stress todo. A pessoa encarregada por um
dos dormitórios masculinos, que a minha esposa estava mandando subir para o quarto,
viu como o marido abordou a minha esposa e saiu em sua defesa, gerando uma
discussão desnecessária. Para não tumultuar o ambiente, minha esposa teve que
ser enérgica, mandando, com bastante veemência, que o nosso amigo subisse para
o quarto.
Toda essa situação era desnecessária porque, em todos os
encontros, sou eu quem fecha o portão, pois passo em cada um dos locais vendo
se não tem nada fora do lugar, observando se não tem nenhum jovem acordado,
fechando todas as portas, portões, recolhendo alguma coisa esquecida, enfim,
dando uma geral para, só então, me preparar para dormir. Faço assim porque
enquanto não estiverem todos deitados, não há a certeza de que ninguém mais vai
sair do local do encontro. Portanto, sou sempre o último a se deitar. Enquanto estiver
um de pé, não me deito. Da mesma forma,
sou o primeiro a acordar e a abrir o portão, pois, a partir das cinco da manhã,
já tem gente entrando para preparar o café da manhã ou entregar o pão.
Então, aquela discussão foi estressante e desnecessária.
Mas, não deixa de ser estranho ver a minha esposa, com todo aquele tamanho,
apartando a briga de dois homens, inclusive dando bronca naquele que estava
trabalhando no encontro, pois, segundo ela, não tinha problema outras pessoas
darem vexame, nós que estávamos trabalhando é que não o podíamos.
O detalhe hilário dessa história é que o homem que estava
trabalhando no INOVAR, tomando conta de um dos dormitórios, é um oficial da
Polícia Militar, que, no dia-a-dia, tem um bando de homens e mulheres batendo
continência para ele e, naquele episódio, estava ali na frente da minha esposa,
recebendo uma reprimenda por meio de uma bronca.
GAVETA 2 – Salva por uma dentista
Tem uma pessoa que é um amor de menina. Muito meiga e de uma
bondade ímpar. Muito tímida e uma profissional exemplar. Certo dia decidiu fazer o INOVAR, já que
começara a namorar um “inovarista” e tinha muitos amigos que também já tinham feito
o encontro. Assim, se inscreveu numa das edições. O seu namorado, por sua vez, naquele
mesmo evento, se ofereceu e foi escolhido para trabalhar na equipe da limpeza.
Essa equipe é uma daquelas em que os seus componentes passam o tempo todo
escondidos e só aparecem quase no final do encontro. Na sexta-feira, aquela
menina meiga, que era um dengo só, compareceu na hora marcada e começou a sua
participação, junto com outros sessenta e oito jovens.
No sábado, pela manhã, alguém me disse que aquela menina não
queria mais ficar e estava pedindo para ir embora do encontro. Confesso que
fiquei meio desesperado, pois, nas sete versões anteriores, ninguém tinha
pedido para sair na manhã do sábado. Sempre pediam no sábado à tarde, quando
batia o cansaço. Aquela menina estava pedindo para sair já no sábado, pela manhã.
Como sempre, cabia a mim conversar com os jovens que queriam
desistir do encontro, logo, eu tinha que conversar com aquela dengosa para
tentar demovê-la da ideia de desistir e tentar convencê-la a ficar até o final.
Nessas horas, a gente lança mão de todos os meios válidos para o convencimento.
Mas, aquela menina sabia o que queria e, naquele momento, ela queria era sair
do encontro e ir embora. A alegação era uma cirurgia que havia feito na boca
antes do encontro. Não sei por que, aquilo me soou como desculpa. A cirurgia
acontecera, realmente, mas se estivesse tão ruim assim, ela nem teria ido ao
encontro. Era possível que tivesse piorado? Claro. Mas eu não acreditei e achei
que era apenas uma desculpa. Para combater aquilo que achei ser apenas uma
desculpa, atuei em duas frentes, uma afetiva e outra técnica.
Como disse, o namorado dessa menina que queria nos abandonar
fazia parte da equipe de trabalho do encontro, apenas não podia aparecer, por enquanto.
Fui até o local em que ele se encontrava e o coloquei à par da situação e o
deixei de sobreaviso, pois se eu não conseguisse demover aquela menina da
ideia, ele seria acionado e apareceria, pelo menos para a namorada. Para isso,
pedi que ele ficasse na capela, que estava instalada ao lado do quarto em que a
namorada estava. Esse quarto era usado por nós como uma espécie de escritório e,
à noite, eu e minha esposa dávamos uma descansada, dormindo, ali, por algumas
horas. Levei aquela menina para esse quarto, para que ninguém visse toda a
operação que estava em curso. O namorado foi, então, para a capela, mas antes,
pegou uma folha de um caderno e fez um origami na forma de um pássaro e
escreveu uma frase nele. Entrei no quarto onde a menina estava e entreguei a
ela a dobradura. Ao ver aquela peça e ler a frase ali escrita, a menina deu uma
balançada, mas não vergou, ainda estava decidida a sair. A etapa da frente
afetiva foi deixada para depois, pois deixei a revelação de que o namorado dela
estava na área, guardada no bolso, para depois. Mas iniciei a abordagem
técnica.
Como a “desculpa” era a cirurgia odontológica que a menina
havia feito na boca e isso estava sendo apresentado como o motivo para ir
embora, sugeri então, que chamássemos ali um odontólogo para fazer um exame e
dar uma opinião sobre um possível risco de aquela menina ficar no encontro até
o domingo, à noite. A sugestão foi aceita e parti para trazer um profissional
da saúde para o encontro. A minha nora é odontóloga e, claro que ao sugerir
aquilo, estava contando com isso, mesmo sem consultá-la com antecedência.
Conversei com a minha nora e, de pronto, ela atendeu ao meu pedido, chegando o
mais rápido que pode, já que era um sábado, de manhã, e ela não estava
preparada para sair de casa, ainda mais deixando a minha netinha recém-nascida
com o pai. Ainda, com a eficiência de sempre, ela já passou numa farmácia para
levar algum medicamento que pudesse ser necessário.
A dentista chegou, examinou a cirurgia, constatou que o
ponto que havia sido dado na boca da menina estava normal e não haveria
problema de ela ficar por lá até o domingo, à noite. Deixou um medicamento para
combater uma possível dor e foi-se embora, com a recomendação de que se o
quadro piorasse, a menina deveria ir embora, fazer repouso e procurar o
profissional que executara o procedimento.
Depois daquela “consulta”, a menina aceitou ficar no
encontro e não precisamos lançar mão da apresentação antecipada do namorado
dela. Dali para a frente, aquele encontro não apresentou mais nenhuma
intercorrência e, ao final, aquela menina dengosa, veio me agradecer pelo
esforço que eu havia feito para que ela não saísse do encontro e estava muito
feliz, sobretudo depois que encontrou o namorado.
GAVETA 3 – A neta e seu avô
Eram duas irmãs tão diferentes que era impossível falar-se
que saíram do mesmo ventre e que foram criadas pelo mesmo avô. Mas estavam lá,
as duas, fazendo uma das edições do encontro. Uma dando trabalho e a outra
tranquila. A que dava trabalho, queria, porque queria, que deixássemos o avô
visitá-la, a qualquer hora do dia ou da noite. Claro que neguei tal pedido. A
dinâmica do encontro não permite isso.
Entretanto, chegou um momento em que o pleito da menina
ficou insuportável e já estava atrapalhando as minhas atividades durante o
encontro, tamanha era a insistência daquela menina manhosa na necessidade de
falar com o seu avô. A menina implorava, quase chorando, para que eu deixasse o
avô dela entrar no encontro para que ela pudesse conversar com ele pelo menos
um pouco. Essa garota era tão dengosa que até a maneira de falar era um poço de
manha. Perguntava se ela queria que a levássemos embora e a resposta era sempre
negativa.
Até então, não tinha envolvido a irmã da dengosa, mas fui
pedir ajuda a ela. Sua irmã me disse que ela tinha mesmo esse chamego com o
avô, que era sempre assim e que seria difícil convencê-la de não vê-lo. Diante
dessa informação, peguei o telefone, liguei para o avô, a fim de pedir para ele
vir buscá-la e para levá-la embora do encontro. Para mim, ele falou que não
iria buscá-la e que isso era só manha. Pediu, na sequência para falar com a
neta. Passei o telefone para a menina e eles conversaram um pouco. Quando me
foi devolvido o celular, perguntei o que seu avô havia dito e ela respondeu
quase chorando, com todo aquele dengo que eu tinha presenciado nas últimas
horas: “meu avô resolveu me abandonar e não vem me ver aqui”. Diante dessa
fala, lhe disse: “Então, a partir desse momento, só venha conversar comigo
sobre esse assunto se for para pedir para ir embora do encontro”. Deixei a
manhosa lá, o encontro terminou e, no final, ela me agradeceu por não tê-la
levado embora, pedindo desculpas pelo transtorno que causara.
POR QUE FICAR NESTA IGREJA?
Como dito, anteriormente, entrei para a Igreja Católica
quando tinha em torno de dezessete anos. Não diria que foi uma decisão com uma
consciência que seria a desejada, já que um ex-adolescente, de apenas dezessete
anos, sem estudo, que nunca havia frequentado, para valer, qualquer religião ou
Igreja, não tem condições de tomar uma decisão cem por cento consciente.
Entretanto, foi uma decisão de cunho próprio, diferente de quando se introduz
uma criança ao catolicismo, por meio do batismo, quando são os pais que decidem
pelos filhos e assumem, em nome deles, o seguimento dos princípios cristãos
ditados pela Igreja Católica.
QUANDO BATIZAR
Uma das grandes
celeumas existentes nos vários ramos do cristianismo é a questão da idade em
que o fiel pode ser batizado. A nossa Igreja batiza em qualquer idade, mas a
preferência recai sobre a infância e, aqui, reside a grande discussão sobre o
assunto. Os contrários à Igreja Católica alegam que batizar crianças contrapõe
a própria bíblia, já que até Jesus Cristo foi batizado com mais de trinta anos.
Essa teoria parte de uma premissa equivocada, pois o batismo de Jesus nada tem
a ver com o batismo que nós recebemos. O batismo entregue por João Batista a
Jesus foi um batismo de penitência, já o batismo entregue por um sacerdote a
uma pessoa é um batismo que apaga os pecados.
Mas, os
contrários alegam, também, que na bíblia não contém indicação nenhuma para
serem batizadas as crianças. Peguemos, a título de exemplo, Mateus 28,19 “ide,
pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo”. Fica claro que é para batizar a todos. Inclui crianças ou
somente os adultos? Todos, é todos.
Entretanto, se optarmos
por abandonar a abordagem teológica do tema, basta que o avaliemos pelo prisma
histórico. Ainda, assim, são encontrados na bíblia os motivos para que os
batizados fossem, em sua maioria, dirigidos aos adultos, embora a lógica
aconselhe a aceitar que também crianças eram batizadas.
Como se sabe, a
religião deixada por Cristo, que os apóstolos logo a nominaram de cristianismo,
nasceu como uma seita dentro do judaísmo, já que Jesus era judeu, assim como
toda a sua família. Na condição de seita, a ordem, naquele momento, era
conquistar o maior número possível de seguidores. Essa conquista de fiéis era
feita não só entre os judeus, mas também entre os pagãos. Isso fica bem claro
quando, é patente na bíblia, Paulo ficou encarregado de levar a mensagem aos
pagãos e gentios, enquanto Pedro ficou responsável por se relacionar com os
judeus. Assim, os apóstolos e discípulos saíram pelo mundo convertendo pessoas
à nova religião. Conversão feita, batizava-se o novo membro do cristianismo.
Por óbvio que o alvo preferencial para a conversão eram os adultos. Mas, é mais
ou menos lógico, também, o entendimento de que, após a conversão, o batismo era
oferecido para toda a família. Diante desse quadro, é natural supor que,
naquele momento, a maioria dos batizados acontecidos privilegiavam os adultos.
As crianças que eram batizadas, nessa época do cristianismo, o eram apenas em
função da conversão dos adultos da família.
O que mudou, de
lá até os dias de hoje? A Igreja Católica continua a batizar adultos? Ou só
batiza crianças? O que mudou, daqueles tempos até hoje, é que as crianças já
nascem em famílias católicas. É de se supor que o membro de uma família
católica seguirá o cristianismo por esta Igreja. Aliás, aos olhos da Igreja, é
inconcebível que uma família que segue seus preceitos não consiga transmitir
aos seus filhos a necessidade de seguir o catolicismo e, por esse prisma, se
torna indiferente batizar aquele fiel na infância ou quando adulto.
Por outro lado, é
de se considerar que as conversões continuam acontecendo. E quando isso
acontece, é normal que haja batizado da pessoa convertida, desde que esta
pessoa não tenha recebido um batismo aceito pela Igreja Católica como válido,
pois nossa igreja aceita o batismo de muitas denominações cristãs como se
batizados no catolicismo o fossem. Assim como muitas denominações cristãs
aceitam o batismo realizado na nossa igreja. Ou seja, nossa Igreja continua a
batizar adultos quando a situação exige, assim como no seu nascedouro a
situação exigia que a maioria dos batismos recaíssem sobre adultos. Entretanto,
isso não pode servir como argumento para se concordar com os não católicos que,
em sua maioria, criticam nossa Igreja por batizar as crianças ainda de colo.
Nessas condições eu, muito mais do que as pessoas
introduzidas na Igreja Católica na infância, tenho mais motivos para não
abandonar a Minha Igreja. Sei que a ninguém deve ser dada a opção de abandonar
o catolicismo, mas quem não tomou, de cunho próprio, a decisão de segui-la,
poderia ter a atitude explicada, embora sem jamais ser justificada.
Então, seria um contrassenso para alguém que adotou essa
Igreja já adulto, em um dado momento, entender que ela tem muitos problemas e,
por isso, deixar de segui-la. Mesmo em outras circunstâncias, também não é
aceitável que alguém abandone a nossa Igreja Católica. Não que ela não tenha
problemas. Ela os tem, e muitos. Entretanto, todas as igrejas têm lá os seus
problemas e, às vezes, muito mais graves do que os nossos. O que acontece é que
os problemas da nossa Igreja são potencializados, especialmente na imprensa,
por se tratar de uma das maiores igrejas do mundo e, naturalmente, por ser a
igreja original, a pedra sobre a qual Cristo propôs a edificação da fé. Para se
ter uma ideia, o censo de dois mil e dez indica que, no Brasil, somos quase
cento e vinte quatro milhões de fiéis, enquanto os chamados “evangélicos” são
um pouco mais de quarenta e dois milhões. Note-se que todos os católicos estão
sob a égide de uma única Igreja, enquanto os “evangélicos” estão espalhados por
um número tão grande de igrejas, que, devido a impossibilidade de serem
recenseadas, não existe um registro onde apareçam todas as denominações
“evangélicas” existentes no Brasil e no mundo. Isso faz com que a Igreja
católica seja a mais visada em qualquer assunto. Qualquer problema que
aconteça, por menor que seja, se torna grande porque o alvo é fácil de
encontrar. Nas outras denominações, mesmo que haja problema, o alvo é difícil e
a repercussão é mínima.
A par de tudo isso, ainda existe o fato de a Nossa Igreja
Católica ter um perfil conservador. Isso incomoda muita gente que é dada aos
modernismos. Mas, nossa Igreja tem mais de dois mil anos exatamente porque é
conservadora. Ou seja, às vezes até muda, mas não ao sabor dos ventos. As
mudanças ocorrem somente depois de muito estudo e com o embasamento suficiente
para que não seja necessário voltar atrás nas mudanças empreendidas.
Aliás, nos últimos séculos, a nossa igreja conheceu algumas
mudanças de peso que, de certa forma, atenderam aos anseios dos fiéis. Veja-se,
por exemplo, o II Concílio do Vaticano. Esse concílio foi um divisor de águas
na Igreja Católica nas questões de participação de leigos. Pois aproximou por
demais os fiéis das celebrações e dos serviços pastorais. Nas celebrações, a
maior revolução foi a de permitir que as missas fossem feitas nas línguas
nativas de cada país, ao invés de serem celebradas em latim, uma língua morta,
que, por mais que as grandes escolas a ensinassem, a grande maioria dos fiéis
não tinham noção do que se tratava. Com a permissão de utilizar-se a língua
local, isso foi encarado como quase uma obrigação e, hoje, quando se tem
notícia de que alguém celebra uma missa em latim, a estranheza é geral.
Mas, ao fim e ao cabo, o que se percebe é que as mudanças
que houve, nos últimos séculos, na nossa Igreja, na sua maioria não diz respeito
às questões de cunho teológico, mas sim administrativo. Hoje, se discute muito
sobre dois temas que muitas pessoas entendem que não coadunam com os tempos
modernos: o celibato e a ordenação exclusiva para homens. Uma mudança nesses
dois campos, apesar de ter um grande impacto na vida da Igreja Católica, nada
teria a ver com a doutrina. Logo, pode-se convocar um Concílio para decidir
sobre isso ou mesmo um Sínodo dos Bispos para discutir esses dois assuntos e
propor alterações nas normas, para que seja possível que os padres se casem e
que as ordenações sacerdotais possam ser dirigidas também às mulheres, sem que
isto sequer se avizinhe do conteúdo doutrinário.
Por outro lado, dois outros assuntos, que também tem
consumido muita tinta e muitos bytes na imprensa, é a questão do casamento
entre homossexuais e a possibilidade de um segundo casamento na Igreja. Esses
dois assuntos, sim, são rigorosamente questões doutrinárias. Nessas condições,
será muito difícil a Igreja aceitar um ou outro. Para que isso pudesse
acontecer, seria necessário que se fizesse uma interpretação da bíblia para
esses dois assuntos, diametralmente oposta à interpretação que foi feita até o
presente momento. Alguém vai ter a coragem de fazer isso? Me parece que não.
Vale dizer; quem imaginar que a nossa Igreja possa um dia promover o casamento
entre homossexuais ou aceitar celebrar um segundo casamento de pessoas que se
casaram validamente na Igreja, pode desistir de esperar, pois jamais
acontecerá. Isso é questão doutrinária e não se vê, ao longo da história, a
Igreja Católica proceder alterações na sua doutrina, salvo raríssimas exceções.
POR QUE SABER DOUTRINA DA IGREJA
Sempre achei
muito importante qualquer fiel conhecer a doutrina da igreja que segue. Aliás,
acho que as igrejas dão pouca ênfase a este assunto. A minha teoria é fácil de
entender. Eu sou católico, enquanto quase todos os membros da minha família,
mãe, irmãos, cunhados, sobrinhos, são protestantes, da Assembleia de Deus. Eu
sou cristão, eles também o são. A bíblia dá sustentação à minha Igreja,
especialmente o Novo Testamento. À deles também. Eu sigo os evangelhos. Eles
também. Então, o que me diferencia deles em questões religiosas? Exatamente a
doutrina que eu sigo e a doutrina que eles seguem. Essas, sim, são diferentes,
senão não seria outra Igreja. Daí, a importância de conhecermos melhor a
doutrina da nossa Igreja. Visto assim, fica muito fácil chegar-se à conclusão
do que vem a ser doutrina. Doutrina é, em última análise, a maneira como a
minha Igreja interpreta os evangelhos.
Então, esse dito conservadorismo da Igreja Católica tem-se
mostrado salutar para a instituição, mas tem sido também fonte de muitas críticas
que sofremos. Entretanto, o conservadorismo é o menor dos problemas da nossa
Igreja. Aliás, visto por certo prisma, é esse conservadorismo que impede a
nossa Igreja de ter ainda mais problemas. Se a Igreja tivesse sucumbido aos
modismos, muito provavelmente já teria sido tornada démodé, algo ultrapassado e gasto com o tempo. Não se submeter ao
modismo fez com que jamais ficasse ultrapassada, resultando em crescimento,
durante esses vinte séculos, sendo que, a cada dia, se consolida, ainda mais,
como a verdadeira Igreja deixada por Cristo.
Entretanto, apesar deste crescimento e desta consolidação,
nossa Igreja enfrenta problemas profundos, que mais tem a ver com a forma como
é administrada, do que com conteúdo, que se refere à doutrina, aquela deixada
por Jesus Cristo. Uma questão que vem perturbando sobremaneira a vida da nossa
Igreja, diz respeito aos padres pedófilos. Nem Roma, nem as organizações
episcopais dos países, nem as circunscrições (dioceses, arquidioceses e demais
prelazias) conseguem tratar o problema de forma a que se resolva em definitivo.
Menciono a questão de pedofilia porque, dentre os vários problemas envolvendo
as atividades sexuais dos padres, há que se considerar que a pedofilia é crime
na maioria dos países, inclusive no Brasil, independente do perfil ou do status
social do pedófilo.
Pois bem, esse problema que pulula aos montes, pelo mundo afora,
nas hostes da nossa Igreja, e que, no caso do Brasil, como se disse, é crime
previsto em vários dispositivos do Código Penal e do ECA, não conhece uma
solução que satisfaça as demandas atuais. A impressão que sempre se tem é que
esses desvios criminosos dos padres só são punidos quando chegam às barras da
justiça. Não se vê uma ação efetiva da administração da Igreja para tentar
erradicar essa prática. Não muito raro, ouve-se, aqui e ali, que determinado
padre foi transferido de paróquia porque se soube que as suas práticas sexuais
eram pouco ortodoxas. O que isso quer dizer, nunca nos contam, mas já soube de
casos bem próximos de mim, de sacerdotes que deixaram os seus serviços
paroquiais, meio que na calada da noite, e, até hoje, ninguém sabe porque isso
aconteceu.
Isso, aos olhos das pessoas, soa como uma espécie de proteção
que a Igreja oferece aos seus membros, mesmo que essa proteção seja para alguém
que cometeu o crime de pedofilia, por exemplo. Essa postura, no âmbito secular,
chama-se corporativismo e, por óbvio, não se espera isso por parte da Igreja. O
que todos esperam é que, ao descobrir qualquer falha dessa magnitude, a Igreja
facilite a vida da justiça, e, se necessário, denuncie, para que a punição
aconteça. Deixando de agir desta forma, a Igreja assume a culpa da prática
indesejada do padre e denigre, ainda mais, a imagem da religião que a gente
segue. Ou seja, a Igreja age como se a culpa fosse dela pelos eventuais desvios
de caráter dos seus membros, o que, em absoluto, não o é.
Então, idealmente, a Igreja deveria tomar atitudes no
sentido de expurgar os criminosos de seus quadros, entregando-os à justiça e
isso desencorajaria outros a agirem da mesma forma. Em não agindo desta forma,
a Igreja se expõe a críticas desnecessárias, pois se os criminosos fossem
denunciados pela própria Igreja, jamais ela seria criticada como conivente. Até
poderia ser criticada por ter em seus quadros pessoas perturbadas, doentes ou
criminosas, mas, em contrapartida, ficaria claro e, por isso seria elogiada,
que não compactua com isso. Em sã consciência, não se pode dizer que a Igreja
compactua com isso, mas as suas ações, ou a falta delas, dão margem a esta
interpretação.
Nossa Igreja também é muito criticada pelo comportamento
sexual não criminoso de seus padres. Falo, assim, porque se critica muito o
fato de alguns padres manterem relacionamentos sexuais com pessoas adultas,
homens ou mulheres, que, a princípio, não configura crime, pois não existe,
pelo menos no Brasil, a tipificação de crime pela prática de sexo consensual entre
adultos. Logicamente que ninguém ignora que isso existe, e aos montes, assim
como ninguém ignora que isso não é certo e, mais do que isso, aos olhos da
Igreja, é pecado. Pode-se, então, perguntar: por que, se realmente é pecado,
muitos padres continuam com a prática? A resposta a esta pergunta é de uma
simplicidade assustadora. Também pela doutrina da Igreja Católica, o adultério
é pecado e todas as pessoas que celebram o sacramento do matrimônio assumem o compromisso
de serem fiéis uns aos outros, sob pena de estarem cometendo pecado. Mesmo
assim, o número de pessoas casadas que cometem o adultério é absurdamente
grande. Mutatis mutandis quando o
padre recebe o sacramento da ordem assume o compromisso de ser fiel à Igreja e
o celibato faz parte das promessas que o ordenado faz ao receber este
sacramento. Vários são os motivos que a Igreja tem para exigir esse voto dos
padres, mas o fato é que eles recebem o sacramento sabendo que o celibato lhes
impõe uma vida de abstinência sexual e, como foi uma promessa feita durante a
ordenação, a desobediência a isso passa a ter o caráter de pecado, pois, aos
olhos da Igreja, a esposa do sacerdote é a própria Igreja e ao praticar sexo
com qualquer pessoa, o padre está cometendo o mesmo adultério que um cônjuge
comete quando pratica sexo fora do casamento. Isso, não resta dúvida, é pecado.
Então, embora seja uma prática abjeta, qualquer padre que pratica sexo não
criminoso está cometendo o mesmo adultério que os casais que “pulam a cerca”.
Isso alivia a situação deles? Lógico que não. A Igreja deveria coibir isso
também? Claro. Coíbe? Sim, e não. Coíbe quando tem uma nítida orientação
indicando que não aceita esta prática. Mas, não coíbe à medida em que, ao
descobrir casos de padres que não conseguem se abster de sexo, ao invés de
puni-los, os transfere para outras paróquias, ou para outras funções. Raros são
os casos em que a Igreja toma decisão mais drástica contra o padre que errou. Isso
só acontece, normalmente, quando o caso se torna público. Naqueles casos em que
a Igreja descobre antes de vir a público, via de regra a solução é transferir o
Padre. Em alguns casos, a justificativa para a transferência passa até a ser o
Direito Canônico, já que este define que a transferência de um padre deve
ocorrer a cada seis anos e, como boa parte dessas práticas é de padres que
estão há mais tempo na paróquia, usa-se isto como pano de fundo para a
transferência, por conduta imprópria.
Entretanto, é necessário que não se culpe a Igreja por
admitir em seus quadros pessoas com os mais variados distúrbios. É quase
impossível de se evitar, sobretudo porque muitos desses distúrbios são
adquiridos com o tempo. A questão de fundo é a honestidade dos seus membros.
Isso acontece em qualquer organização que agrega pessoas que atuam em
determinado ramo, seja sindicato, conselho, associação, sempre são encontrados
membros que não seguem as orientações dos seus Conselhos de Ética. Por que
seria diferente na Igreja? Então, o problema não é com as organizações, mas sim
com os desonestos que insistem em pertencer à categoria. Isso não quer dizer
que esses organismos não precisam tomar medidas para tentar coibir que
desonestos pertençam às suas fileiras. Ao contrário, é muito salutar que esses
órgãos tomem medidas neste sentido. Conseguir sucesso já é outra história.
OS SACRÍFICIOS DE CADA SACRAMENTO
Um dos grandes
padres que me acompanharam por essa vida, certa feita me disse, textualmente: “padre
é complicado. É alguém que não consegue amar verdadeiramente as pessoas, não
consegue fazer amizades e vive muito isolado”. Fiquei com essas palavras duras
na cabeça porque isso foi dito por alguém que tenho como um dos maiores
exemplos de doação ao povo com quem tive a oportunidade de conviver. Tentei
elaborar um pouco mais esse pensamento e cheguei a algumas conclusões.
Pela própria
dinâmica de formação dos religiosos, eles são apartados, desde muito cedo, dos
seus familiares. Normalmente, os seminários são em cidades diferentes de onde
mora a família do vocacionado. Essas crianças e adolescentes, então, que aderem
à preparação para viver uma vida religiosa, não muito raso, visitam a família
apenas nos períodos de férias, um ou dois por ano. Isso, de partida, leva ao
aspirante a padre, ou a freira, a perder aquele vínculo de convivência com a
família. Depois de alguns anos no seminário, a família vira apenas uma
referência, em um processo parecido com quem se casa e vai morar longe da
família. Talvez, seja demais dizer que os seminaristas deixam de amar os seus
pais e os seus irmãos. Entretanto, é forçoso reconhecer que essa separação faz
esfriar o afeto existente entre os membros da família, o que é construído com a
convivência diária, onde a luta de cada um é acompanhada par i passu por todos os membros e isso vai criando uma união muito
forte.
Portanto, é
razoável supor que os padres, ao final da sua formação, estejam quase que
totalmente desvinculados afetivamente dos seus familiares. Se isso leva à falta
de amor, não é possível afirmar.
Quando uma pessoa
deixa a sua família, na maioria das vezes, é para se unir a outra pelo resto da
vida e, praticamente, substitui uma ligação por outra. No caso dos aspirantes a
padre, ou a freira, esse afastamento é para conviver com pessoas desconhecidas
e, quando corre tudo bem, forma uma turma que segue por algum tempo, até
completarem um ciclo de estudos: fundamental, médio e superior. Para cada ciclo
desses, é muito comum trocarem de turma e formarem outra. Isso leva a uma total
ausência de vínculo afetivo entre as amizades que se formavam. Quando são
ordenados, normalmente, são mandados para lugares os mais longínquos possíveis,
para lugares inóspitos, onde o recém ordenado não conhece, sequer, a natureza
daquela população.
Esse constante
deslocamento daqui para lá e de lá para cá, faz com que o padre, ou freira, ao
ser ordenado não tenha qualquer vínculo afetivo com as pessoas. Talvez isso
explique muita coisa do que a gente vê acontecer.
Talvez explique,
também, a frase dita pelo padre no início deste parágrafo: “os padres não sabem
amar”.
Mas, voltando ao
título, existem dois sacramentos na Igreja Católica que, ao homem, é dado recebê-los:
a ordem e o matrimônio, sendo que este último, também às mulheres é
disponibilizado. Ambos envolvem sacrifício e isso é cristalino para quem opta
por um ou por outro, não se justificando, portanto, a desobediência por quem
deveria viver com fidelidade o sacramento recebido.
Quando um homem
recebe, junto com a esposa, o sacramento do matrimônio, traz para si a
obrigação de nunca mais pensar somente ou primeiramente nele. Ao contrário,
deve pensar, primeiro, na esposa, para, depois, pensar nele. Ao nascerem os
filhos, deve pensar, primeiro, na esposa e nos filhos, para, depois, pensar
nele. Isso, por óbvio, traz muitos sacrifícios para o marido. Faz parte,
portanto, do compromisso que o marido assumiu, o sacrifício que terá que
enfrentar para viver da forma que Deus espera, a plenitude do sacramento do
matrimônio. Vale a pena ressaltar que não é somente sacrifício o que o
matrimônio proporciona. Se colocarmos numa balança, num matrimônio saudável, a
felicidade pesará sempre muito mais que os sacrifícios.
Quando um homem
recebe o sacramento da ordem, atrai para si uma gama grande de sacrifícios que
lhe são exigidos. São sacrifícios tão grandes quanto aqueles vividos pelos
casados, embora com características diferentes. Além de todas as barreiras,
ainda tem um ingrediente a mais, que é a questão sexual. Lógico que essa
questão é mais relevante e importante para os padres que querem viver
honestamente o seu sacramento. Para esses, então, é um problema que tem que ser
resolvido diariamente, já que não praticar sexo, para uma pessoa saudável, é
contrário à natureza. Acredito que, mesmo para aqueles padres que não levam
muito a sério o celibato, essa questão lhes perturbe, também, pois eles têm
consciência de que fizeram a promessa ao receber o sacramento.
Mas os
sacrifícios vão muito além das questões sexuais. Lembro-me de que, na minha
adolescência, fui ao encontro de um padre que nos assistia e o encontrei bastante
emocionado, com um telegrama na mão, cuja mensagem dava conta que a sua mãe
havia sido sepultada na Itália. Isso dá uma noção do quanto um padre pode
sofrer quando se coloca totalmente à disposição do serviço da Igreja. Não pode
se fixar em lugar nenhum, pois, o próprio Direito Canônico fixa em,
no máximo, seis anos a permanência
dos padres em cada paróquia. Esse constante deslocamento faz com que os padres
não consigam nem mesmo firmar uma amizade, o que pode ser bom para a estrutura
da Igreja, mas para o sacerdote é muito ruim, pois não lhe é permitido formar
qualquer laço mais forte. Com os familiares, o pai, a mãe e os irmãos, já foi
perdido, como vimos antes. Com outras pessoas, não se pode dizer que não seja permitido,
mas é tolhido pelo sacerdócio.
Isso, no limite, leva a gente a entender
aquilo que disse aquele padre, quando vociferou: “padre é complicado e não
consegue amar as pessoas”.
A desonestidade de algumas das pessoas que administram a nossa
Igreja não se restringe às questões relacionadas ao comportamento sexual dos
padres. Certa feita, conversando com um membro da nossa Igreja, que já exerceu
funções muito importantes em sua hierarquia, ouvi a seguinte frase: “amigos
meus não entendem porque depois de tanto tempo eu continuo pobre”. Pelo
contexto em que esta frase foi dita, a lógica me permitiu deduzir que o meu
interlocutor era uma exceção, ou seja, a regra é que existe acúmulo de capital
por parte das pessoas que fizeram tal crítica.
O voto de pobreza, apesar de ser exigido por algumas ordens
religiosas, não é obrigatório para a pessoa que pretende ser ordenada, sendo
opcional fazer-se tal voto ao se tornar padre. Então, tem-se que, para quem fez
o voto de pobreza, é “proibido” acumular bens pessoais e, para quem não o fez,
é aconselhável não possuir bens pessoais, embora não “proibido”. Mas o que se
vê são muitos padres acumulando patrimônios incompatíveis com o rendimento que
auferem. Os padres recebem o que é chamado de côngrua, que é definida, numa
famosa enciclopédia da internet, da seguinte forma: “Designa-se côngrua
paroquial a tradição cristã paroquial e dever moral e religioso do crente
contribuir financeiramente para a honesta e digna sustentação do seu pároco (o
mesmo que presbítero). Estando ele todos os dias e todas as horas ao serviço da
paróquia, ministrando os sacramentos e o ensino religioso, os paroquianos têm
de contribuir para que ele possa servir em disponibilidade total”.
Essa contribuição, depende muito de cada diocese, mas, de
início, é comum os padres receberem algo em torno de dois salários mínimos,
podendo ir aumentando com o passar do tempo da “prestação de serviços”. Embora
a côngrua seja apenas para as despesas pessoais, já que despesas com
alimentação e alojamento é de responsabilidade das paróquias, o montante
recebido pelos padres é pequeno, não sendo o suficiente para tornar possível o
acúmulo de patrimônio. Claro que, não raro, muitos padres e bispos, exercem
outras funções na sociedade, como professores, por exemplo, que, em tese, o
ganho pode ser utilizado para acumular patrimônio, mas isso é a exceção e não a
regra.
Vimos, aqui, como foi fácil listar alguns problemas que
temos na nossa Igreja. E, com certeza, não são só esses. Encontramos muitos
outros problemas. Mas, isto jamais pode ser motivo para que a abandonemos,
pois, ao abandoná-la, estaremos abandonando a Igreja deixada pelo próprio Cristo.
Ao contrário, devemos tomar consciência de todos os problemas da nossa Igreja,
para que possamos enfrentá-los e tentar saná-los, já que, naquilo que podemos,
devemos lutar para melhorar, e, naquilo que não podemos, devemos confiar que o
poder das nossas orações, a seu tempo, resolverá. Até porque as outras Igrejas,
também, têm lá os seus problemas e, não raro, muito maiores do que os problemas
que enfrentamos na Igreja Católica. Os meios de comunicação não cansam de
denunciar pastores e bispos de outras denominações com práticas muito mais
heterodoxas do que as dos nossos padres e bispos.
Para as pessoas que possam se sentir tentadas a deixar a
Igreja Católica por causa dos problemas existentes na sua estrutura, talvez seja
o caso de decidir por não se fixar nos problemas, mas sim nas soluções que a
nossa Igreja apresenta. É uma teoria que eu criei para poder conviver com
certas coisas que me atormentam. Eu a chamei de Teoria da Irrelevância do Dano.
Todos os problemas que a nossa Igreja enfrenta sempre ocorrem em consequência
dos erros humanos, na porção pecadora da nossa religião. Então, considerando
que Deus criou o ser humano falível e os erros cometidos pelos homens são muito
insignificantes diante da grandeza de Deus, a irrelevância do dano torna-se
patente, ou seja, o dano causado por esses problemas todos, que são criados
para a nossa Igreja, é irrelevante para a minha fé. Resumindo, é mais ou menos
o seguinte: esqueça a administração da nossa Igreja e seja cristão, pois é isso
que Cristo espera de nós.
Então, a resposta à pergunta que deu nome a este capítulo,
apesar de lógica, não é tão simples. A primeira consideração é que os problemas
apontados na nossa Igreja, não sãos exclusivos dos católicos. Se algum fiel, de
outra Igreja qualquer, que tiver a isenção necessária para reconhecer os erros
de sua religião, quiser, relatará tantos problemas quanto eu relato, aqui. Isso
tudo porque, assim como a nossa Igreja, como se disse acima, é santa e
pecadora, todas as demais também o são. Algumas têm alguma característica
dessas que sobressai mais do que a outra, mas, no fundo, todas têm essas
características. Mesmo nessas seitas, que surgem aos borbotões, não se pode conceber
que elas surjam apenas com intenções espúrias. É razoável aceitar que surgem
com intenções nobres. Entretanto, o fato de serem administradas pelo homem, as
fazem pecadoras, para contrapor à boa intenção com que foram criadas. Portanto,
abandonar a nossa Igreja Católica em função dos erros que ela apresenta, chega
a ser até ilógico, já que estar-se-ia deixando uma Igreja, onde você conhece
todos os problemas que existem, e migrando para outra que você não tem sequer a
menor noção de quais problemas tem, pois, a única certeza que se levará para a
nova igreja é de, também, lá há problemas estruturais. A grande diferença entre
os problemas de lá e os daqui, é que os de lá eu não conheço.
Outra consideração que deve ser feita para responder à
questão proposta no título deste segmento, é o aspecto que diz respeito à
posse. Sempre que se pronuncia a palavra igreja, não muito raro, o que vem à
mente é aquele templo, muitas vezes pomposo, que é utilizado para os encontros
semanais. Nada há de mais equivocado do que isso. Aqueles templos que, ao longo
do tempo passaram a ser tão majestosos que, às vezes, me pergunto o que Jesus
Cristo diria se entrasse num deles, são apenas os locais onde determinados
grupos de fiéis escolhem para exercitar uma parte da sua fé, que é o encontro
para partilhar com seus pares a palavra de Deus e, em algumas religiões, comungar
o corpo de Cristo. Mas Igreja não é nada material. A verdadeira Igreja, nasceu
sem templos e pode, naturalmente, viver sem eles. Não é que não seja confortável
frequentar um templo com ar-condicionado, bancos e genuflexório almofadados.
Mas a Igreja não é isso. Aliás, se atentarmos para a etimologia da palavra
Igreja, constataremos que o significado é diametralmente oposto à ideia de
templo, pois, ao construir um prédio com fins religiosos, onde as pessoas se
encontram para exercer uma porção da sua religião, o que se faz é levar as
pessoas para dentro dessas suntuosidades a que chamamos de templos. Mas a
origem da palavra Igreja remete ao vocábulo grego ekklesia, que é
composto de dois radicais: ek, que significa para fora, e klesia,
que significa chamados, ou seja; a palavra Igreja significa, literalmente,
“chamado para fora”. Igreja, então, é o povo de Deus reunido.
Desta reflexão sobre Igreja, somos levados, obrigatoriamente,
a uma segunda reflexão necessária: quem é e quem possui a Igreja? As respostas para
essas duas perguntinhas é apenas uma palavra: eu. Isso mesmo, para a pergunta
quem é a Igreja? A resposta é: eu. Eu sou a Igreja e sem mim ela não vive e não
existirá. À segunda pergunta: quem possui a Igreja? a resposta é: eu. A igreja
me pertence, então, eu, além de ser a Igreja, também a possuo.
Diante disso, então, se a Igreja sou eu e a Igreja é minha,
qual a finalidade de eu pensar em sair desta Igreja? Estaria eu deixando a mim
mesmo? Estaria eu abandonando uma obra tão arduamente erigida por mim e por
meus ancestrais, para que eu, meus filhos e meus descendentes possamos
congregar com nossos pares religiosos? Pois, creiam, acontecerá exatamente isso
se eu pensar em sair da nossa Igreja Católica; estarei abandonando a mim mesmo
e deixando de lado a “minha” Igreja e não a Igreja dos “outros”. Vale dizer,
sair da nossa Igreja por problemas criados por outras pessoas é dar muita
importância para pessoas, que talvez não tenha tanta importância assim, em
detrimento daquilo que realmente interessa, que é a importância que eu tenho
nessa história toda.
Resumindo, não existem argumentos capazes de justificar a
decisão de um católico por abandonar a sua Igreja. Se o fiel católico tomar
esta decisão, com certeza será por motivos irrelevantes. Aqui, talvez,
devêssemos rever o que disse o Papa Bento XVI, logo após sua eleição: "A
Igreja não perdeu nenhum fiel. Aqueles que se foram, nunca foram fiéis
católicos realmente. Não se pode perder o que nunca se teve. Os que deixaram a
Igreja eram indecisos, curiosos ou pessoas que estavam apenas ‘cumprindo uma
obrigação’ passada por seus pais ou por seus avós. Os que vêm e vão não
pertencem ao Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja na Terra. Da mesma maneira,
os que são católicos, mas ainda não estão na Igreja, infalivelmente chegarão ou
retornarão a ela no devido tempo. A Igreja, Casa e Família de Deus, surgiu como
um pequeno grupo; não importa a quantidade, e sim a qualidade dos seus filhos,
como cristãos conscientes e santificados"
POR ÚLTIMO
Procurei, nesse livro, enfrentar alguns temas que considero
bastante espinhosos, seja na nossa paróquia ou na nossa Igreja. O objetivo da
abordagem é modestamente colaborar para iniciar uma discussão franca e aberta
que possa ser uma fresta de esperança para que as coisas comecem a acontecer,
do jeito que o Papa Francisco quer, uma Igreja onde a misericórdia seja o
trilho a nos guiar de modo a sempre sermos dirigidos pelos rumos certos, do
jeito que Cristo imaginou, uma Igreja verdadeira, onde a simplicidade fosse o
carro chefe para conduzir a caravana em direção ao céu.
Não sei o efeito que esse trabalho vai ter nas pessoas que
tiverem acesso a ele. Especialmente as pessoas envolvidas nesse desafio que
estamos enfrentando há dez anos. Sei, porém, que, às vezes, fui muito duro com
algumas pessoas, mas, se a gente se propôs a iniciar uma conversa franca e
aberta sobre os problemas existentes, achei por bem não dourar a pílula e fazer
as observações que entendi serem pertinentes.
Já pedi desculpas antecipadas por tudo o que ia dizer e,
agora, peço desculpas postecipadas por tudo o que disse e, espero,
sinceramente, que as pessoas que se identificaram nos fatos narrados e que possam
ter se sentido afrontadas, me perdoem pela narrativa, mas, reafirmo, foi
necessário narrar com a maior fidelidade possível tudo o que aconteceu. Tomei todo
o cuidado para não deixar nenhuma palavra que pudesse ofender alguém. Mas, no
tocante a sentir-se ofendido, sabemos todos, depende pouco de quem emite a
mensagem, e, quase sempre, muito mais de quem a recebe.
Durante o livro todo, evitei dar nome às pessoas que se
envolveram nos fatos narrados. Mas, neste momento, é necessário abrir uma
exceção a essa regra para fazer os agradecimentos necessários, pois, como já se
disse por aí, sozinho seria impossível implantar o INOVAR na nossa Paróquia.
Por isso, quero agradecer nominalmente as pessoas que se juntaram a mim e à
minha esposa nessa empreitada. Vou colocar os nomes por ordem alfabética,
porque qualquer ordem diferente dessa poderia dar a ideia de preferência ou
importância para a implantação do projeto e, creiam todos, não existe uma
pessoa, dessas que serão citadas a seguir, que tenha menos importância do que
outra na missão.
Então, os jovens que fizeram parte do início disso tudo que
aconteceu, juntando aquele grupo que, de imediato, abraçou a causa, com aquele
grupo, que aderiu para a realização do primeiro encontro, temos os seguintes: Aline
Ferreira da Costa Nery, André Ricardo Gomes, Camila da Silva Botelho, Charles
Deivide Chagas Lima, Ítalo Vinicius Ferreira da Cruz, Jones Augusto Lopes da
Cruz, Marcus Vinicius da Rocha Gouveia Cardoso, Mariana de Mattos Ferrari,
Marta se Sousa Matos, Paulo Saldanha de Azevedo Filho, Raymare Sodré Costa, Renan
Gomes de Lima, Rodrigo Policante Martins, Sâmia Tolentino Ferreira, Samir
Anderson Tolentino Ferreira, Thiago de Jesus Marques e Vânia Rodrigues
Ferreira.
A esses dezessete jovens que enfrentaram o desafio que lhes
foi colocado, creio que não existirá nada mais reconfortante do que saber que
fizeram a diferença na vida de muitos jovens e famílias da nossa paróquia, de
nossa cidade, de nosso estado. Um dia, quando alguém estiver realizando a
versão cem do INOVAR, irá agradecer a esses heróis que abraçaram a ideia e,
mesmo sem saber exatamente do que se tratava, cada um pegou a sua ferramenta e
se apresentou a Deus como um instrumento para evangelizar jovens. Deus tem
tocado o coração de muitos jovens desde aquele ano em que vocês optaram por
sair da zona de conforto e escrever a própria história, como protagonistas dela,
jamais como coadjuvantes.
POST SCRIPTUM
Quando me casei morava na maior cidade do Brasil e por aquele
tempo tinha uma inquietação muito maior do que a que tenho hoje. Para dar vazão
a toda essa inquietude, fui acolhido em um grupo de literatura e cultura. Era
um grupo de pessoas que se reunia para discutir um pouco sobre poesia e outras
manifestações culturais. O grupo do qual participava recebeu o nome pomposo de
Grupo Lítero-Cultural TRAVESSIA, que tinha, dentre tantas funções, ajudar seus
membros a editar os livros que produziam. Nesse contexto foram publicados
alguns livros e aproveitávamos os lançamentos para realizar eventos de poesias
e músicas em alguns pontos daquela grande cidade.
Quem comandava esse grupo era um jovem destemido e abusado
que se lançava em projetos inacreditáveis. Jamais vi aquele jovem sentir receio
de alguma coisa. Sob o comando dele o nosso grupo conseguiu se apresentar em
lugares inimagináveis. Lembro-me de uma dessas apresentações feita em um espaço
de uma recém-inaugurada estação de metrô que, não sei como, aquele jovem
conseguiu fosse disponibilizada para nosso grupo.
A vida rodou, aquele jovem que comandava o grupo acabou indo
para o interior do Estado, eu terminei por voltar para o Estado que morava
antes e nunca mais nos encontramos. Mas, com as redes sociais, ninguém mais
fica escondido por muito tempo e, há uns dois anos, reatamos o contato.
Nos últimos dias, sempre por redes sociais, nosso contato se
tornou mais intenso, a ponto de trocarmos solicitações para que pudéssemos ler
o último trabalho um do outro. Ele me mandou um romance que acabara de
escrever, para que eu pudesse dar uma lida e emitir minha opinião. Li aquele
trabalho de uma forma alucinante, pois não era possível parar de lê-lo. Um
trabalho perfeito que não merecia, na minha opinião, nenhum reparo. Mas, em
todo caso, fiz algum comentário sobre um ou outro personagem, uma ou outra
cena. Sugeri, despretensiosamente um final diferente. Ele, para me agradar,
alterou o final e disse que fez isso por causa da minha sugestão. Qual nada, o
final ficou tão maravilhoso que ele já tinha escrito antes do meu pitaco.
Aproveitei a deixa e enviei os alfarrábios desse livro para
que ele pudesse dar uma lida e emitir sua opinião. Nunca tomei uma decisão tão
acertada na vida. Aquele jovem, que já não é tão novo assim, mas continua
jovem, fez muito mais que dar uma opinião sobre o meu livro. Ele copidescou meus
rabiscos. Com isso o texto ganhou uma dinâmica melhor. Não bastasse isso, ele
elaborou o prefácio de forma tão fantástica que fico perguntando a Deus se mereço
tanto. Obrigado Carlos Dignez Aguilera. Deus lhe pague.
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